domingo, 22 de junho de 2008

Sócrates e o cuidado de si...

A MOTIVAÇÃO E SUA IMPORTÂNCIA NA APRENDIZAGEM


A MOTIVAÇÃO....

É importante compreendermos que a motivação é um processo de estímulo do sujeito frente ao mundo e seus desafios. Schopenhauer apresentou o mundo como vontade e representação de nossos desejos, Freud relacionou o desejo como fator intrínseco do indivíduo, Lacan fez uma releitura do desejo freudiano e destacou a necessidade de ser reconhecido que possuímos e Michel Foucalt trabalhou as relações do sujeito e do poder frente à sociedade.

Foucalt no final de sua vida salientou que o grande problema que o ser humano possui e a maior interrogação que ele se faz é: o que fazer com o tempo que eu possuo? Podemos ousar responder, porém antes refletir, que o maior problema que vivemos no século XXI, ou até mesmo durante toda nossa existência seria o seguinte: O problema não é a desmotivação que assola o homo sapiens contemporâneo, acredito, porém, ser, o uso que fazemos ou não da motivação que temos.

Se possuímos um oceano, uma infinitude de motivações que visitam nosso coração, mente e espírito. O que podemos fazer com eles? Dar maior importância? Talvez essa resposta fique no sopro dos ventos, na melodia das canções, nas cordas de um violão, nas palavras em giz escritas no quadro, ou melhor, no mais íntimo de cada ser humano que povoa nossa casa comum, assim, que cada um escreva sua resposta.

Toda aprendizagem é associativa, é construção e significado. Para aprender a dirigir, a plantar ou a compreender a importância de modos de produção na organização social é preciso ter motivos, é preciso atender às características relevantes, recuperar o aprendido e aplicá-lo às novas situações. A aprendizagem semelhante à culinária ou preparação de bebidas, também é uma questão de química, de misturar elementos para produzir novas e felizes combinações, em vez de poções e beberagens que possam ser fatais, isto é, podemos melhorar a química de nossas combinações na aprendizagem didática.

Aprender implica mudar, e a maior parte das mudanças em nosso entendimento precisa de grande quantidade de prática. Aprender, principalmente de modo explícito ou deliberado, supõe um esforço que requer altas doses de motivação. Na aprendizagem, é preciso procurar sempre um motivo. Pozzo (cf.2002, p. 138) pergunta por qual razão o professor vai buscar novas e laboriosas técnicas para avaliar a compreensão de seus alunos se, no final das contas, os pais querem o de sempre: que seus filhos passem e não que aprendam? No entanto, perguntamos, será que esse “passar” não pressupõe compreender?

Questões como esta se apresentam explícitas no processo de aprendizagem. Nelas gastamos energia, tempo, às vezes dinheiro, e sempre uma boa parte de nossa auto-estima, por isso os motivos para aprender devem ser suficientes para superar a inércia de não aprender. Segundo a mecânica newtoniana, um objeto em repouso precisa de uma força para se pôr em movimento, da mesma forma que um objeto em movimento necessita de uma força para se deter. Em ambos os casos há uma cômoda inércia que leva a se manter no estado atual, a não mudar. É o que acontece a muitos alunos e, certamente, a professores que se deixam levar pela imutabilidade, passando, assim, despercebida a importância do ato de motivar que conduz a mudar, gerar novos motivos onde antes não existiam, o que levava à dispersão do aluno.

Motivar não é manipular prêmios e castigos. O motivo principal da aprendizagem são as conseqüências. Trata-se de conseguir algo desejado, ou de evitar algo indesejado, em troca de aprender. A motivação extrínseca, se estabelece numa situação em que o motivo para aprender esta fora do que se aprende, são suas conseqüências, não a própria atividade de aprender em si. Não há dúvida, um bom sistema de incentivo move e, às vezes, comove o aluno, mas incentivar externamente a aprendizagem tem certas limitações que fazem sua eficácia decrescer consideravelmente em certas condições (o problema esta em encontrar prêmios e castigos que funcionem).

É preciso recorrer às necessidades socialmente construídas, que funcionam como valores ou desejos cuja eficiência são mais eficazes dependendo do grau em que os alunos a interiorizam. A aprovação social (na forma de aprovado ou notável) ou a escapada de situações sociais desagradáveis ( apresentar as notas aos pais) são valores que podem afiançar determinadas aprendizagens, mas que não funcionam do mesmo modo com todos os seus alunos. Na motivação extrínseca, os resultados da aprendizagem dependem totalmente da manutenção que irá resultar dos prêmios ou castigos, isto é, dos resultados que o aluno receber por seu empenho. Diferentemente da motivação intrínseca, em que o ato de aprender é unido à satisfação pessoal de compreender. Em outras palavras quando a razão para se esforçar está no que se aprende (andar de bicicleta, falar outro idioma, compreender melhor meus filhos).

Aprender mais prazer é igual a conhecer. Compreensão esta que se baseia em uma pessoa que se dedique a aprender denominado assunto, porque sente prazer falando-o ou fazendo-o. O que move a aprendizagem é o desejo de aprender devido ao ato. Conter subjetivamente um sentido, um significado e para alcançá-la necessitasse vivê-la num contexto emocionalmente favorável. Para que o aluno crie o interesse intrínseco pelo que aprende, deve perceber uma autonomia nas metas de sua aprendizagem e nos meios para alcançá-las, além de viver a situação de uma forma afetivamente positiva, isto nos leva a compreender porque a aprendizagem se move tão minimamente na educação obrigatória.

Em todo caso, se os motivos para tentar uma aprendizagem podem ser inicialmente extrínsecos ou intrínsecos, o mais freqüente é que se produza uma combinação de ambos, daí a relevância de motivar os alunos a interiorizar o desejo de aprender, primordialmente, pelos motivos que se percebe fora de si ( no mundo). O mal não é que já não se aprenda nada, porém a falta de vontade de tentar voltar a aprender, significando um novo desejo, ou a inquietude do aluno por saber e compreender.

Nossos desejos nem sempre estão bem motivados. Se com o tempo persistimos em alguma atividade será porque além da razão inicial surgiram novos desejos. Nossas aspirações se alternam e buscam novos sentidos, sentidos estes que impulsionam ao processo de aprender e focam prioridades[1]. A motivação não depende só das metas que possuímos, mas do sucesso que esperamos se tentamos alcançá-las. É o que propõe a teoria da motivação de êxito[2], segundo a qual a motivação frente a uma tarefa é sempre um produto do valor que atribuímos a um resultado (um motivo) pela expectativa em alcançá-lo e o hábito adquirido em consegui-lo.

Essa atribuição são construções que fazemos sobre nossa intelectualidade, auto-estima e ligadas às nossas teorias implícitas. Atribuímos nossos sucessos e fracassos sobre os resultados daquilo que desejamos e projetamos. Mesmo que seja instável ou estável, um resultado nós atribuímos a ele valores para dizer se vale apena refleti-lo ou não. Exemplificamos como o aluno que sempre falha no cumprimento de suas tarefas e jamais assume a responsabilidade por esse fracasso, porém como fazer esse ato falho tornar-se motivação e superação é o nosso objetivo enquanto sociedade. Motivar para aprender, mas sendo realista para não criar ilusão. Em todo caso, a análise conjunta de expectativas e valores na motivação, sugere algumas vias pelas quais os professores podem intervir na motivação com que seus alunos se acercam da aprendizagem e se mantém nela.

Há dois caminhos fundamentais (aumentar a expectativa e o sucesso da aprendizagem), Tapia[3] detalha seis princípios para melhorar o planejamento motivacional das tarefas de aprendizagens:

  1. Encontrar sentido no que está fazendo adequando as tarefas numa autentica interação;
  2. Informar os objetos e os meios para alcançá-los, guiando e orientando o aluno;
  3. As atividades de avaliação devem proporcionar aprendizagem para ambos (professor e aluno), avaliando o sucesso da estratégia instrucional;
  4. Partir dos interesses do aluno para mudá-lo e levá-lo a observar valores e sentidos do conhecimento;
  5. O aluno deve possuir autonomia para determinar as metas e se auto-avaliar. A motivação aumenta quando se aprende partilhando com amigos;
  6. Valorizar cada progresso na aprendizagem. Não só por seus resultados finais, mas como também pelo interesse que manifesta.

Enfim, esses princípios poderiam ser resumidos numa idéia importante: a possibilidade que um professor tem de mover seus alunos para a aprendizagem depende em grande parte de como ele mesmo enfrenta sua tarefa de ensinar ( e aprender ensinando).

A motivação do educando não pode se desligar muito da que tem seus professores. O ato de ensinar deve ser prazeroso, deve conter um sentido que permita inverter os papéis na sala de aula de forma consciente. Pode-se concluir que sem motivação não há aprendizagem, porque ela é considerada como um requisito, uma condição prévia da aprendizagem. Aprendizagem mais motivação mais atenção é igual à boa educação que produz bons aprendizes e bons mestres.

REFERÊNCIAS

ALONSO TAPIA, J. Motivacion e aprendizage em el aula: cómo enseñar a pensar. Madrid: Santillna, 1991.

POZZO, Juan Ignacio. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Trad. Ernani Rosa. Artmed, Porto Alegre, 2002.



[1] Entendido como prioridades: os atos que proporcionam sentido na aprendizagem e necessariamente estão subjacentes valores motivadores.

[2] Juan Ignácio Pozo se remete, neste ponto, à obra de Atkinson e Raynor intituilada Personality, motivation and achievement. 1978, Hemisphere.

[3] Motivacion e aprendizage em el aula: cómo enseñar a pensar. Madrid: Santillna, 1991

quarta-feira, 18 de junho de 2008

A verdade e a utilidade da ciência na perspectiva do filósofo Francis Bacon.



PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

Programa de Aprendizagem: Prática profissional I: Pesquisa em Filosofia

Orientador: Mr. Jelson de Oliveira.

PROJETO DE PESQUISA

Charles Fernando Gomes[1]

1. TEMA

A verdade e a utilidade da ciência na perspectiva do filósofo Francis Bacon.

2. DELIMITAÇÃO

Verdade e utilidade da ciência: uma relação igualitária em Francis Bacon

3. PROBLEMA

Sendo duas categorias aparentemente opostas. Como provar que verdade e utilidade sobrevivem igualitariamente na ciência segundo Francis Bacon?

4. JUSTIFICATIVA

Para Francis Bacon[2] (1561-1626), a realidade tem a ver com aquilo que realizamos no mundo. Com isso ele é muito mais moderno por seu pensamento pós-metafísico do que Descartes. O pragmatismo marca seu pensamento. O historiador Paolo Rossi (comentador) afirma: que se Bacon tivesse sido levado a sério não teríamos sido levados pela tradição platônica, aristotélica, tomista e kantiana do subjetivismo.

Seu discurso é repleto de força intelectual e científica ao afirmar o que a ciência deve ou não deve ser e fazer. Para o filósofo, todo o nosso conhecimento tem uma inserção histórica. Segundo Bacon, o poder do homem extrair da natureza elementos para sua existência é poder da ciência.

O homem como intérprete e servo da natureza, nas palavras do filósofo, se apropria de duas condições importantes no papel de curador da natureza. O comentador, Paolo Rossi[3], tenciona em sua obra Os filósofos e as máquinas, esclarecer o significado que se deve atribuir a uma expressão de Bacon, contida no parágrafo 124 do Novum Organum[4], freqüentemente interpretada com pouca exatidão: ipsissimae res sunt veritas et utilitas. Verdade e utilidade é a mesma coisa para a ciência de Bacon, isto é, o filósofo sustenta uma identidade entre teoria e prática, verdade e utilidade, ciência e potência, considerando extremamente perniciosa uma contraposição entre tais termos. Bacon não compreende a filosofia como um “estério deserto”, idéia esta que se assemelha em sua concepção ao saber tradicional desde os pré-socráticos até Telésio, mas sim a uma união entre saber e operar, teoria e prática, discurso lógico e técnicas experimentais.

O intérprete afirma que Bacon deseja dar fundamentos as bases de uma enorme utilidade. Ambiciona, uma reforma lógica e vê nisto a necessidade de conscientizar os homens acerca da identidade entre progresso na teoria e na prática, entre potenciação dos instrumentos cognoscitivos e potenciação das capacidades operativas do homem.

O autor do Novum Organum (Bacon) situara a soberania do homem no conhecimento e, afirma que o fim da ciência é servir à vida, identifica o homem como “aquilo que o homem conhece” sendo assim, reafirma a dependência do homem diante do saber científico. Os enigmas postos pelo mito da Esfinge, segundo Rossi, são interpretados por Bacon, sendo o enigma relativo à natureza e ao que se refere ao homem, é respondido por Bacon em sua frase: “só conhecendo a natureza humana será possível adquirir domínio sobre ela”.

Por fim verdade e utilidade, segundo Bacon, seriam faces da mesma moeda, isto ocasiona uma ciência precisa que não só organiza e cataloga suas experiências mais também exige a utilidade da idéia, da verdade que fundamentará o experimento proporcionando maior precisão e dispensando a hipótese[5] com suas imprecisões.

5. OBJETIVOS

5.1 OBJETIVO geral

Apresentar a garantia da absoluta operacionalidade do saber científico e da plena coincidência entre saber e operar. Em outras palavras, entre a verdade e a utilidade na concepção de Bacon.

5.2 Objetivos específicos

a) Explicitar a noção assimétrica de verdade e utilidade na síntese científica de Bacon;

b) Analisar as críticas de Bacon em relação ao sistema lógico de Aristóteles;

c) Mostrar a adequação dos termos verdade e utilidade quanto à adequação do termo utilitarismo do pensamento de Francis Bacon.

d) Apresentar o conceito de verdade e utilidade em seu inteiro sentido no projeto baconiano sobre a ciência

6. REFERENCIAL TEÓRICO.

O filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) escreveu sua obra mais conhecida Novum Organum (publicação 1620) dois anos após tornar-se lorde chanceler e barão de Verulam (1618) e dois anos antes de publicar a História Natural (1622). É importante compreendermos o contexto histórico (político, social e econômico) da Inglaterra, este que se insere o filósofo, como atuante e influente antes de aprofundarmos nesta obra que foi um marco intelectual de sua vida.

Período esta de grande ascensão inglesa nos campos político e econômico no reinado de Elizabeth I. Foi partícipe na corte real em diversos setores (econômico, social, científico, religioso, filosófico) e astuto defensor do reino nos inúmeros combates de forças contrárias ao governo da rainha. Momento histórico do absolutismo inglês em vias de consolidação, apoiado pelas atividades comerciais elevadas, que serviriam de sustentáculo econômico-social para a monarquia.

Ao escrever sua mais famosa obra, Bacon contrapõe-se ao Organum aristotélico[6] e a ciência dedutiva, pois ela sai do universal para o particular semelhante à sua lógica e questionará a dialética e suas precauções tardias que nada modificam o andamento das coisas, mais serviram para firmar os erros que descerrar da verdade. O autor afirma que “(...) se os homens tivessem empreendido os trabalhos mecânicos unicamente com as mãos, sem o arrimo e a força dos instrumentos, do mesmo modo que sem vacilação atacaram as empresas do intelecto, com quase apenas as forças nativas da mente, por certo muito pouco se teria alcançado, ainda que dispusessem para seu labor de seus extremos recursos” (BACON, 1979, p.6)

Ele defende o uso de máquinas e técnicas (precursor da tecnologia) para a dominação da natureza, o que sem esses meios seria praticamente impossível. Para Bacon somos guias e curadores do ambiente natural, defende a coligação entre reflexão e filosofia e pede que haja dois métodos: um destinado ao cultivo das ciências e outro destinado à descoberta científica, ou seja, o primeiro método ou caminho de antecipação da mente e ao segundo de interpretação da natureza. Afirma sermos verdadeiros filhos da ciência, e nos convida a penetrarmos nos recônditos domínios por trás dos vestíbulos da ciência começada pelo pleno domínio de si mesmo e do juízo dela. (BACON, 1979, p.9)

Bacon[7] almejava a garantia da absoluta operacionalidade do saber científico e da plena coincidência entre saber e operar, significando a via da verdade e da potência, que é a mesma escrita pelo filósofo em Aphorismi et consilia, que encontra as formas das coisas e do conhecimento.

Para Paolo Rossi (comentador), é estranho que os que falam em “utilitarismo” ou “tecnicismo”, baconiano tenham freqüentemente fundado suas argumentações na base das mesmas perguntas a que Bacon tentou responder. Bacon, porém configura sua resposta de duas maneiras distintas: Na Partis instaurationes secundae delineatio, Bacon afirma que quem protesta, em nome da vida contemplativa, protesta contra si mesmo, porque a pureza da contemplação e a invenção e construção das obras se fundam sobre as mesmas coisas e são fruídas em conjunto. No Cogitata et visa e no Novum Organum, a resposta é que o império do homem reside apenas na ciência e que o homem pode apenas pelo que sabe e arremata que como na religião exige-se fé com obras, da mesma forma na filosofia natural exige-se que a ciência seja demonstrada com resultados práticos.

Assim nas palavras de Bacon, o intérprete compreende as verdadeiras marcas que o filósofo estabelece postas pelo Criador sobre as criaturas, isto é, as obras devem ser consideradas mais como garantias da verdade do que por causa das comodidades da vida. Bacon sustenta com clareza a “verdade e utilidade como mesmíssima coisa”, sustentação que tanto recebeu interpretações conflitantes. Rossi cita Spedding, defensor de maior autoridade que desistiu de justificar esse emprego do termo ipssimae (da mesma coisa) por parte de Bacon.

Rossi assume a briga e justifica a tradução com o parágrafo 13 de segundo livro do Novum Organum, em que o filósofo compreende verdade e utilidade ser a mesma coisa referente ao homem e ao universo, mas diferem apenas como o aparente e o existente, o externo e interno. No parágrafo 20, o intérprete justifica pela utilização do termo ipissimus e resgata a definição de calor que é ao mesmo tempo especulativa e operativa se produzir num corpo natural um movimento dotado das características indicadas infalivelmente, gerar-se-á calor. Ambos os termos (verdade e utilidade) na filosofia baconiana apresentam-se juntas e idênticas, ou seja, a fecundidade da verdade científica depende do seu caráter de plena verdade e das duas intenções humanas gêmeas (escreve Bacon), a ciência e a potência, coincidem numa única, e a ignorância das causas gera o fracasso das obras.

Portanto, se existe uma subordinação da ciência[8] à técnica em Bacon, esta existe para manter íntegra e sem margens para conclusões fantásticas[9], ou seja, compreender uma subordinação da verdade à utilidade, do saber ao operar nas palavras conclusivas do intérprete que laboriosamente explica a filosofia deste arauto da ciência moderna e espantam possíveis e impossíveis contradições a cerca de suas reais pretensões em relação à ciência.

7. METODOLOGIA DE PESQUISA

A pesquisa é de cunho bibliográfico, tendo como foco central a obra Novum Organum, aliada com as outras obras de Bacon, como também de seus comentadores (como Paolo Rossi).

8. CRONOGRAMA

JULHO

Coleta de dados na obra do filósofo inglês Novum Organum

AGOSTO

Continuar leitura das obras e o fichamento. E iniciar a elaboração do item “a” e “b” dos objetivos específicos

SETEMBRO

Elaboração dos itens “c” e “d” dos objetivos específicos

OUTUBRO

Elaboração da introdução, dos capítulos e da conclusão do artigo

NOVEMBRO

Entrega final e Apresentação

9. REFERÊNCIAS.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfred Bosi. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

BACON, Francis. Nova Atlântida. Trad. José Aluysio Reis de Andrade. 2. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979 a.

_____. Novum Organum. Trad. José Aluysio de Andrade. 2. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979 b.

FARIA, Ernesto. Dicionário Escolar Latino-Português. 2. ed. Rio de Janeiro: MEC/DNE,1956

ROSSI, Paolo. Bacon e Galileu: os ventos, as marés, as hipóteses da astronomia. Trad. Álvaro Lorencini São Paulo: UNESP, 1992.

ROSSI, Paolo. Os filósofos e as máquinas: 1400-1700. Trad. Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

RUSSEL, BERTRAND. Obras filosóficas. 3º. V. 3ª. Ed. São Paulo: Nacional, 1968.

10. REFERÊNCIA COMPLEMENTAR

ARAÚJO, Inês Lacerda. Introdução à filosofia da ciência. 3ª. ed. UFPR, Curitiba,2003

BACHA, M.L. A indução em Bacon. In:_____. A indução de Aristóteles a Pierce. SP: Legnar Informática & Editora, 2002. Cap.2, p.35-49.

_____. The Works of Francis Bacon. R.L. ELLIS, J. SPEDDING, D.D. HEATH (ed.). Londres,1857-92

BURNS, Edward Mcnall. História da civilização ocidental. Trad. Lourival Machado; Lourdes Machado. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Globo, 1952.

LAUDAN, L. Teorias do Método Científico de Platão a Mach. Cadernos de História e Filosofia da Ciência, Campinas, Série 3, v.10, n.2, p.9-140, jul-dez. 2000.

OLIVA, A. (Org.). Epistemologia: a cientificidade em questão. Campinas, SP: Papirus, 1990.

OLIVEIRA, B.J. Francis Bacon e a fundamentação da ciência como tecnologia. BH: UFMG, 2002ROSSI,Paolo. Da magia à ciência.Trad. Aurora Fornoni Bernardini.Londrina:EDVEL, 2006

ROSSI, Paolo. Francis Bacon: da Magia à Ciência.
SALMON, W.C. Lógica.Trad. Leonidas Hegenberg e Octanny Silveira da Mota. RJ: Zahar Editores, 2006.




[1] Licenciando em Filosofia pela PUCPR

[2] Francis Bacon (1561-1626) é conhecido como o fundador do método indutivo e pioneiro no intento de sistematização lógica do procedimento científico. Bacon foi educado em uma atmosfera de negócios do estado inglês. Era nacionalista e entrou para o parlamento aos 23 anos, como conselheiro. Em 1617, obteve o cargo do pai, lorde do grande selo. Em 1618 torna-se lorde chanceler, mas depois de dois anos no cargo, foi processado por ter aceitado suborno. Admitindo a verdade da acusação obteve como pena o afastamento da vida pública e do Estado. Depois de cinco anos de alheamento, morreu em conseqüência de um resfriado (contraído enquanto realizava um experimento sobre refrigeração, recheando de neve uma galinha).

Ele viveu numa época de intenso movimento cultural e sua atividade política concedeu-lhe condições para dominar essa efervescência. Nascido durante o reinado de Elizabeth I foi partícipe dos setores econômico, social, científico, religioso, filosófico e do combate entre as antigas e as novas forças que eram contrárias ao governo da rainha. Com a reforma religiosa de Henrique VIII (1491-1547), as terras que estavam sobre o poder da Igreja foram confiscadas pela Inglaterra, e destas surgiu uma pequena nobreza fundiária que juntamente com os elementos ligados às atividades comerciais florescentes, estas serviriam de sustentação econômico-social para o absolutismo, em vias de consolidação.

[3] ROSSI, Paolo. Os filósofos e as máquinas 1400-1700. In:_____. Verdade e utilidade da ciência em Francis Bacon. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

[4] O Novum Organum é escrito por Bacon em forma de aforismos, textos simples e assistemáticos, a obra estabelece uma nova regra debatedora às filosofias anteriores, ditadoras de uma filosofia universal, sistemática e doutrinária. Seu pensamento é inovador ao afirmar que a “(...) a natureza não se vence, se não quando se lhe obedece. E o que à contemplação apresenta-se como causa é regra na prática” (BACON, 1979, p.13). Sua célebre frase “saber é poder”, possibilita-nos compreender o que ele deseja da natureza por intermédio da ciência, que é unir e apartar os corpos (homem e natureza) sabendo que o restante a natureza realiza por si mesma.

[5] O método indutivo de Bacon possui falha por não considerar o papel da hipótese? Quando Bacon refuta o método dedutivo afirmando que as noções (das quais constam proposições) são apenas “etiquetas das coisas” e declara que se trata de extrair de modo não grosseiro tais noções das coisas particulares, deixa escapar qualquer compreensão da função exercida pelas hipóteses no saber científico. Não é por acaso que, nas hipóteses, ele só vê uma ilegítima e arbitrária antecipação da natureza. Nesta oposição de Bacon a todo procedimento de tipo dedutivo (e também na recusa de hipóteses) viu-se justamente um dos limites do método baconiano. Bacon, sem dúvida não se deu conta da existência de ciências “nas quais o trabalho de escolha e de concatenamento de proposições já conhecidas ou admitidas como verdadeiras constitui um meio muito mais seguro e eficaz de pesquisa que a experiência direta, embora diligente e auxiliada pelo uso de instrumentos, e nas quais mesmo o procedimento de tipo dedutivo é o único meio usado não só para a verificação, mas também para a descoberta de novas leis e novas relações” (ROSSI, 2002, p.206)

[6] Para o filósofo, Aristóteles havia formulado uma ciência para resolver todos os problemas de sua época, um saber obscuro, que busca reconstruir o mundo por categorias (substância, espaço, ato e potência, tempo), mas isso nada soluciona segundo Bacon. Afirmará ser contemplativa e pastoral a filosofia do renascimento, ou seja, o mundo sendo apenas contemplado e não transformado, experimentado e conhecido.

[7] Bacon tem a ciência como o “pão”, este que é destinado aos usos da vida humana, acredita que o homem perdeu a inocência e o domínio das criaturas pelo “pecado” e que estas podem ser recuperadas pela religião com a fé, pelas artes e a ciência e não com disputas e cerimônias mágicas. O filósofo respira uma ciência racional, lúcida que o leva a fazer severas críticas aos doutores escolásticos e suas disputas dialéticas despropositadas. Desprezava o silogismo aristotélico e subestimava a matemática cartesiana, desejava simplificar o mundo e banir as superstições dos ídolos (que ele enumerou) realçando-lhe o que é favorável. Seu alicerce filosófico era o pragmatismo que dava-lhe suporte para dar à humanidade domínio sobre as forças da natureza por meio de descobertas e invenções científicas.

[8] Francis Bacon assume a paternidade da ciência moderna ao gerar o Novum Organum, tem a intenção de repaginar a posição do homem e da ciência frente à natureza balizando-as em justa posição. O homem para Bacon é servo, escravo e intérprete da natureza, ou seja, um leitor nato, um desbravador que a utiliza para compreender e fazer, transformar e modificar pela observação e análise os fatos e fenômenos que ocorrem nela (natureza) em seu curso natural. É importante compreender esse processo de Bacon como um utilitarismo da natureza de forma responsável, responsabilidade esta que não lhe deixa ser um predador e usurpador, mas sim um conhecedor que a experimenta e produz um efeito benéfico sobre ela.

[9] Criticará Platão por ter uma filosofia fantasiosa e supersticiosa.

Oliver Cromwell: a autocracia que coloca por terra a divindade da realeza.


Oliver Cromwell: a autocracia que coloca por terra a divindade da realeza.

Após o ato da decapitação de Carlos I, Cromwell grita: “vejam é sangue vermelho”.

Charles Fernando Gomes*


Resumo

O presente artigo debruça-se sobre a história da Inglaterra Absolutista (1485-1789), porém dando ênfase no período de 1645, este que encontra-se presente no filme Morte ao Re[a]i. A Inglaterra, isto é a nação inglesa estava em ruínas. A guerra civil que dividia o país terminou. Os Puritanos derrubaram o Rei Carlos I, ganhando assim a batalha contra a corrupção. Cromwell exige a execução do Rei. , e logo inicia sua revolução. A autocracia é seu primeiro objetivo, porém a luz do poder lhe ofusca os olhos e inicia-se assim um período de contradições entre o poderio puritano inglês e suas reais pretensões frente ao governo Desde o início do absolutismo até sua decadência. Poderemos observar neste artigo suas diversas faces.

Palavras- chaves

História Moderna - Absolutismo - Absolutismo Inglês Oliver Cromwell

Abstract

The present article is bent on the history of Absolutist England (1485-1789), however giving emphasis in the period of 1645, this one that is presently in the movie Death to a King. England, this is the English nation it was in ruins. The civil war that was dividing the country ended. The Puritans knocked down the King Carlos I, gaining so the battle against the corruption. Cromwell demands the execution of the King., and soon it begins his revolution. The autocracy is his first objective, however the light of the power obscures him the eyes and one begins so a period of contradictions between the puritanical English might and his real claims in front of the government From the beginning of the absolutism up to his decadence. We will be able to observe in this article his several faces.

Words - keys

Modern history - Absolutism English- Absolutism Oliver Cromwell



[a] Sinopse

Inglaterra, 1645. A nação está em ruínas. A guerra civil que dividia o país terminou. Os Puritanos derrubaram o Rei Charles I (Rupert Everett), ganhando assim a batalha contra a corrupção. Surgem dois heróis pós-guerra: Lorde General Thomas Fairfax (Dougray Scott) e o General Oliver Cromwell (Tim Roth). A missão de ambos é unir e reformar o país. Fairfax, membro da aristocracia, quer uma reforma moderada enquanto Cromwell exige a execução do Rei. O rei deposto acredita que o seu reinado foi roubado por Fairfax e está determinado a reconquistá-lo. Encontra em Lady Anne Fairfax (Olivia Williams), uma simpatizante que se mantém fiel à monarquia. Fairfax se encontra cada vez mais dividido entre a fidelidade à esposa, Lady Anne, preservando sua classe social, e à causa revolucionária de seu companheiro. Cromwell age de forma cada vez mais agressiva e brutal e Fairfax percebe que precisa detê-lo, iniciando-se assim uma batalha onde a traição e a conspiração são as principais armas dos dois homens mais poderoso do pais.



  1. INTRODUÇÃO

Este artigo possui por objetivo principal a contextualização do período histórico do absolutismo inglês, momento este que é retratado na obra cinematográfica Morte ao rei[1]. Há dois parâmetros bem expostos no filme: de um lado o personagem Fairflax (reformista) que almejava a continuação da monarquia, porém com limites impostos ao monarca evitando, assim, novas guerras, impostos e armadas militares. E, por outro lado, o personagem Cromwell (revolucionário) que desejava afastar a monarquia e o parlamento tornando a Inglaterra livre da soberania monárquica por meio da reforma puritana que proporcionaria certa liberdade e respeito e respeito ao povo inglês.

O artigo está organizado em tópicos que contemplam um marco histórico, monárquico, social, civilizatório, político e econômico que se apresenta à Inglaterra no período absolutista do século XVII. Dentro deste recorte temporal aborda-se o reinado de Carlos I, filho de Jaime I, primeiro dos reis Stuarts.

Por fim, observaremos no decorrer do texto as contribuições históricas que esse período trouxe para a Inglaterra.

2. Contexto Histórico do Absolutismo Inglês (1485-1789)

O governo absolutista na Inglaterra é marcado por oscilações entre desenvolvimento e decadência, marcas estas que caminharam juntas no setor político inglês e acompanharam o nascimento da modernidade. Nos séculos XIV e XV, o regime feudal descentralizado da Idade Média, esfacelou-se gradualmente sendo substituído por estados dinásticos com governos de poder absoluto. A posição dos nobres enfraqueceu-se graças ao desenvolvimento da economia urbana ocasionada pela queda do sistema senhorial e dos efeitos das Cruzadas. Também em virtude da “Peste Negra” e da “Guerra dos Cem Anos”, porém fatores esses que não teriam necessariamente lançado os fundamentos de uma monarquia absoluta.

Indubitavelmente, a mais significativa delas foi a Revolução Comercial. A fundação dos impérios coloniais e a realização da política mercantilista forneceram aos reis uma abundância de riquezas que eles podiam utilizar para equipar exércitos e armadas, possibilitando assim ampliar seus poderes políticos. Além disso, a expansão dos negócios acentuou a necessidade de um governo forte que apoiasse mercadores, banqueiros e manufatureiros do século XIV. Devido aos ataques que ocorria naquele período (por piratas e bandidos), o que representava certo perigo, carecendo-os de cuidado que só um estado poderoso e um governo forte poderiam fornecer.

A classe média deste período prestou apoio às ambições dos governantes despóticos. Por isso a “Revolução Protestante” contribuiu assaz para o desenvolvimento da onipotência real. Quebrou a unidade da Igreja Cristã , aboliu a suserana posição papal sobre os governantes seculares, incitou o racionalismo e encorajou os reis da Europa Setentrional a estenderem sua autoridade sobre assuntos religiosos e civis. Como resultados desses fatores foram removidos os obstáculos ao absolutismo.

2.1 Contexto Monárquico e Social do Absolutismo Inglês.

Na Inglaterra os fundadores do governo despótico foram os Tudors. Henrique VII foi o primeiro dos reis dessa casa e subiu ao trono em 1485, no fim da “Guerra das Duas Rosas”, na qual facções rivais de nobres lutavam entre si até a exaustão. Motivo este que muitos cidadãos regozijavam com a fundação de uma monarquia absoluta como um preventivo da anarquia. A classe média, principalmente, desejava o aparecimento de um governo consolidado. O absolutismo se consolida na Inglaterra por causa do medo dos cidadãos, burgueses e comerciantes à anarquia e seus conflituosos resultados que negativamente afetavam o país.

Dentre os mais célebres membros da dinastia Tudors destacam-se: Henrique VIII (1509-1547) e Isabel (1558-1603) que ganharam grande parte de seu poder mantendo astutamente a aparência de governo popular ludibriando a população, interferindo nas eleições e em suas ações políticas eram desmedidos em virtude de algum apoio que os beneficiasse. Em 1603, a rainha Isabel morreu sem deixar herdeiros diretos. Seu primo Jaime VI, rei da Escócia, se tornou soberano sobre o nome de Jaime I, tanto da Inglaterra como da Escócia. Sua ascensão ao trono assinala o início turbulento dos Stuarts, a última das dinastias absolutistas da Inglaterra. Jaime I foi competente como seu predecessor de linhagem Tudors, satisfazendo-se com o poder absoluto de fato, mas insistia também sobre o teórico. Da França aproveitou a doutrina dos reis. Em seus discursos no Parlamento, em 1609, chegou até a declarar que os “reis são com justiça chamados por Deus, devido a exercerem algo semelhante ao poder divino na Terra”.

Com o autoritarismo da Igreja Católica e da monarquia, logo o povo se descontentará, levando-os a recorrer a Igreja Anglicana. Isto resultará na fúria do monarqua e na perseguição de heréticos por não reconhecerem a autoridade do rei e dos bispos nomeados pelo soberano. A Inglaterra neste período conservava tradições de liberdade que não podiam ser ignoradas. O ideal feudal de um governo limitado expresso na “magna carta”, jamais fora completamente destruído e pulsava no coração dos ingleses.

2.2 Contexto da Civilização e das Relações de Poder no período do Absolutismo Inglês.

O primeiro dos reis Stuarts morreu em 1625 e seu sucessor foi o seu filho Carlos I. Este se viu também em conflito com os puritanos e os chefes oposicionistas do parlamento. Como no caso do pai, o conflito foi precipitado por causa da taxação. Logo depois de sua ascensão ao trono, Carlos I envolveu-se numa guerra com a França. Era desesperada sua necessidade de rendas. Quando o Parlamento se recusou a conceder mais do que as permissões costumeiras, procurou forçar empréstimos de seus súditos, punindo os que se negavam a concedê-lo, aquartelando soldados à sua custa ou jogando-os na prisão sem processo. O remate dessa tirania foi à famosa Petição de Direito que, em 1628, Carlos assinou obrigado pelos chefes do Parlamento. Esse documento, que se compara à “Magna Carta”, como a segunda grande carta das liberdades inglesas, declarava ilegais todos os impostos não votados pelo Parlamento. Condenava também o aquartelamento de soldados em casos particulares e proibia aprisionamentos arbitrários de lei marcial em tempo de paz.

Reviveu leis feudais obsoletas e cobrava multa de todos os que as violavam. Insinuou a ricos burgueses que se tornassem cavaleiros e então os gravou com altos impostos pelos seus títulos. Vendeu monopólios a preços exorbitantes e advertiu os juízes que aumentassem os emolumentos dos casos criminais. O mais impopular de todos os seus expedientes para conseguir dinheiro foi à taxa naval. As cidades costeiras inglesas foram obrigadas a contribuir navios para a armada real. Carlos I afirmava que essas cidades deveriam contribuir com dinheiro, e começou a aplicar o novo imposto não somente às cidades costeiras mais também às do interior. As arrecadações desse tipo irritaram particularmente a classe média e serviram para robustecer a oposição desse grupo à tirania monárquica. Tentou impor o sistema episcopal de governo da Igreja aos presbiterianos escoceses, que eram calvinistas ainda mais radicais que os puritanos. O resultado foi o desencadeamento, pelos súditos do norte, de uma rebelião armada.

2.3 Contexto Político e Econômico em que se desenvolve o Absolutismo Inglês

Com o intuito de obter dinheiro para punir a oposição dos escoceses, Carlos foi por fim obrigado a convocar o Parlamento, depois de mais de onze anos de governo autocrático. Convocando o órgão legislativo para uma sessão, ele totalmente caiu nas mãos de seus adversários. Esses acontecimentos prenunciaram um período de guerra civil, que durou de 1642 a 1649. Foi uma luta ao mesmo tempo política, econômica e religiosa. Davam apoio ao rei os principais nobres e latifundiários, católicos e os anglicanos fiéis. Entre os adeptos do Parlamento estavam os pequenos proprietários de terra, os comerciantes e os manufatureiros sendo a maioria de puritanos e presbiterianos. Mas uma minoria radical de puritanos, conhecidas como independentes, suspeitou de Carlos e insistiu na tolerância religiosa para si mesmo e para todos os demais protestantes. Seu chefe foi Oliver Cromwell, que assumira o comando do exército dos [2]Cabeças Redondas. Aproveitando-se das dimensões dentro das fileiras de seus adversários, Carlos recomeçou a guerra em 1648, mas depois de breve campanha foi forçado a dar sua causa como sem esperanças.

A segunda derrota do rei proporcionou aos independentes uma superioridade indiscutível sobre a campanha. Cromwell e seus amigos resolveram então dar um fim a “esse homem sanguinário” (o rei Stuart) e remodelar o sistema político de acordo com os seus próprios desejos. Usando da força militar, realizaram uma seleção do corpo legislativo, fazendo com que cento e quarenta e três presbiterianos comparecessem à Casa dos Comuns. E então, com o “Rump Parliament”, que restou do parlamento já purgado, composto aproximadamente de sessenta membros, trataram de eliminar o monarca. Foi aprovada uma resolução redefinindo a traição, de modo a se aplicar ao caso dos agravos praticado pelo rei.

Instalou-se depois uma alta corte de justiça especial e Carlos foi julgado por ela. Sua culpabilidade foi mera questão de formalidade. Em trinta de janeiro de 1649 foi decapitado em frente ao seu palácio de Whitehall. Pouco tempo depois se aboliu a Câmara dos Lordes e a Inglaterra tornou-se uma república oligárquica. Completou-se assim a primeira fase da chamada Revolução Puritana.

3. CONTEXTO DA ORGANIZAÇÃO DO NOVO ESTADO COMMONWEALTH.

O trabalho de organizar um novo Estado, que recebeu o nome de Commonwealth[3], ficou inteiramente nas mãos dos Independentes. Uma vez que continuava como órgão legislativo o “Rump Parliament”, a mudança real fundamental foi quanto à natureza do executivo. Em lugar do rei, estabeleceu-se um Conselho de Estado composto de 41 membros. Cromwell, com um exército atrás de si, em breve passou a dominar os dois órgãos. Com o decorrer do tempo, no entanto, exasperou-se com as tentativas dos legisladores de se perpetuarem no poder e de se aproveitar do confisco da fortuna de seus inimigos.

Conseqüentemente mandou, em 1653, um destacamento de tropas invadirem o Parlamento e ordenou aos membros que se dispersassem, informando-os de que Jeová não precisava mais de seus serviços. Seguiu-se a instalação de uma ditadura virtual sob uma constituição escrita pelos oficiais do exército. Foram concedidos amplos poderes a Cromwell até a morte, como “Lorde Protetor da Inglaterra”. Daí em diante o governo nada mais foi do que uma autocracia vagamente disfarçada. Cromwell enfaixava nas mãos agora uma soberania mais despótica ainda do que teria ousado aspirar qualquer dos Stuarts. Declarando vir sua autoridade de Deus, isto é, revivendo o que podia ser considerado o direito divino dos reis.

Certamente poder-se-ia esperar que o regime de Cromwell tivesse suas dificuldades, uma vez que repousava apenas sobre o apoio de uma pequena minoria da nação britânica. Antes que “Commonwealth” completasse um ano deram-se distúrbios na Irlanda e na Escócia. Desde 1641, a Irlanda e a Escócia vinham sendo os lugares propícios para as rebeliões, e seus elementos descontentes recusavam-se então a reconhecer o governo do lorde protetor. Na Escócia, o príncipe Carlos, filho mais velho de Carlos I, fora proclamado rei e os realistas existentes em todas as ilhas britânicas estavam aderindo à sua causa. Cromwell dominou a revolta dos irlandeses, declarando depois de sua volta a Londres, em 1650, que as tremendas chacinas que perpetrou em Drogheda e Wexford eram “o julgamento justo de Deus sobre os bárbaros infelizes” que se tinham rebelado. Depois deteve o exército escocês e forçou o príncipe Carlos a procurar asilo no Continente.

Cromwell teve também aborrecimentos com as facções religiosas. Sua política de tolerância concedida a todos exceto aos anglicanos e aos católicos, continuava a receber a oposição da maioria dos puritanos e dos presbiterianos, pois ambos desejavam uma Igreja Oficial. O fato de ter conseguido manter-se no poder por tanto tempo deveu-se a três fatores principais: a força do exército, as vantagens comerciais que concedeu à classe média, especialmente pelo Ato de Navegação de 1651 e pelos tratados com a Holanda e a França e suas vitórias nas guerras contra os espanhóis e os holandeses.

4. Considerações Finais

Em setembro de 1658 morreu o intrépido lorde protetor. Sucedeu-lhe seu filho Ricardo que tinha bons propósitos, mas era irresoluto. Ricardo conseguiu conservar o posto somente até maio do ano seguinte. Talvez mesmo um homem de mais fibra tivesse por fim caído, pois, o país estava cansado das austeridades do governo Calvinista. Nem Commonwealth, nem o protetorado tiveram jamais o apoio da maioria da naca inglesa. Os realistas consideravam os independentes como usurpadores. Os republicanos odiavam a monarquia disfarçada que Oliver Cromwell tinha implantado. Os católicos e anglicanos ressentiam-se de serem considerados seus cultos como criminosos. Até alguns membros da classe média chegaram aos poucos a suspeitar que a guerra de Cromwell contra a Espanha causara mais dano do que bens, por ter comprometido o comércio inglês com as Índias Ocidentais. Por essas e outras razões semelhantes foi geral o júbilo quando, em 1660, um parlamento recém- eleito convidou o príncipe Carlos a voltar à Inglaterra e a ocupar o trono.

O novo rei gozava de reputação provinda de uma vida alegre e de uma moralidade maleável e sua ascensão ao trono foi saudada com uma bem-vinda libertação do sombrio domínio de soldados e de fanáticos. Além disso, prometeu assim mesmo não reinar como déspota, mas sim respeitar o Parlamento e observar a Magna Carta e a Petição de Direito, pois, confessava não estar ansioso por “recomeçar suas viagens”. A Inglaterra entrou então no período chamado de Restauração, que compreendeu os reinados de Carlos II (1660-1685) e de seu irmão Jaime II (1685-1688). A despeito de seu auspicioso início, muitos dos antigos problemas não foram verdadeiramente resolvidos, mas somente dissimulados pela crença de que a nação reassumira sua antiga estabilidade.

A Inglaterra por volta do fim do século XVII passou por um segundo levante político, conhecido como a Revolução Gloriosa (1688 a 1689). Diversas causas tinham-se desenvolvido devido à política de Carlos II. Caracterizou seu reinado o acentuado apoio aos católicos e o temor de seu país por ser mais uma vez levado à condição de subserviência a Roma, tornando essa religião a fé dominante do Estado como fez seu irmão Jaime II.

Podemos concluir que o fracasso da Revolução Puritana com Cromwell foi à abertura do caminho para a Revolução Gloriosa de 1688 a 1689. A postura de Cromwell frente à monarquia é confrontada e questionada por sua própria postura como autocrata no cargo de lorde protetor. Teria sido ele incoerente com seu discurso de anarquia e liberdade? Talvez esta pergunta não tenha uma resposta definida devido às contribuições que Cromwell proporcionou em sua trajetória enquanto soberano inglês que atrofiou todas as representações divinas as quais acercavam o poder do rei, porém como Lorde Protetor ele tomou a postura de um monarca e contradisse seu discurso de igualdade e liberdade tanto na política como no poder. Assim nos perguntamos: Oliver Cromwell teria sido um autêntico herói ou vilão inglês no período do absolutismo?

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDERSON, Perry. Linhagens do estado absolutista. Trad. José Roberto Martins Filho. 3ª. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

BURNS, Edward Mcnall. História da civilização ocidental. Trad. Lourival Machado; Lourdes Machado. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Globo, 1952.

HILL, Cristopher. O eleito de Deus: Oliver Cromwell e a revolução inglesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

PERRY, Marvin. Civilização ocidental: uma história concisa. Trad. Waltensir Dutra; Silvana Vieira. 2ª. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.



*Graduando em filosofia PUCPR 2008.

[1] Nome original “To Kill a King”, pertence ao gênero literário denominado drama. Tem como diretor Mike Barker; os produtores são Paul Wesbster e Jeremy Thomas, Christopher Petzel e Kevim Loader e; atores: Tim Roth, Dougray Scott, Rupert Everett, Olívia Williams, James Bolam, Corin Redgrave, Finbar Lynch, Julian Rhind-Tutt, Adrian Scarborough, Jeremy Swift, Julia Bridegeman e katy Cross. A trilha sonora pertence a Richard Mitchell e a direção e arte a James Foster Esta produção é do ano de 2003, foi produzida na Alemanha e na Inglaterra.

[2] Adversários do rei que cortavam o cabelo curto, por desprezo à moda de usar cabelos anelados, eram por caçoada chamada de Cabeças Redondas.

[3] O vocábulo “ Commonwealth” abrange, em inglês, o significado genérico de estado ou comunidade e, mais, o de um estado ou comunidade governado livremente pelo povo.