sexta-feira, 14 de março de 2008

Édipo


Uma resenha da peça "Édipo rei", escrita por Sófocles (497 a.C.)


Sófocles, autor clássico da Grécia antiga, ilustra nesta obra o medo, o ódio e o espanto do homem diante do avassalador destino que o acompanha. Édipo, príncipe de Corinto, é filho ilegítimo do rei Políbios. Ao descobrir que não possui laços biológicos com seu pai, ele se perturba e procura o oráculo de Píton (conhecido como Delfos). O oráculo lhe revela o triste destino que lhe aguarda: será ele o responsável pelo assassinato de seu pai e depois desposará sua legítima mãe.
Estupefato com a revelação do oráculo sobre seu trágico destino, Édipo foge de Corinto para Tebas. Em uma encruzilhada ele se depara com uma carruagem. À frente se aproxima um arauto que rudemente o empurra com o objetivo de afastá-lo fora da estrada; a atitude do arauto irrita profundamente Édipo, e com tamanha iracunda mata o arauto e a todos que estavam na carruagem, dentre eles seu pai Laios, rei de Tebas.

Édipo acabara de abraçar o inevitável destino. No passado, o rei Laios fora advertido por Apolo que seu próprio filho iria matá-lo e tomar seu reino. Diante da advertência, ele mandou atar e depois perfurar os pés da criança com um prego e abandoná-la no monte Citéron, porém um pastor a encontrou e, socorrendo-a, levou ao rei Políbios que a adotou. Quando decifrou o enigma da Esfinge (monstro que devorava os cidadãos de Tebas), torna-se rei desta cidade e, conseqüentemente, toma por esposa a bela viúva de Laios, sua verdadeira mãe, Jocasta.

Agora ele é rei de Tebas, adorado e respeitado por todos. Porém uma peste chega à referida cidade, e o rei quer saber o porquê da fúria dos deuses, consultando Tirésias para tomar conhecimento do responsável e bani-lo da cidade. Édipo descobre ser ele o próprio responsável, toma ciência de toda verdade que assombra seu passado ao descobrir que casou com sua própria mãe e fora ele o assassino de seu pai. Tamanha desgraça lhe traspassa o coração e a alma, e ele aplica a si mesmo sua punição furando os olhos com um broche do vestido de Jocasta. Neste gesto ele revela o desejo de não ver a infelicidade que lhe rodeava.

Édipo foge da cidade, quer distância do palácio, do reino e de tudo que lhe relembre o motivo de tamanha dor, desespera-se diante das lembranças e da culpa que carrega em sua consciência. Ele necessita se exilar, deseja fugir da realidade. Agora ele está morrendo por dentro e perambula pela vida.

O ato de furar os olhos é o retorno do olhar para dentro de si mesmo, o anseio de Édipo em redescobrir seu caminho e não se deixar enganar pelo exterior que é apurado apenas pelos sentidos. Pela dor ele descobre-se e mergulha em si mesmo.

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