domingo, 22 de junho de 2008

A MOTIVAÇÃO E SUA IMPORTÂNCIA NA APRENDIZAGEM


A MOTIVAÇÃO....

É importante compreendermos que a motivação é um processo de estímulo do sujeito frente ao mundo e seus desafios. Schopenhauer apresentou o mundo como vontade e representação de nossos desejos, Freud relacionou o desejo como fator intrínseco do indivíduo, Lacan fez uma releitura do desejo freudiano e destacou a necessidade de ser reconhecido que possuímos e Michel Foucalt trabalhou as relações do sujeito e do poder frente à sociedade.

Foucalt no final de sua vida salientou que o grande problema que o ser humano possui e a maior interrogação que ele se faz é: o que fazer com o tempo que eu possuo? Podemos ousar responder, porém antes refletir, que o maior problema que vivemos no século XXI, ou até mesmo durante toda nossa existência seria o seguinte: O problema não é a desmotivação que assola o homo sapiens contemporâneo, acredito, porém, ser, o uso que fazemos ou não da motivação que temos.

Se possuímos um oceano, uma infinitude de motivações que visitam nosso coração, mente e espírito. O que podemos fazer com eles? Dar maior importância? Talvez essa resposta fique no sopro dos ventos, na melodia das canções, nas cordas de um violão, nas palavras em giz escritas no quadro, ou melhor, no mais íntimo de cada ser humano que povoa nossa casa comum, assim, que cada um escreva sua resposta.

Toda aprendizagem é associativa, é construção e significado. Para aprender a dirigir, a plantar ou a compreender a importância de modos de produção na organização social é preciso ter motivos, é preciso atender às características relevantes, recuperar o aprendido e aplicá-lo às novas situações. A aprendizagem semelhante à culinária ou preparação de bebidas, também é uma questão de química, de misturar elementos para produzir novas e felizes combinações, em vez de poções e beberagens que possam ser fatais, isto é, podemos melhorar a química de nossas combinações na aprendizagem didática.

Aprender implica mudar, e a maior parte das mudanças em nosso entendimento precisa de grande quantidade de prática. Aprender, principalmente de modo explícito ou deliberado, supõe um esforço que requer altas doses de motivação. Na aprendizagem, é preciso procurar sempre um motivo. Pozzo (cf.2002, p. 138) pergunta por qual razão o professor vai buscar novas e laboriosas técnicas para avaliar a compreensão de seus alunos se, no final das contas, os pais querem o de sempre: que seus filhos passem e não que aprendam? No entanto, perguntamos, será que esse “passar” não pressupõe compreender?

Questões como esta se apresentam explícitas no processo de aprendizagem. Nelas gastamos energia, tempo, às vezes dinheiro, e sempre uma boa parte de nossa auto-estima, por isso os motivos para aprender devem ser suficientes para superar a inércia de não aprender. Segundo a mecânica newtoniana, um objeto em repouso precisa de uma força para se pôr em movimento, da mesma forma que um objeto em movimento necessita de uma força para se deter. Em ambos os casos há uma cômoda inércia que leva a se manter no estado atual, a não mudar. É o que acontece a muitos alunos e, certamente, a professores que se deixam levar pela imutabilidade, passando, assim, despercebida a importância do ato de motivar que conduz a mudar, gerar novos motivos onde antes não existiam, o que levava à dispersão do aluno.

Motivar não é manipular prêmios e castigos. O motivo principal da aprendizagem são as conseqüências. Trata-se de conseguir algo desejado, ou de evitar algo indesejado, em troca de aprender. A motivação extrínseca, se estabelece numa situação em que o motivo para aprender esta fora do que se aprende, são suas conseqüências, não a própria atividade de aprender em si. Não há dúvida, um bom sistema de incentivo move e, às vezes, comove o aluno, mas incentivar externamente a aprendizagem tem certas limitações que fazem sua eficácia decrescer consideravelmente em certas condições (o problema esta em encontrar prêmios e castigos que funcionem).

É preciso recorrer às necessidades socialmente construídas, que funcionam como valores ou desejos cuja eficiência são mais eficazes dependendo do grau em que os alunos a interiorizam. A aprovação social (na forma de aprovado ou notável) ou a escapada de situações sociais desagradáveis ( apresentar as notas aos pais) são valores que podem afiançar determinadas aprendizagens, mas que não funcionam do mesmo modo com todos os seus alunos. Na motivação extrínseca, os resultados da aprendizagem dependem totalmente da manutenção que irá resultar dos prêmios ou castigos, isto é, dos resultados que o aluno receber por seu empenho. Diferentemente da motivação intrínseca, em que o ato de aprender é unido à satisfação pessoal de compreender. Em outras palavras quando a razão para se esforçar está no que se aprende (andar de bicicleta, falar outro idioma, compreender melhor meus filhos).

Aprender mais prazer é igual a conhecer. Compreensão esta que se baseia em uma pessoa que se dedique a aprender denominado assunto, porque sente prazer falando-o ou fazendo-o. O que move a aprendizagem é o desejo de aprender devido ao ato. Conter subjetivamente um sentido, um significado e para alcançá-la necessitasse vivê-la num contexto emocionalmente favorável. Para que o aluno crie o interesse intrínseco pelo que aprende, deve perceber uma autonomia nas metas de sua aprendizagem e nos meios para alcançá-las, além de viver a situação de uma forma afetivamente positiva, isto nos leva a compreender porque a aprendizagem se move tão minimamente na educação obrigatória.

Em todo caso, se os motivos para tentar uma aprendizagem podem ser inicialmente extrínsecos ou intrínsecos, o mais freqüente é que se produza uma combinação de ambos, daí a relevância de motivar os alunos a interiorizar o desejo de aprender, primordialmente, pelos motivos que se percebe fora de si ( no mundo). O mal não é que já não se aprenda nada, porém a falta de vontade de tentar voltar a aprender, significando um novo desejo, ou a inquietude do aluno por saber e compreender.

Nossos desejos nem sempre estão bem motivados. Se com o tempo persistimos em alguma atividade será porque além da razão inicial surgiram novos desejos. Nossas aspirações se alternam e buscam novos sentidos, sentidos estes que impulsionam ao processo de aprender e focam prioridades[1]. A motivação não depende só das metas que possuímos, mas do sucesso que esperamos se tentamos alcançá-las. É o que propõe a teoria da motivação de êxito[2], segundo a qual a motivação frente a uma tarefa é sempre um produto do valor que atribuímos a um resultado (um motivo) pela expectativa em alcançá-lo e o hábito adquirido em consegui-lo.

Essa atribuição são construções que fazemos sobre nossa intelectualidade, auto-estima e ligadas às nossas teorias implícitas. Atribuímos nossos sucessos e fracassos sobre os resultados daquilo que desejamos e projetamos. Mesmo que seja instável ou estável, um resultado nós atribuímos a ele valores para dizer se vale apena refleti-lo ou não. Exemplificamos como o aluno que sempre falha no cumprimento de suas tarefas e jamais assume a responsabilidade por esse fracasso, porém como fazer esse ato falho tornar-se motivação e superação é o nosso objetivo enquanto sociedade. Motivar para aprender, mas sendo realista para não criar ilusão. Em todo caso, a análise conjunta de expectativas e valores na motivação, sugere algumas vias pelas quais os professores podem intervir na motivação com que seus alunos se acercam da aprendizagem e se mantém nela.

Há dois caminhos fundamentais (aumentar a expectativa e o sucesso da aprendizagem), Tapia[3] detalha seis princípios para melhorar o planejamento motivacional das tarefas de aprendizagens:

  1. Encontrar sentido no que está fazendo adequando as tarefas numa autentica interação;
  2. Informar os objetos e os meios para alcançá-los, guiando e orientando o aluno;
  3. As atividades de avaliação devem proporcionar aprendizagem para ambos (professor e aluno), avaliando o sucesso da estratégia instrucional;
  4. Partir dos interesses do aluno para mudá-lo e levá-lo a observar valores e sentidos do conhecimento;
  5. O aluno deve possuir autonomia para determinar as metas e se auto-avaliar. A motivação aumenta quando se aprende partilhando com amigos;
  6. Valorizar cada progresso na aprendizagem. Não só por seus resultados finais, mas como também pelo interesse que manifesta.

Enfim, esses princípios poderiam ser resumidos numa idéia importante: a possibilidade que um professor tem de mover seus alunos para a aprendizagem depende em grande parte de como ele mesmo enfrenta sua tarefa de ensinar ( e aprender ensinando).

A motivação do educando não pode se desligar muito da que tem seus professores. O ato de ensinar deve ser prazeroso, deve conter um sentido que permita inverter os papéis na sala de aula de forma consciente. Pode-se concluir que sem motivação não há aprendizagem, porque ela é considerada como um requisito, uma condição prévia da aprendizagem. Aprendizagem mais motivação mais atenção é igual à boa educação que produz bons aprendizes e bons mestres.

REFERÊNCIAS

ALONSO TAPIA, J. Motivacion e aprendizage em el aula: cómo enseñar a pensar. Madrid: Santillna, 1991.

POZZO, Juan Ignacio. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Trad. Ernani Rosa. Artmed, Porto Alegre, 2002.



[1] Entendido como prioridades: os atos que proporcionam sentido na aprendizagem e necessariamente estão subjacentes valores motivadores.

[2] Juan Ignácio Pozo se remete, neste ponto, à obra de Atkinson e Raynor intituilada Personality, motivation and achievement. 1978, Hemisphere.

[3] Motivacion e aprendizage em el aula: cómo enseñar a pensar. Madrid: Santillna, 1991

2 comentários:

Unknown disse...

Eu não acredito que eu tenho um xará com os 3 nomes iguais ao meu!

Isso é coincidência demais! Eu assustei, pensei que tinham me clonado! hahahaha

fra. Charles Fernando disse...

Interessante..meu chará.


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