domingo, 16 de março de 2008

Filósofos e Terapeutas

Uma resenha da introdução do livro "Filósofos e Terapeutas"

O professor e doutor Daniel Omar Perez apresenta nesta obra, a história da terapia no Ocidente nos apresenta 2500 anos de busca por uma medicina do corpo e da alma que não cessou. O propósito dos primeiros pensadores gregos na tentativa de se recriar como figuras singulares, como metáforas de modo de vida, de expressões, de conceitos ou energias que se realizavam através de exercícios, gestos, costumes, discursos, maneiras de se posicionar, formas de sentir prazer, gozo ou necessidade. É neste encontro com os exemplos que não são modelos, senão exceções, que não são sínteses, senão que surgiram do irremediável, que aqueles primeiros pensadores se transformaram em terapeutas de si mesmos.

Estes tiveram que experimentar seus próprios antídotos, talvez como veneno, em doses regulares, ou seja, correr o risco na própria pele. Foram desbravadores do infinito enigma do ser, iniciaram na radicalidade da medicina, arriscando um mergulho profundo no intuito de desvendar o ser e ousadamente tentar curá-lo. Tamanha pretensão diante do homem, um ser incurável que sofre de um mal que é a sua grandeza, que não está blindado mas aberto à totalidade do universo que ele pertence.

Eles usavam algumas reariantes que desenhavam o aceno do matemático, a luminosidade do artista, a leveza do santo, a inevitabilidade do guerreiro, o masculino, o feminino, o neutro, o transfigurado, o multifaceto, o profano, o perverso e o sagrado. Seu valor estava em suas próprias inspirações, esta que caminha unida às marcas da diferença.

A obra se destaca em apontar os diversos registros de uso das mais variadas medicinas contra a depressão, angústia, impotência, a busca do prazer, a felicidade, o autocontrole, enfim, para evitar todas as formas da dor ou ajudar a suportar o sofrimento de sua finitude. Esta busca medicinal dos antigos se assemelha em parte com o homem contemporâneo, que não deseja sentir dor, sofrer ou se angustiar, quer adiar e até evitar a morte, esta que é inevitável. Estamos no tempo do ideal, o homem perfeito aos padrões globais, uma imagem que lhe escraviza provocando uma corrida desenfreada ao perfeccionismo e ao idealismo humano.

O filósofo já foi revolucionário como Sartre, contemplativo como Agostinho, conservador como Heidegger, profético como Karl Marx, iconoclasta como Nietzsche, pedagogo terapeuta como Pitágoras, libertador e autêntico como Diógenes ou amigos de uma vida simples e sem perturbação da alma como os epicuristas.

A filosofia terapêutica esteve presente nas comunidades cristãs e judaicas, aqueles que viviam e curavam no deserto, na contemplação e no total desapego. Em toda história da filosofia, o método da cura que cuida do homem e de suas doenças físicas e espirituais, era pauta das principais discussões. O anseio de um bem que dê serenidade plena, instigava médicos, charlatões e feiticeiros ocasionando uma guerra das terapias, com intuito de uma demarcação científica.

Esta preocupação em torno da cura está muito longe de terminar, nunca deixará de aparecer na obra dos filósofos clássicos. O pensamento e a idéia é sempre inovador, provoca e instiga uma análise constante do pensador que a recebeu e doou para a humanidade, os filósofos são visitantes de almas e terapeutas por excelência.

Somos muitos em um, somos o uno em múltiplos, somos a finitude em infinitude, o homem tem apetite de eternidade e deseja viver sempre. A filosofia é terapêutica, ajuda a abrandar o ser desejoso que é o homem, não pretende curá-lo e sim conduzi-lo ao encontro da cura interior e despertar-lhe a luz salvadora, esta que habita em seu ser.

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