quinta-feira, 5 de junho de 2008

O Filósofo autodidata. Ibn Tufayl.


O Filósofo autodidata.

Ibn Tufayl.

“Aceita o que vês e abandona o que ouvistes dizer”.

As duas versões de seu nascimento:

Contam nossos virtuosos antepassados que Deus os abençoe!Que dentre as ilhas da Índia situadas abaixo da linha do Equador, existiria uma em que nasceu um homem sem pai e sem mãe. Ilha com o quarto clima mais equilibrado segundo médicos e filósofos.

Quantos aqueles que o fazem nascer por geração espontânea, esta é sua versão. Havia nessa ilha um vale contendo argila que sob a ação dos anos, tinha-se posto a fermentar, de sorte que o quente aí se encontrava misturado ao frio e o úmido ao seco em partes iguais cujas forças se equilibravam.O centro dessa massa era a parte que oferecia o equilíbrio exato e a semelhança mais perfeita ao composto humano.Então a ela dividida em dois por uma fina membrana e cheia de um corpo sutil e semelhante ao ar, realizando exatamente o equilíbrio comumente, a ela veio ligar-se a alma, que emana de meu Senhor, e se ligou por uma união tão estreita que os sentidos e o entendimento têm dificuldade em separa-los.Pois manifesto que essa alma emana sem cessar, abundantemente do Deus poderoso e grande.Ela se assemelha à luz do Sol, que sem cessar é derramada em abundância sobre o mundo.

Ibn Tufayl inaugura a humanidade numa penúria que leva a pensar antes em Tarzã, este pode ser filho de um casal real, imolado na sua felicidade e beleza, ou então, filho da própria vida, enquanto produzem as plantas, os animais, os homens, a partir de uma terra efervescente.

Porém o autor recusa a pronunciar, isso não tem importância, seu nome significa “Vivo, filho acordado”, ou ainda “do vigilante”. Este é imprevisível a toda previsão social, apresenta assim a fisionomia do homem reduzido à sua candura inicial e, como conseqüência de um destino feliz, de uma constituição excelente, elevando-se por si mesmo ao ápice da perfeição.

A primeira infância e o conhecimento sensível.

Atendido ao apelo de uma gazela que tinha perdido sua cria, nosso herói é acolhido por ela, o mesmo menino cresce alimentado pela gazela e seus cuidados. O menino começa a reproduzir os sons das gazelas, dos pássaros e o grito de outros animais da selva.Este via o crescimento de outras gazelas filhotes, o chifre, a velocidade dos saltos.Em si mesmo nada disto constava, por mais que refletisse, não descobria a causa.Não encontrava nenhum que se parecesse com ele, a tristeza que sentiu por causa disso durou muito tempo.Nisso começou a colher folhas para tampar as camadas superpostas e com as mãos fabricou bastões com galhos de árvores, que poliu nas extremidades e alisou de uma ponta à outra.Concebeu uma certa idéia daquilo que era capaz e compreendeu a superioridade de suas mãos diante de outros animais.

Certo dia ao observar uma águia morta, separou suas asas e a cauda inteira, tais quais, espalhou as plumas de maneira regular. Por fim obteve assim uma vestimenta que o cobria, aquecia e fazia-o temido por todos os animais, e por medo nenhum dos animais se aproximava ou implicava com ele, salvo a gazela que o havia amamentado e criado.Ela não o deixou, e ele também não.

A gazela ficou velha e fraca, por fim morreu. Este pouco faltou para que sua alma não morresse de dor, examinou todos os órgãos externos da gazela sem encontrar neles nenhum obstáculo aparente, então devia estar num órgão invisível escondido no interior do corpo.Procurando o foco do mal, tinha a convicção de que o órgão procurado devia estar no meio do corpo, continuou suas buscas no meio do peito e acabou por encontrar o coração.

Desnudou o coração e viu que era maciço por todos os lados. Tentou descobrir nele algum dano aparente, mas não notou nada. E disse para si mesmo “ o que procuro esteja no fim das contas, no interior deste órgão, e ainda não alcancei.Abriu o coração e percebeu nele duas cavidades, no da direita não viu nada, e da esquerda um sangue coagulado.O habitante desse alojamento tinha-se mudado antes de ter sofrido qualquer degradação, e o tinha deixado quando ainda estava intacto.Era, portanto, provável que não voltasse mais para lá, agora que estava assim destroçado e escancarado.O corpo inteiro pareceu-lhe então abjeto e sem valor.Alongou-se em longas reflexões sobre essas questões, esquecendo o corpo e afastando-o do pensamento.Seu afeto se desviou então do corpo para recair no senhor e motor do corpo, e unicamente sentiu amor.

A adolescência: o conhecimento dos seres e a técnica.

No momento em que começou a exalar cheiro repugnante, viu dois corvos que lutavam. Um deles acabou por matar o adversário, pôs-se a esgaravatar o solo até abrir um buraco aí depôs o pássaro morto e o cobriu de terra. ”Como é louvável!Eu devo, com mais razão ainda, cumprir esse dever com minha mãe.”Cavou um fosso, depositou nele o cadáver da mãe e o cobriu de terra.

Prosseguiu examinando outras gazelas, os animais e plantas percorrendo a margem da ilha e procurando encontra um ser igual a ele. Assim como via para cada indivíduo, animal ou vegetal, um grande número de gêneros, mas não encontrava nenhum.Vendo, por outro lado, que o mar cercava a ilha por todos os lados, acreditava que não existia outra terra no mundo.

Chegou um dia em que a mata pegou fogo, ficou mudo de espanto, mas não deixou de si aproximar pouco a pouco, a admiração que o fogo lhe inspirava, junto com a intrepidez e a força de caráter com que Deus havia dotado o levaram a estender a mão em sua direção para pega-lo, mas, quando tocou, o fogo queimou-lhe a mão e não pode apanhá-lo. Teve então a idéia de pegar um tição que o fogo não havia atingido inteiramente.Apanhou-o pelo lado intacto enquanto outro estava incandescente, e conseguiu leva-lo para alugar que servia de abrigo.

Este a substituiu luz e o calor do sol sentia por ele grande amor e o considerava superior a todas as coisas que o cercavam. Dentre as coisas que jogava no fogo encontro diversos animais marinhos que o mar havia depositado na praia.

Quando ficaram assados, o cheiro se propagou e excitou-lhe o apetite. Atribuiu o calor a vida e frio ao fim dela.Desejou em seguida explorar todos os membros e órgãos dos animais, estuda-lhes a disposição, as posições, estudar o acontecia para que seu calor não se perca.

Ele dessecou os animais, estudou seus órgãos, suas armas e todas as umas das funções que dispõe de órgão para servi-lo, mas observou que nenhum execute um ato que não provenha do que lhe vem deste espírito através de canais chamados de nervos.

Quando esses canais são cortados ou obstruídos, cessa a ação do membro ou do órgão que ele serve.

Ele chegou a essas considerações com vinte e um anos.

Durante esse período, sua engenhosidade tinha se desenvolvido de diversas maneiras. Tinha se vestido e calçado com a pele dos animais que dessecava, havia usado pelos como fio, assim como as fibras dos caules da alteia, da malva e de todas as plantas filamentosas, também fez sua habitação, havia moldado alguns tipos de lanças, fixando chifres de búfalos amansou cavalos e os capturou e nenhum animal lhe resistia, evitavam-no e fugiam dele.

O conhecimento teórico.

Investigou todos os corpos que existiam no mundo e da corrupção: os animais das diferentes espécies, as plantas, os minerais, as pedras de diversos tipos, terra, água, vapor. Começou a deduzir pequenas diferenças em comparações com seus caracteres comuns, daí que o espírito e todos os indivíduos da mesma espécie tinham uma única e mesma coisa, só diferindo por sua repartição entre um grande número de corações, e que se a totalidade do que neles se encontra disseminado pudesse ser juntado e reunido num só continente, tudo isto faria uma única coisa: Assim como um único volume de água ou de vinho repartido em grande número de recipientes, depois juntada é sempre uma mesma coisa, seja no estado de dispersão, seja no de reunião, pois a multiplicidade não lhe sucedeu se não por acidente, sobre certo ponto de vista.

Assim considerada a espécie inteira lhe pareça una e a multiplicidade dos indivíduos que ela compreende-lhe pareça comparável, a multiplicidade dos membros de um indivíduo que não é realmente uma multiplicidade.

Evocando em seu pensamento todas as espécies animais, e examinando-as, no que tem em comum a sensação, a nutrição, o movimento voluntário em todas as direções e sabia que dentro das funções do espírito animal são estes que lhe pertencem mais propriamente.

É assim que uma mesma água, repartida entre vários recipientes, pode ser mais ou menos fria, mesmo que sempre uma só e mesma coisa. Assim considerado, todo reino animal lhe parecia uno.Comparando as plantas aos animais, reconheceu nelas uma só e mesma coisa, de que todas participam, que preenche nelas o papel do espírito no animais, e pelo qual são una.

Até o que ele só conhecia corpos e a estabilidade dos seres (animal, plantas, fogo, vento, chama, água, ar), assim considerados parecia-lhes reduzir-se a uma coisa única, ao passo que, do primeiro ponto de vista ele lhe aparecia como uma multidão numerosa e infinita.

Ele permaneceu neste estado de espírito durante certo tempo.

Os corpos: substância e atributo.

Apercebeu-se de que cada um desses corpos é indefectivelmente (corpos vivos ou inanimados) providos de uma dessas duas tendências, ou tende para cima como a fumaça, ou tende para a direção contrária, para baixo como a água, os fragmentos de terra, de vegetal e de animal.

Observou os corpos leves e pesados, e evidenciou que a essência de cada um desses dois corpos, se compõe de atributos. O primeiro em comum:o atributo”corporeidade”.O segundo é o que distingue a essência de cada um deles do outro, seja para um o peso, para o outro a leveza.Unidos de um lado e de outro ao atributo “corporeidade”: é o atributo pelo qual um se dirige para cima e outro para baixo.E que outra coisa se acrescente a isso, quer essa coisa seja uma ou múltipla.

Assim as formas dos corpos lhe aparecem na sua diversidade. Foi para ele a primeira oposição do mundo espiritual, já que estas formas não podem ser captadas pelos sentidos, mais somente por um certo modo de especulação intelectual.Compreende em particular que o espírito animal alojado no coração -de que se falou antes- deve necessariamente ter também um atributo acrescentado à sua corporeidade, que o ponha em condições de realizar esses atos admiráveis: as diferentes espécies de sensações de operações representativas de movimentos.

Esse é a sua forma, a diferença específica pela qual se distingue de todos os outros corpos, é o que os filósofos chamam de “alma animal”. Do mesmo modo nas plantas(alma vegetativa).

Da mesma maneira nos corpos inanimados há diversas espécies de movimentos de qualidades sensíveis. Essa coisa é a forma de cada um deles: é o que os filósofos chamam de “natureza, matéria, forma e extensão”.

Ele se afastou se desinteressou do atributo “corporeidade” ele se interessou pelo outro atributo que se dá o nome de alma.

Começou a investigar a investigar os corpos e observou que todos os corpos terrosos (terra, pedra, metais, plantas, animais) e todos os corpos pesados formam um só grupo de onde resulta o movimento para baixo enquanto nenhum obstáculo se opõe terem sido movidos para cima coação, sua forma os conduz para baixo sendo que desse grupo as plantas e os animais possuem essa forma em comum com todo o grupo, mais possuem, além disso, uma outra forma de onde provém a nutrição e o crescimento. Nutrição consiste em que o ser q eu se alimenta substitui os elementos de seu corpo enquanto ao crescimento são três as dimensões, conservando certas relações de comprimento, largura e profundidade.

Procurou então encontrar uma qualidade comum a todos os corpos vivos e inanimados, e não encontrou nada parecido, exceto aquele comum a todos (a extensão), desdobrando nas dimensões que se chamou largura, comprimento e profundidade.

Observou a argila e da vulnerabilidade dessas dimensões mostrou lhe que estas formam um atributo distinto da própria argila, mais a impossibilidade de que a argila seja desprovida de dimensões, mostra-lhe que elas fazem com tudo, parte de sua essência.

O elemento que neste exemplo corresponde à argila é o que os filósofos chamam de matéria ou hylé. Ela é totalmente despojada de formas.

A idéia de um autor do universo.

Ora ele sabia em virtude de um princípio necessário que tudo o que é produzido exige um produtor. Assim delineou-se em sua alma em linhas gerias e vagas a idéia de um autor de formas.Depois estudando sucessivamente uma por uma, as formas que já conhecia, viu que todas são produzidas e devem necessariamente ter uma causa eficiente.

Via, pois, claramente que os atos emanados dela não pertencem na realidade a essas formas, mais a uma causa eficiente que produz no meio delas atos que lhe são atribuídos.

“““ “““ Essa idéia que lhe surgiu é aquela expressas por essas palavras do enviado de Deus,” que Deus encha de benção e lhe conceda salvação”.

“Eu sou o ouvido pelo qual ele ouve e a vista ela qual ele vê”, em sua reflexão sobre o objeto, viu que todos nascem ou perecem. Os que não via perecer na totalidade, via perecer em parte, tais como a água e a terra, cujas partes via perecer pelo fogo, o ar perecer pela intensidade do frio para tornar-se água e gelo, eis a razão que o fez voltar a atenção para os corpos celestes.Chegou a essas reflexões por volta dos vinte e oito anos.

O mundo celeste.

Reconheceu que o céu e todos os astros que ele contém são corpos, são extensos segundo as três dimensões. Perguntou-se sua extensão era finita ou infinita. Com sua inteligência viu que um corpo sem limites é absurdo, uma impossibilidade, inconcebível.

Examinou primeiro o sol, a lua e os outros astros. Viu que todos nascem do lado do oriente e se põem do lado ocidente.Via dentre eles os que passam no zênite descrever um círculo maior, e os que estão distanciados em direção ao norte ou ao sul descrever um círculo menor que os mais próximos, de modo que os menores círculos nos quais se movem os astros são dois círculos, um que tem por centro o pólo sul.

Descobriu que o movimento dos astros só podem ser explicados por um reto número de esferas, todas contidas numa só, que é a mais alta, e que faz girar todas as outras do oriente para o ocidente no período de um dia e uma noite. Conseguiu conhecer grande parte da ciência do céu.

Por fim o que constitui neste mundo da geração e da corrupção, ele reconheceu que toda esfera, contudo que abrange é o único corpo, quando compreendeu que tudo é na realidade como único indivíduo, quando captou suas partes múltiplas em sua unidade, pondo-se num ponto de vista semelhante aquele de onde havia captado de sua unidade os corpos situados no mundo da geração e da corrupção, ele se perguntou se o mundo em seu conjunto é uma coisa que tendo começado a ser depois de não ser, que teria surgido do nada para a existência, ou então uma coisa que nunca teria deixado de existir no passado, não tendo nunca sido precedido pelo nada. Quando se apegava a tese da eternidade, muitas objeções o detinha, tiradas diante da impossibilidade da existência de um corpo de sem limites.Via também que este mundo não esta livre de acidentes produzidos, que não pode ser anterior a eles.Ora, o que não pode ser anterior aos acidentes produzidos é também produzido.

Apegava-se a tese a criação, outras dificuldades o detinham, ora o tempo é parte integrante do mundo e é inseparável dele: não se pode, pois, conceber o mundo mais recente que o tempo “Se o mundo foi produzido, ele tem necessariamente um produtor”.

O autor do universo e seus atributos.

Cansado dessa investigação pôs-se então a examinar conseqüências:

Esse autor não pode ser alcançado por nenhum dos sentidos, se não pode ser sentido não pode ser imaginado e por fim se autor do mundo, sem dúvida alguma tem poder sobre ele e o conhece.

Será que Ele não o conhece que criou?Ele é o sagaz, o sábio. E se admitisse que o mundo é eterno no passado, que sempre foi como é e nada o precedeu, resultaria da necessidade que seu movimento é eterno, sem começo, uma vez que não foi precedido de um repouso, em seguida ao qual teria começado.Havy já havia reconhecido que a realidade essencial de cada corpo provém unicamente se sua forma.Em conseqüência, a realidade do mundo inteiro não provém senão de sua disposição de receber o impulso desse motor isento de matéria, de qualidades corpóreas, de tudo que é acessível aos sentidos ou a imaginação.E se esse motor é o autor dos movimentos do céu, os quais produz por uma ação invariável, contínua, indefectível, sem dúvida nenhuma tem poder sobre ele e os conhece.

Ele compreendeu que todas as coisas que existem tem necessidade desse autor para existir e que nenhuma dentre elas pode subsistir senão por Ele. Ele é sua causa e elas são seus efeitos, tenham elas passado a existência, precedidas do nada, o que não tenham tido começo no tempo.Em conseqüência, o mundo inteiro, contudo que o contém, céus, terra e todo intervalo é sua obra, sua criação, e lhe é posterior ontologicamente, mesmo que não seja cronologicamente.

Desse autor “que só tem que ordenar quando quer uma coisa, dizendo lhe sê ela é”.

Ele ficou maravilhado com a sabedoria, ante prodigiosa e que o deixou estupefato de admiração diante de toda criação desde a menor até a maior.E cada vez que viu no universo uma marca de beleza, de magnificência, de perfeição, de poder ou de alguma superioridade, reconhecia nela, após reflexões, uma emanação desse autor, um efeito de sua existência e de sua ação.

Com Ele que é existência, perfeição, plenitude, beleza, esplendor, poder e ciência, Ele que é Ele mesmo pos tudo é perecível sobre sua face.

Da idéia de Deus ao conhecimento reflexivo da essência humana. Chegou a esse patamar da ciência com trinta e cinco anos, seu interesse por esse autor do mundo crescia e se enraizava fortemente em seu coração.Desligava inteiramente o coração do mundo sensível para liga-lo inteiramente ao mundo inteligível.

Concluiu daí que sua essência, por meio da qual o perceba, era uma coisa incorpórea, a qual caminha nenhuma das qualidades dos corpos, que toda parte exterior e corpórea que percebia em seu ser na era sua verdadeira essência não consistia senão nessa coisa meio da qual percebia-se necessário.

Quanto maior fora a perfeição, o esplendor, beleza do objeto perceptível, maior será também o desejo do objeto perceptível, maior será também o desejo que inspira, e mais viva a dor que causa a sua perda. Referia-se aos sentidos do corpo.

Daí as conclusões que vão a seguir. Quando aquele que possui semelhante essência apta a semelhante percepção se separa do corpo pela morte, ele se encontra num desses casos:

1. Enquanto se servia do corpo, não adquiriu nenhuma idéia desse ser necessário, nunca se uniu a ele, nunca ouviu falar dele.

2. Enquanto se servia do corpo, adquiriu a idéia desse ser, conheceu sua perfeição, mas se afastou para suas paixões e morte o surpreendeu neste caso.

3. Adquiriu a idéia de esse ser necessário antes de se separar do corpo, voltou-se inteiramente para ele, aplicando a se meditar sobre sua glória, sua beleza e esplendor e não se desviou até a morte.

Perturbado por sua meditação e saindo do estado em que se encontrava, só com grande esforço conseguira voltar a esse estado de intuição e temia ver a morte se abater sobre ele de repente enquanto estivesse em estado de abstração e cair assim na infelicidade eterna, da dor e separação.

Observou as plantas, os animais, os astros e estrelas e concluiu que os corpos celestes, com maior razão, estão no mesmo caso que eles, conhecem esse ser necessário e dele tem permanentemente intuição atual.

Particularidade da natureza humana

Foi então que se perguntou porque só ele dentre as espécies todas (animais) tinha o privilégio dessa essência e tornava semelhante aos corpos celestes.

Ora, como espírito animal que tempo cede o coração, realiza um alto grau de equilíbrio, pois é mais sutil do que a terra e a água, mais espesso que o fogo e o ar, ele ocupa o meio, nenhum dos elementos se opõe a ele com uma oposição manifesta, por que o dispõe consequentemente a forma animal.Compreendeu que dessas premissas resultava necessariamente as seguintes conseqüências:O mais bem equilibrado desses espíritos animais esta apto a vida mais perfeita que existe no mundo da geração e da corrupção.Sendo verdadeiramente intermédio entre os elementos, não se move de maneira absoluta nem para cima e nem para baixo, e se pudesse ser colocado no meio da distância que existe entre o centro da terra e o mais alto limite que o fogo alcança , aí ficaria imóvel sem sofre corrupção, sem procurar subir nem descer.Se ele se movesse deslocando-se, seria para girar ao redor de um centro como fazem os corpos celestes, Se ele se movesse no lugar, seria girando sobre si mesmo, e seria de forma esférica, nenhuma outra sendo possível.Tem pois, uma estreita semelhança com os corpos celestes.

Compreendeu que ele era animal dotado de uma alma perfeitamente equilibrada e animal semelhante aos corpos celestes.Fora criado para outro fim e destinado a alguma coisa de grande, ao que não estava destinado nenhuma outra espécie animal.

A ação, a ascese a união

A compreensão lhe levou a tomar como modelo os corpos celestes, a imitar-lhe as ações e a fazer todos os esforços para se tornar semelhantes a eles.Compreendeu também que se assemelhava a todas as espécies animais pala parte mais vil de si mesmo.Logo, os atos aos quais era obrigado apresentava como tendo um triplo objeto.Eram:

-Atos pelos quais se assemelhavam aos animais desprovidos de razão;

-Ou então aos corpos celestes;

-Ou ainda pelos quais se assemelhando ao ser necessário ele mesmo.

Para aquele que tem essa intuição sua própria essência não esta mais presente nele, ela desapareceu, se dissipou, assim como todas as outras essências, numerosas ou não, salvo a essência, do único verdadeiro, necessário, grande, altíssimo e onipotente.

A primeira assemelhação.

Observou para fazer substituir esses espíritos duas coisas são necessariamente exigidas.Conservá-la interiormente e preserva-la exteriormente e afastar dele todas as causas de dano, tais como frio, calor, chuva, ardor do sol, animais perigosos etc...

Compreendeu que deveria delimitar o que diz respeito ao gênero das coisas que consumiria, e determinar quais seriam essas coisas, sua quantidade e os intervalos de tempo a observar os gêneros de coisas de que nos alimentaria, viu que havia três:

-As plantas ( legumes, verduras), os animais, as frutas das plantas.

Compreendeu que para aproximação do agente, deveria abster-se, se possível de toda a alimentação, já que, se alimentado deles colocaria ponto final a ele e os impediria de atingir a perfeição.Mas isso lhe causaria extinção e resolveu que desses diversos gêneros de seres, se alguns viessem a faltar, deveria pegar os que estivessem a mão, a medida que julgasse conveniente.Em relação a quantidade julgou que deveria ser apenas o suficiente para apaziguar-lhe a fome.

A segunda assemelhação.

Dedicou-se em seguida à segunda espécie de atos, quer dizer, à assemelhação aos corpos celestes, a sua imitação e à aquisição de qualidades.Estudou-lhes os adventos, os caracteres que se reduziam a três gêneros.

Os caracteres que apresentam em relação as coisas que ficam abaixo deles no mundo da geração e da corrupção.Agente dotado de uma existência necessária.

Caracteres que lhe pertencem por essência, tais como a transparência, o brilho, a pureza, a essência do que quer que seja de apagado ou de maculado. Este busca a perfeição, a assemelhação dos corpos celestes.

Caracteres que lhe pertencem em relação ao ser necessário, como o fato de ter dele a intuição perpétua, de não se desviar dele, de estar enamorado dele.Ele pôs se então, a fazer todos os esforços para se tornar semelhante deles nestes três gêneros de caracteres.

A terceira assemelhação.

Atributos positivos, tais como a essência o poder, a sabedoria, e atributos negativos, tais como a essência de “corporeidade” e alimentos dos corpos, daquilo que deles decorre e daquilo que eles se ligam mesmo de hoje.Essas considerou como os atributos do ser necessário.Aos atributos positivos compreendeu, se ele pudesse conhecer a essência divina, esse conhecimento pelo qual o conheceria não seria uma idéia acrescentada à essência de vida, mas seria própria divindade.E pelo fato se tornou semelhante a esse ser divino, atributos positivos consistia em conhecer somente ele mesmo, sem lhe associar nenhum atributo corpóreo.A isso se dedicou.

Os atributos negativos eles equivalem a ausência da corporeidade.Dispõe-se então a eliminar de sua própria essência os atributos de corporeidade.Preservou para chegar a eliminação da essência em si, à absorvição na intuição pura do ser verdadeiro.

Por fim, conseguiu chegar – lá.Tudo desapareceu de seu pensamento e de sua memória:os céus, a terra e tudo o que fica no intervalo entre eles, todas as formas espirituais, as faculdades corpóreas e separadas de toda matéria, isto é, as essências que tem a idéia do ser verdadeiro.

Restou apenas o único, verdadeiro, o ser permanente dizendo-lhe com estas palavras que não são nada acrescentado à essência:”A quem pertence agora a soberania?A Deus único e irresistível”.

Mergulhou neste estado e captou o que nenhum olho viu, o que nenhum ouvido ouviu, o que nunca se apresentou ao coração de um mortal, ”Não consagres o coração a descrever uma coisa que um coração humano pode se representar.Pois dentre as coisas que o coração humano representa, muitas são difíceis de descrever.Não quão mais difícil de descrever é a coisa que o coração não consegue, por nenhum caminho, representar-se que não pertence ao mesmo modo que ele, que não é da mesma ordem”.(Alcorão 11,16)

Compreendeu que sua verdadeira essência era essência do verdadeiro, que era como a luz do Sol que cai sobre os corpos opacos e que parece estar nele, pois, mesmo que se atribua essa luz ao corpo no qual aparece, na realidade ela nada mais é que luz do Sol.Se esse corpo desaparece, sua luz desaparece, porém a luz do Sol permanece na sua integridade.Sua presença é ela mesma a própria essência, a verdadeira essência de todas as coisas por causa dessa argumentação especiosa, uma só e mesma coisa.Compreendeu em Deus única essência, de forma singular, somente uno.

Antes ficava indeciso, pois o mundo sensível é a pátria do plural e do singular, nele se apreende a verdadeira natureza de ambos, nele aparecem a separação e a re-união, o lugar numérico, o encontro e a dispersão.’’Pessoas que não conhecem senão aparência da vida neste mundo.Quanto outra vida, não se preocupem com ela”.

A união mística.

Chegado à absorção pura, ao completo aniquilamento da consciência de si, à união verdadeira, ele viu intuitivamente que a esfera suprema, possui uma essência isenta de matéria, que não é a essência do único, do verdadeiro, mas que é como a imagem do Sol refletida num espelho, nem alguma coisa diferente de um e outra.Ele viu que a essência dessa esfera, essência separada, tem um esplendor, uma beleza grande demais para poderem revestir-se com a forma de letra e de sons.Sentiu que essa essência alcança o mais alto grau da felicidade, júbilo, contentamento, e alegria pela intuição do verdadeiro, do glorioso.

Ele se vislumbrava com a essência da criação, a multiplicidade, as cores, o infinito, as obras do criador e suas formas, a união de tudo.Uma sabedoria ordenadora e eficaz, com coroamento e insuflação, produção e restituição.Mas ele não tardou em recuperar os sentidos.Despertou desse estado semelhante ao desmaio, seu pé escorregou dessa estação, o mundo sensível reapareceu enquanto o mundo divino desaparecia.

“As montanhas serão arrancadas, tornadas semelhantes a flocos de lã, e os homens a borboletas, que, o Sol e a Lua serão envoltos em trevas e que os mares se espalharão no dia em que a Terra for transformada em outra coisa que não Terra, e mesmo acontecer aos céus”.Agora sobre o que viu Havy, nesse estado sublime, não peças para aprender mais a respeito disso com palavras.

Quanto ao fim de sua história, quando voltou ao mundo sensível após ter saído dele dessa maneira, ficou com aversão às preocupações da vida terrena.Sentiu um vivo desejo pela outra vida e esforçou-se para chegar a sua estação.isso foi mais fácil que da primeira e segunda vez, e aí permaneceu por muito tempo.Permaneceu nesta estação até ultrapassar seus cinqüenta anos.Foi então que entrou em relação com Assal, e vou relatar que lhe sucedeu, se for do agrado do Deus Altíssimo.

Assal e Sulaiman.

Conta-se que numa ilha vizinha àquela em que Havy nascera, segundo uma das duas versões relativas a sua origem, havia-se introduzido uma das estimáveis religiões provenientes de um antigos profetas.Esta exprimia todas as realidades verdadeiras com símbolos que davam imagens dessas realidades verdadeiras e imprimiam seus esboços nas almas, como é costume nos discursos que se endereçavam a multidão.

Esta se tornou poderosa e se expandiu na ilha, até que por fim o rei dessa ilha a abraçou e exortou o povo a aderir a ela.Nesta ilha haviam dois homens de mérito e de boa vontade:Assal e Sulaiman, estes tomaram conhecimento desta religião e a abraçaram com ardor, empenhando-se em observar todos os seus preceitos, sujeitando suas práticas e cumprindo-a juntos.Assal penetrava ao sentido oculto e místico, Sulaiman ao sentido exterior, a abster-se da interpretação da alegórica, do livre exame da especulação.Essa divergência de opiniões foi causa de sua separação.

Assal parte para a ilha de Havy, tinha ouvido falar da geração espontânea de Havy, do clima temperado e dos recursos de fertilidade da ilha.Pensava em alcançar sua realização e viver isoladamente, segundo seus desejos e decidiu ir para lá, passar o resto da vida longe dos homens, e ficou lá adorando somente a Deus e meditando.

O encontro.

Um dia, Havy tendo saído para procurar alimento no momento em que Assal temia que se o abordasse e travasse conhecimento com ele, que fosse uma causa de perturbação para seu estado e um obstáculo à realização de seus desejos.Quanto a Havy, não soube o que era esse ser, não reconhecera nele forma de nenhum animal que já tivesse visto.Assal escolheu a fuga, temendo que ele o desviasse de seu estado e Havy lançou-se em sua perseguição, levado por sua tendência natural a tudo aprofundar.

Então Havy aproximou-se pouco a pouco sem que Assal percebesse, e logo estava bastante próximo para ouvi-lo ler e louvar a Deus, para ver lhe a humilde postura e as lágrimas.Ouviu uma bela voz e articulações ordenadas, tais como havia ouvido proferir por nenhum animal.Observou suas formas e traços e constatou que tinha o mesmo aspecto que ele mesmo, sua atitude humilde, suas lágrimas, suas súplicas e não duvidou de que fosse uma das essências que conhecem o verdadeiro.sentiu-se atraído por ele, desejoso de saber o que lhe sucedia, e qual a razão de sua lágrimas.

No contato inicial Assal teve medo de Havy, porém Havy procurou tranqüiliza-lo com inflexões de voz que havia aprendido dos animais, passando-lhe a mão na cabeça e acariciando-lhe.Após toda a manifestação de bondade e alegria, Assal tentou falar com Havy sendo ele dotado de ciência dfe interpretação de línguas.Pediu-lhe informações em todas as línguas que conhecia, esforçando-se para se entender, mas foi em vão.Havy admirava o que ouvia, mas não entendia, de tal modo que cada um deles considerava o outro com espanto.

Por fim entregou-se, pois, à convivência com Assal, por seu lado, Assal, vendo que ele não falava, tranqüilizou-se a respeito dos perigos que ele podia representar a sua devoção.

Esperava ensinar-lhe a linguagem, a ciência, a religião, aumentar assim seu mérito e se aproximar de Deus.Assal pôs-se então a ensinar-lhe primeiro a linguagem, esta, por meio de objetos e seus nomes.Chegou dessa maneira a ensinar-lhe todos os nomes pouco a pouco, num tempo certo, pô-lo em condições de falar.

Assal pôs se a interrogar Havy sobre sua pessoa, o lugar de onde tinha vindo para essa ilha e Havy explicou que ignorava qual podia ser sua origem que não conhecia, pais e mães, salvo a gazela que o havia criado.Informou-lhe sobre tudo que lhe concernia e sobre os conhecimentos que adquirido, a essência do verdadeiro, poderoso e grande.Assal não duvidou de que todas as tradições de sua religião, Havy havia captado sem rodeios.Os olhos de seu coração se abriram, o fogo de seu pensamento acendeu, ele estabelecia a concordância entre razão e tradição.

Considerou desde então Havy com admiração e respeito, tendo por garantido ele entre os amigos de Deus que não sentirão nenhum medo e não serão afligidos.

Assal descreveu sua ilha, sua religião e decisões de paraíso, fogo do inferno, ressurreição e o gênero humano trazido de volta a vida.Havy compreendeu tudo isso e não viu aí nada que estivesse em oposição ao que tinha contemplado, em sua estação sublime.Depositou confiança nele, acreditou em sua veracidade e prestou homenagem a sua missão.

Porém Havy questionava seus preceitos e não compreende em sua sabedoria duas coisas:Por que esse enviado se servia frequentemente de alegorias na descrição do mundo?Por que havia abstido de apresentar a verdade nua?Por que ter escolhido o que faz cair os homens no erro grave de dar um corpo a Deus, de atribuir à essência verdadeiro caractere do que é isento e puro?E segundo, por que se apegava ele a esses preceitos rituais.Pensava que os homens compreendessem o verdadeiro valor e ignorava a inércia e imperfeição de seu espírito, a falsidade de seu julgamento e a inconstância.

O fracasso de Havy.

Cheio de compaixão desejou ardentemente levar-lhes a salvação,e expor-lhes a verdadeira maneira clara e evidente.Perguntou a Assal se havia um meio de chegar até os homens.Assal o esclareceu sobre a imperfeição de sua natureza, porém Assal não perdeu a esperança em Havy e permaneceram em orações e súplicas a Deus para que conduzisse seu empreendimento para um bom fim.Os amigos de Assal vieram vê-lo a eles o cercaram em peso, admirando seu caso.O chefe dessa ilha era Sulaiman, o amigo de Assal, que julgava preferível apegar-se à sociedade.

Havy tentou então instruí-los e revelar-lhes os segredos da sabedoria, porém começaram a se afastar dela diante de suas verdades contrárias a seus preceitos.Havy começou a aborrecê-los e se desanimou de corrigi-los a perdeu toda a sua esperança de convencê-los.Examinou e viu que “aqueles de categoria contentes com o que tem, tomam suas paixões por Deus, seus desejos por objetos de culto, que se matam a recolher os ramúsculos deste mundo”, absorvidos em recolher pelo interesse até na hora de visitar o túmulo.”

Estavam cegos e mergulhados em suas verdades, só captavam de sua religião o que diz respeito a esse mundo, faziam comércio e transações o que impedia de lembrar-se de Deus altíssimo, entendeu que tentar mantê-los na verdade era coisa inútil.A maioria dentre eles, o lucro que podiam tirar da lei religiosa concernia à sua existência presente.Assim que compreendeu as diversas condições dos homens e captou que a maioria deles está no patamar dos animais desprovidos de razão.Reconheceu que toda sua sabedoria, toda direção e toda assistência residem nas palavras dos profetas, nos ensinamentos trazidos pela lei religiosa, que nada mais é possível e nada se pode acrescentar, que existem homens para cada função, que cada um é mais apto a fazer aquilo em vista do que foi criado.

Havy fracassa em sua missão, se vê obrigado retornar para seu mundo, que distante deste não precisava de meios para ter o contato com Divino, este já possuía intimidade por essência.

es de voz que havia aprendido dos animais, passando-lhe a mazal.Observou suas formas e traços e constatou que tinha o mesmo asp

Comentários:

Eliminar todas as formas de preconceito, se permitir olhar mais com os olhos puros do coração.

De todas as formas possíveis e impossíveis que pudesse nos contar sobre o nascimento de Havy, nenhuma me faria suspeitar de sua real passagem pela terra, ou pelo menos acreditar em sua, existência, mesmo que um pouco surreal, nos conduz a uma real reflexão.

De todas as gerações que pudessem preceder o homem, Havy se aproxima de uma gênese concreta, entre todas as primeiras descobertas que fez seus primeiros passos, seus primeiros sentimentos e sua sensível percepção dos sentimentos que possuía, este demonstra a transcendência do homem que é desejoso do conhecer, uma luz que erradia seu espírito garimpeiro e desbravador.

Havy começa por analisar seu ambiente e os seres que o povoam, desde a natureza, o equilíbrio, o ciclo animal e vegetal e suas peculiaridades própria de cada espécie.

Há uma busca interior constante no personagem, este que se aflige com as diferenças e se perturba com as inquietas perguntas do ser, nele ocorrem diversas perguntas e respostas simultaneamente, ele é a pergunta e ele é a resposta.

No decorrer da obra o filósofo, se torna um alquimista das grandes questões do homem em relação ao cosmo e ao mundo, em Havy a identificação é quase inevitável, qualquer semelhança não é pura coincidência.

Sua primeira infância é cercada de enigmas diante da imensidão de novas descobertas, o apelo pelo saber é inesgotável em seu interior, ele esta em uma dimensão de profundas descobertas que o levam a questioná-las e ainda mais pesquisar.

Havy não se basta em seu pequeno mundo, o convite permanente que cada animal, planta, mineral e astros o fazem para um desvelar de sua origem e seu contato com eles é desafiador.

As buscas de semelhantes e semelhanças, o entender de diferentes e diferenças, o caminho para o nascer e para o morrer, as informações colhidas em cada acontecimento na ilha,é um grande motivo para fazê-lo refletir e situar-se no mundo, no cosmo e no equilíbrio do qual faz parte sua existência num todo infinito.

Compreender o que não é compreendido entender-se como o uno no todo, relacionar-se com a biosfera, com a natureza, com o meio ambiente e seu sistema, as diversas espécies de animais, uns totalmente inofensivos e outros totalmente agressivos.

Os mais variados tipos de revestimentos animais, suas presas e garras, chifres e galhos, enfim uma infinidade de novidades.

O clima da ilha e suas variações, o frio e o calor, à noite e o dia, o escurecer o clarear.

De todos os desafios e novas descobertas que a ilha e seus moradores o proporcionavam dia-a-dia, a mais radical foi o encontro com a morte, o inevitável despedir-se do ser desse cosmo, desse mundo para uma nova dimensão que é totalmente desconhecida pelo homem. A velhice que se aproximava da gazela, o esgotamento de sua fonte da vida, a fraqueza de seus órgãos e membros que não correspondiam mais a vontade do cérebro e por fim o desacelerar definitivo das batidas de seu coração.

Como sobreviver com a perda, com o ausentar-se sem despedidas, o filósofo viu-se afrontado pelo mistério da vida, e não obstante de seus sentimentos, da dor e vazio interior, quis saber o que levara o ser a esse desfecho.

Resolveu abrir a gazela, e não poupando esforços para desvendar os motivos de sua morte, Havy inicialmente investigou o exterior do corpo, o que fizera que não descobrisse nada, foi levado então aos órgãos internos, buscando algum dano aparente, por fim resolveu abrir o coração e suas cavidades, observou na cavidade esquerda um sangue coagulado, mais a degradação do corpo lhe fez parecer abjeto e sem nenhum valor. Havy inicia sua primeira e mais profunda reflexão sobre a vida do corpo, sobre a provável existência de uma força ou uma luz donde provêm tudo e todos, a essência por excelência, algo além do corpo, algo que responderia sua pergunta sobre a vida.

A adolescência e o conhecimento técnico dos seres é seu próximo abrigo, com a luta de dois corvos e o seu respectivo comportamento diante da morte, ao observar que um corvo estava a cavar um fosso para enterrar e cobrir o pássaro morto, neste momento pensou em sua mãe e no respeito que deveria ter com o cadáver da gazela e resolveu repetir o mesmo o ato do corvo, abriu a mãe terra, para receber em seu seio, sua mãe, a gazela de cuidara dele até seu último suspiro de vida.

Acentua-se assim seu entender dos sentimentos provenientes de sua natureza.

Durante um grande incêndio na mata, desperta em si uma admiração pelo fogo, sua força e intensidade que se apropria nos objetos que toca ao seu redor.

O fogo que para ele substituía a luz e o calor do sol, este mesmo que podia assar os alimentos e prepara-los com melhor paladar.

Atribuiu o calor a vida, que a perda dele significara o término, calor que mantém os corpos sadios.

Havy começa a dessecar os animais e usar seus órgãos e armas, queria entender como acontecia para a perda de calor do corpo, e como não perder o calor.

Assim dessecou animais, estudou seus nervos, as funções do organismo a execução de movimentos.

Havy queria compreender, sendo a espécie única de todas as outras que pertenciam a grupos, tentara ele desenvolver seu intelecto para o desvendar de suas indagações intimas.

Acredito na busca mais íntima do que simplesmente saber o que movia, ele queria entender por que movia e o que fazia mover sem cessar, o espírito que regia a tudo, o pensamento que pensa a si próprio.

No âmago do ser, o filósofo aos vinte e um anos, esta no ápice de suas considerações e neste período sua engenhosidade, sua técnica e habilidade se apresentam bem desenvolvidas.

Do porque das coisas ele agora vislumbra o para que das coisas e seu papel neste equilíbrio, em que consiste sua existência no dinamismo da natureza.

Consta na obra que neste período Havy começa a se armar, afiar lanças e fixar chifres, a se vestir e se calçar, tornando assim temido pelas outras espécies.

Também é relatada a construção de sua habitação, a proteção de seu corpo e preservação de si é notável em seu comportamento. Se tornou de todos os seres que haviam na ilha o mais inteligente e poderoso.

Havy se aprofunda nos corpos, em todos os corpos que existem no mundo e no cosmo. Observa suas diferenças e características, ele é um cientista, um atento alquimista diante da corrupção existente nos corpos.

O filósofo diante de suas reflexões, chega ao ponto mais profundo de toda pesquisa, o investigação do investigador.

Havy se vê diante do sagrado, do sagrado que ultrapassa sua compreensão humana, a transcendência que irradia a luz, luz essa que os olhos não estão preparados para enxergar, agora ele vai ao abismo do ser, do seu ser.

As respostas para todas suas indagações, estas que se responde por si só, diante de tamanho estranhamento com as coisas, a meditação será a experiência suprema de Havy.

Como um belo diamante, que resplandece sua luz após a lapidação, o filósofo se lança nas cavernas do ser, nas grutas do intelecto e mergulha nas cascatas de sua existência.

Uma experiência metafísica, já não há uma antropologia em questão mais uma antropogênese, a “archê” do ser, este que emerge do infinito, a contemplação mais profunda do homem.

O homem que surge do próprio homem, uma “difania” que é realizada na revelação com o Divino.

Como no “mito da caverna”, Havy ao se deparar com Assal na ilha, corre desesperadamente em seu encontro, se vislumbrando em descobrir um novo ser uma nova possibilidade, observei ao mesmo tempo uma corrida deixando tudo que ele já conquistara de conhecimento, diante do desconhecido.

Assal era a luz para fim de suas interrogações, um ser que se assemelhava com ele, alguém que pudesse lhe apresentar uma boa nova.

Na magnitude peculiar de Havy, no visitante se rende a luz do filósofo, mesmo sem as palavras, ele imitava os gestos mais puros dos animais e envia sinais de harmonia.

Diante do encontro dos dois e os ensinamentos que partilharam, já falavam o mesmo idioma, porém a Assal ainda não alcançara a luz da liberdade que emanava de Havy.

A incompreensão diante da mais intima revelação que o filósofo teve com o sagrado, faz com que ele fosse rejeitado. Havy não compreendia as alegorias, os símbolos e rituais que aqueles homem utilizavam para se aproximar de Deus.

Ele que tinha as portas abertas com o sagrado, suas meditações eram obras de profundos diálogos com Deus, como aceitar as barreiras que aqueles apresentavam como entender o comércio que realizavam com a essência.

Havy fracassa em seu caminho peregrino, porém acredito que sua sabedoria transforma o homem, e ele fez uma grande viagem em torno de si, dos corpos celestes, do cosmo e do mundo.

O filósofo autodidata é uma obra que coloca o leitor no centro da história, te convida a fazer parte, e se torna inesquecível para quem ler te faz viver numa ilha cercada de possibilidades de cada dia descobrir o infinito da criação, pelas mãos do criador.

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