quarta-feira, 18 de junho de 2008

A verdade e a utilidade da ciência na perspectiva do filósofo Francis Bacon.



PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

Programa de Aprendizagem: Prática profissional I: Pesquisa em Filosofia

Orientador: Mr. Jelson de Oliveira.

PROJETO DE PESQUISA

Charles Fernando Gomes[1]

1. TEMA

A verdade e a utilidade da ciência na perspectiva do filósofo Francis Bacon.

2. DELIMITAÇÃO

Verdade e utilidade da ciência: uma relação igualitária em Francis Bacon

3. PROBLEMA

Sendo duas categorias aparentemente opostas. Como provar que verdade e utilidade sobrevivem igualitariamente na ciência segundo Francis Bacon?

4. JUSTIFICATIVA

Para Francis Bacon[2] (1561-1626), a realidade tem a ver com aquilo que realizamos no mundo. Com isso ele é muito mais moderno por seu pensamento pós-metafísico do que Descartes. O pragmatismo marca seu pensamento. O historiador Paolo Rossi (comentador) afirma: que se Bacon tivesse sido levado a sério não teríamos sido levados pela tradição platônica, aristotélica, tomista e kantiana do subjetivismo.

Seu discurso é repleto de força intelectual e científica ao afirmar o que a ciência deve ou não deve ser e fazer. Para o filósofo, todo o nosso conhecimento tem uma inserção histórica. Segundo Bacon, o poder do homem extrair da natureza elementos para sua existência é poder da ciência.

O homem como intérprete e servo da natureza, nas palavras do filósofo, se apropria de duas condições importantes no papel de curador da natureza. O comentador, Paolo Rossi[3], tenciona em sua obra Os filósofos e as máquinas, esclarecer o significado que se deve atribuir a uma expressão de Bacon, contida no parágrafo 124 do Novum Organum[4], freqüentemente interpretada com pouca exatidão: ipsissimae res sunt veritas et utilitas. Verdade e utilidade é a mesma coisa para a ciência de Bacon, isto é, o filósofo sustenta uma identidade entre teoria e prática, verdade e utilidade, ciência e potência, considerando extremamente perniciosa uma contraposição entre tais termos. Bacon não compreende a filosofia como um “estério deserto”, idéia esta que se assemelha em sua concepção ao saber tradicional desde os pré-socráticos até Telésio, mas sim a uma união entre saber e operar, teoria e prática, discurso lógico e técnicas experimentais.

O intérprete afirma que Bacon deseja dar fundamentos as bases de uma enorme utilidade. Ambiciona, uma reforma lógica e vê nisto a necessidade de conscientizar os homens acerca da identidade entre progresso na teoria e na prática, entre potenciação dos instrumentos cognoscitivos e potenciação das capacidades operativas do homem.

O autor do Novum Organum (Bacon) situara a soberania do homem no conhecimento e, afirma que o fim da ciência é servir à vida, identifica o homem como “aquilo que o homem conhece” sendo assim, reafirma a dependência do homem diante do saber científico. Os enigmas postos pelo mito da Esfinge, segundo Rossi, são interpretados por Bacon, sendo o enigma relativo à natureza e ao que se refere ao homem, é respondido por Bacon em sua frase: “só conhecendo a natureza humana será possível adquirir domínio sobre ela”.

Por fim verdade e utilidade, segundo Bacon, seriam faces da mesma moeda, isto ocasiona uma ciência precisa que não só organiza e cataloga suas experiências mais também exige a utilidade da idéia, da verdade que fundamentará o experimento proporcionando maior precisão e dispensando a hipótese[5] com suas imprecisões.

5. OBJETIVOS

5.1 OBJETIVO geral

Apresentar a garantia da absoluta operacionalidade do saber científico e da plena coincidência entre saber e operar. Em outras palavras, entre a verdade e a utilidade na concepção de Bacon.

5.2 Objetivos específicos

a) Explicitar a noção assimétrica de verdade e utilidade na síntese científica de Bacon;

b) Analisar as críticas de Bacon em relação ao sistema lógico de Aristóteles;

c) Mostrar a adequação dos termos verdade e utilidade quanto à adequação do termo utilitarismo do pensamento de Francis Bacon.

d) Apresentar o conceito de verdade e utilidade em seu inteiro sentido no projeto baconiano sobre a ciência

6. REFERENCIAL TEÓRICO.

O filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) escreveu sua obra mais conhecida Novum Organum (publicação 1620) dois anos após tornar-se lorde chanceler e barão de Verulam (1618) e dois anos antes de publicar a História Natural (1622). É importante compreendermos o contexto histórico (político, social e econômico) da Inglaterra, este que se insere o filósofo, como atuante e influente antes de aprofundarmos nesta obra que foi um marco intelectual de sua vida.

Período esta de grande ascensão inglesa nos campos político e econômico no reinado de Elizabeth I. Foi partícipe na corte real em diversos setores (econômico, social, científico, religioso, filosófico) e astuto defensor do reino nos inúmeros combates de forças contrárias ao governo da rainha. Momento histórico do absolutismo inglês em vias de consolidação, apoiado pelas atividades comerciais elevadas, que serviriam de sustentáculo econômico-social para a monarquia.

Ao escrever sua mais famosa obra, Bacon contrapõe-se ao Organum aristotélico[6] e a ciência dedutiva, pois ela sai do universal para o particular semelhante à sua lógica e questionará a dialética e suas precauções tardias que nada modificam o andamento das coisas, mais serviram para firmar os erros que descerrar da verdade. O autor afirma que “(...) se os homens tivessem empreendido os trabalhos mecânicos unicamente com as mãos, sem o arrimo e a força dos instrumentos, do mesmo modo que sem vacilação atacaram as empresas do intelecto, com quase apenas as forças nativas da mente, por certo muito pouco se teria alcançado, ainda que dispusessem para seu labor de seus extremos recursos” (BACON, 1979, p.6)

Ele defende o uso de máquinas e técnicas (precursor da tecnologia) para a dominação da natureza, o que sem esses meios seria praticamente impossível. Para Bacon somos guias e curadores do ambiente natural, defende a coligação entre reflexão e filosofia e pede que haja dois métodos: um destinado ao cultivo das ciências e outro destinado à descoberta científica, ou seja, o primeiro método ou caminho de antecipação da mente e ao segundo de interpretação da natureza. Afirma sermos verdadeiros filhos da ciência, e nos convida a penetrarmos nos recônditos domínios por trás dos vestíbulos da ciência começada pelo pleno domínio de si mesmo e do juízo dela. (BACON, 1979, p.9)

Bacon[7] almejava a garantia da absoluta operacionalidade do saber científico e da plena coincidência entre saber e operar, significando a via da verdade e da potência, que é a mesma escrita pelo filósofo em Aphorismi et consilia, que encontra as formas das coisas e do conhecimento.

Para Paolo Rossi (comentador), é estranho que os que falam em “utilitarismo” ou “tecnicismo”, baconiano tenham freqüentemente fundado suas argumentações na base das mesmas perguntas a que Bacon tentou responder. Bacon, porém configura sua resposta de duas maneiras distintas: Na Partis instaurationes secundae delineatio, Bacon afirma que quem protesta, em nome da vida contemplativa, protesta contra si mesmo, porque a pureza da contemplação e a invenção e construção das obras se fundam sobre as mesmas coisas e são fruídas em conjunto. No Cogitata et visa e no Novum Organum, a resposta é que o império do homem reside apenas na ciência e que o homem pode apenas pelo que sabe e arremata que como na religião exige-se fé com obras, da mesma forma na filosofia natural exige-se que a ciência seja demonstrada com resultados práticos.

Assim nas palavras de Bacon, o intérprete compreende as verdadeiras marcas que o filósofo estabelece postas pelo Criador sobre as criaturas, isto é, as obras devem ser consideradas mais como garantias da verdade do que por causa das comodidades da vida. Bacon sustenta com clareza a “verdade e utilidade como mesmíssima coisa”, sustentação que tanto recebeu interpretações conflitantes. Rossi cita Spedding, defensor de maior autoridade que desistiu de justificar esse emprego do termo ipssimae (da mesma coisa) por parte de Bacon.

Rossi assume a briga e justifica a tradução com o parágrafo 13 de segundo livro do Novum Organum, em que o filósofo compreende verdade e utilidade ser a mesma coisa referente ao homem e ao universo, mas diferem apenas como o aparente e o existente, o externo e interno. No parágrafo 20, o intérprete justifica pela utilização do termo ipissimus e resgata a definição de calor que é ao mesmo tempo especulativa e operativa se produzir num corpo natural um movimento dotado das características indicadas infalivelmente, gerar-se-á calor. Ambos os termos (verdade e utilidade) na filosofia baconiana apresentam-se juntas e idênticas, ou seja, a fecundidade da verdade científica depende do seu caráter de plena verdade e das duas intenções humanas gêmeas (escreve Bacon), a ciência e a potência, coincidem numa única, e a ignorância das causas gera o fracasso das obras.

Portanto, se existe uma subordinação da ciência[8] à técnica em Bacon, esta existe para manter íntegra e sem margens para conclusões fantásticas[9], ou seja, compreender uma subordinação da verdade à utilidade, do saber ao operar nas palavras conclusivas do intérprete que laboriosamente explica a filosofia deste arauto da ciência moderna e espantam possíveis e impossíveis contradições a cerca de suas reais pretensões em relação à ciência.

7. METODOLOGIA DE PESQUISA

A pesquisa é de cunho bibliográfico, tendo como foco central a obra Novum Organum, aliada com as outras obras de Bacon, como também de seus comentadores (como Paolo Rossi).

8. CRONOGRAMA

JULHO

Coleta de dados na obra do filósofo inglês Novum Organum

AGOSTO

Continuar leitura das obras e o fichamento. E iniciar a elaboração do item “a” e “b” dos objetivos específicos

SETEMBRO

Elaboração dos itens “c” e “d” dos objetivos específicos

OUTUBRO

Elaboração da introdução, dos capítulos e da conclusão do artigo

NOVEMBRO

Entrega final e Apresentação

9. REFERÊNCIAS.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfred Bosi. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

BACON, Francis. Nova Atlântida. Trad. José Aluysio Reis de Andrade. 2. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979 a.

_____. Novum Organum. Trad. José Aluysio de Andrade. 2. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979 b.

FARIA, Ernesto. Dicionário Escolar Latino-Português. 2. ed. Rio de Janeiro: MEC/DNE,1956

ROSSI, Paolo. Bacon e Galileu: os ventos, as marés, as hipóteses da astronomia. Trad. Álvaro Lorencini São Paulo: UNESP, 1992.

ROSSI, Paolo. Os filósofos e as máquinas: 1400-1700. Trad. Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

RUSSEL, BERTRAND. Obras filosóficas. 3º. V. 3ª. Ed. São Paulo: Nacional, 1968.

10. REFERÊNCIA COMPLEMENTAR

ARAÚJO, Inês Lacerda. Introdução à filosofia da ciência. 3ª. ed. UFPR, Curitiba,2003

BACHA, M.L. A indução em Bacon. In:_____. A indução de Aristóteles a Pierce. SP: Legnar Informática & Editora, 2002. Cap.2, p.35-49.

_____. The Works of Francis Bacon. R.L. ELLIS, J. SPEDDING, D.D. HEATH (ed.). Londres,1857-92

BURNS, Edward Mcnall. História da civilização ocidental. Trad. Lourival Machado; Lourdes Machado. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Globo, 1952.

LAUDAN, L. Teorias do Método Científico de Platão a Mach. Cadernos de História e Filosofia da Ciência, Campinas, Série 3, v.10, n.2, p.9-140, jul-dez. 2000.

OLIVA, A. (Org.). Epistemologia: a cientificidade em questão. Campinas, SP: Papirus, 1990.

OLIVEIRA, B.J. Francis Bacon e a fundamentação da ciência como tecnologia. BH: UFMG, 2002ROSSI,Paolo. Da magia à ciência.Trad. Aurora Fornoni Bernardini.Londrina:EDVEL, 2006

ROSSI, Paolo. Francis Bacon: da Magia à Ciência.
SALMON, W.C. Lógica.Trad. Leonidas Hegenberg e Octanny Silveira da Mota. RJ: Zahar Editores, 2006.




[1] Licenciando em Filosofia pela PUCPR

[2] Francis Bacon (1561-1626) é conhecido como o fundador do método indutivo e pioneiro no intento de sistematização lógica do procedimento científico. Bacon foi educado em uma atmosfera de negócios do estado inglês. Era nacionalista e entrou para o parlamento aos 23 anos, como conselheiro. Em 1617, obteve o cargo do pai, lorde do grande selo. Em 1618 torna-se lorde chanceler, mas depois de dois anos no cargo, foi processado por ter aceitado suborno. Admitindo a verdade da acusação obteve como pena o afastamento da vida pública e do Estado. Depois de cinco anos de alheamento, morreu em conseqüência de um resfriado (contraído enquanto realizava um experimento sobre refrigeração, recheando de neve uma galinha).

Ele viveu numa época de intenso movimento cultural e sua atividade política concedeu-lhe condições para dominar essa efervescência. Nascido durante o reinado de Elizabeth I foi partícipe dos setores econômico, social, científico, religioso, filosófico e do combate entre as antigas e as novas forças que eram contrárias ao governo da rainha. Com a reforma religiosa de Henrique VIII (1491-1547), as terras que estavam sobre o poder da Igreja foram confiscadas pela Inglaterra, e destas surgiu uma pequena nobreza fundiária que juntamente com os elementos ligados às atividades comerciais florescentes, estas serviriam de sustentação econômico-social para o absolutismo, em vias de consolidação.

[3] ROSSI, Paolo. Os filósofos e as máquinas 1400-1700. In:_____. Verdade e utilidade da ciência em Francis Bacon. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

[4] O Novum Organum é escrito por Bacon em forma de aforismos, textos simples e assistemáticos, a obra estabelece uma nova regra debatedora às filosofias anteriores, ditadoras de uma filosofia universal, sistemática e doutrinária. Seu pensamento é inovador ao afirmar que a “(...) a natureza não se vence, se não quando se lhe obedece. E o que à contemplação apresenta-se como causa é regra na prática” (BACON, 1979, p.13). Sua célebre frase “saber é poder”, possibilita-nos compreender o que ele deseja da natureza por intermédio da ciência, que é unir e apartar os corpos (homem e natureza) sabendo que o restante a natureza realiza por si mesma.

[5] O método indutivo de Bacon possui falha por não considerar o papel da hipótese? Quando Bacon refuta o método dedutivo afirmando que as noções (das quais constam proposições) são apenas “etiquetas das coisas” e declara que se trata de extrair de modo não grosseiro tais noções das coisas particulares, deixa escapar qualquer compreensão da função exercida pelas hipóteses no saber científico. Não é por acaso que, nas hipóteses, ele só vê uma ilegítima e arbitrária antecipação da natureza. Nesta oposição de Bacon a todo procedimento de tipo dedutivo (e também na recusa de hipóteses) viu-se justamente um dos limites do método baconiano. Bacon, sem dúvida não se deu conta da existência de ciências “nas quais o trabalho de escolha e de concatenamento de proposições já conhecidas ou admitidas como verdadeiras constitui um meio muito mais seguro e eficaz de pesquisa que a experiência direta, embora diligente e auxiliada pelo uso de instrumentos, e nas quais mesmo o procedimento de tipo dedutivo é o único meio usado não só para a verificação, mas também para a descoberta de novas leis e novas relações” (ROSSI, 2002, p.206)

[6] Para o filósofo, Aristóteles havia formulado uma ciência para resolver todos os problemas de sua época, um saber obscuro, que busca reconstruir o mundo por categorias (substância, espaço, ato e potência, tempo), mas isso nada soluciona segundo Bacon. Afirmará ser contemplativa e pastoral a filosofia do renascimento, ou seja, o mundo sendo apenas contemplado e não transformado, experimentado e conhecido.

[7] Bacon tem a ciência como o “pão”, este que é destinado aos usos da vida humana, acredita que o homem perdeu a inocência e o domínio das criaturas pelo “pecado” e que estas podem ser recuperadas pela religião com a fé, pelas artes e a ciência e não com disputas e cerimônias mágicas. O filósofo respira uma ciência racional, lúcida que o leva a fazer severas críticas aos doutores escolásticos e suas disputas dialéticas despropositadas. Desprezava o silogismo aristotélico e subestimava a matemática cartesiana, desejava simplificar o mundo e banir as superstições dos ídolos (que ele enumerou) realçando-lhe o que é favorável. Seu alicerce filosófico era o pragmatismo que dava-lhe suporte para dar à humanidade domínio sobre as forças da natureza por meio de descobertas e invenções científicas.

[8] Francis Bacon assume a paternidade da ciência moderna ao gerar o Novum Organum, tem a intenção de repaginar a posição do homem e da ciência frente à natureza balizando-as em justa posição. O homem para Bacon é servo, escravo e intérprete da natureza, ou seja, um leitor nato, um desbravador que a utiliza para compreender e fazer, transformar e modificar pela observação e análise os fatos e fenômenos que ocorrem nela (natureza) em seu curso natural. É importante compreender esse processo de Bacon como um utilitarismo da natureza de forma responsável, responsabilidade esta que não lhe deixa ser um predador e usurpador, mas sim um conhecedor que a experimenta e produz um efeito benéfico sobre ela.

[9] Criticará Platão por ter uma filosofia fantasiosa e supersticiosa.

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