domingo, 8 de junho de 2008

DEVIR PRODUÇÕES (Sócrates)


CONVEM COMUNICAR AO LEITOR QUE ESTE TEXTO É DIRECIONADO A ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO.

DEVIR PRODUÇÕES


1 INTRODUÇÃO


“Uma vida sem exame não é digna de ser vivida” (Sócrates)


O tema do cuidado de si foi e é muito debatido na filosofia. Muitos foram os pensadores que defenderam um modo de viver baseado nas virtudes. Sócrates, a quem se detém este capítulo, foi o primeiro a ter esse cuidado em relação ao homem.
Antes dele outros filósofos pensaram sobre a origem do mundo e respeito da vida e da morte (o que é, classicamente, chamado de geração e corrupção). Mas eles nunca se dedicaram, ou, pelo menos, não o fizeram totalmente, pensar sobre o ser humano. Isto foi tão marcante que dividiu a filosofia em pré-socrática e socrática. Esta se estende até os dias de hoje.
O texto que se segue tratará primeiro sobre o conhecimento e o cuidado do homem para consigo mesmo, depois se faz algumas considerações a respeito da franqueza, qualidade primeira do filósofo, e, em terceiro plano, expor-se-á o método que Sócrates usava quando dialogava com os atenienses.
Este capítulo mostra, enfim, que a filosofia também pode ser uma terapia do homem que, para viver melhor, precisa se conhecer e se cuidar, viver virtuosamente.


2 SÓCRATES: CONHECER E CUIDAR


Desde Sócrates a filosofia assumiu uma função terapêutica, segundo Candiotto. Assim, a escola filosófica assemelha-se a uma clínica e a condição para que haja a terapia é que o leitor ou do auditor tenha disposição para mudar seu modo de vida.
Para que, de fato, a filosofia seja terapêutica ela precisa ser um exercício de si no pensamento.
O filosofar de Sócrates esta baseado no provérbio “Conhece-te a ti mesmo” que era uma frase localizada no frontão do templo do deus Apolo em Delfos, na Grécia antiga. A frase aludia o indivíduo a pesquisar profundamente o que solicitaria à divindade, a fim de pedir somente o necessário. Com Sócrates essa expressão ganha um valor de cuidado, pois denota uma preocupação do homem em conhecer quem é e do que é capaz.
Esse cuidado indica uma atitude diferente do sujeito para consigo, com os outros. Sugere a conversão do olhar das coisas exteriores para o que acontece dentro de si. É uma tentativa de manter um olhar vigilante sobre o pensamento, implica, ainda, e principalmente, uma relação singular com a verdade, pode-se dizer: com a franqueza, tema este que será tratado na seqüencia.


3. SENDO FRANCO...


De certa maneira, pode-se dizer que Sócrates assumiu uma medicina: a de cuidar dos seus concidadãos, ou antes, de lhes ensinar a se cuidarem. Para tal, ele precisava formar um discurso que o tornasse digno de confiança, ou seja, um discurso franco.
No tempo de Sócrates o logos já havia passado por uma desvalorização na qual perdeu sua marca divina. Aquele homem tentou reanimar os atenienses na procura daquele traço divino que fora, na sucessão dos dias, esquecido.
Para realizar essa missão ele percorria as ruas de sua cidade, berço do pensamento especulativo, fazendo a mesma pergunta: “o que é?”. “O que é virtude, O que é coragem, O que é bondade?” Atrás de cada questão, buscava uma definição correta, a esperança de um acordo entre a palavra e o ser .
Franqueza sugere, também, é uma abertura de coração, uma liberdade de palavra. Essa abertura assinala que se deve dizer o que realmente é necessário. É neste ponto que repousa a grandeza de Sócrates. Foi por ele ser sincero e verdadeiro que hoje é considerado um modelo moral, político e social.
Por fim, a franqueza é procurar viver sem falsidades. É a característica vital do filósofo. Mais que discutida ela deve ser amada, e não há mudança de vida se não houver amor ela.
Foi visto, até agora, na concepção do pensador ateniense, o conhecimento que traz o cuidado e a franqueza. Na próxima unidade mostrar-se-á o método que ele usava: a maiêutica.


4. O MÉTODO SOCRÁTICO


A fama de Sócrates se espalhou quando alguém comentou o oráculo de Delfos disse que era Sócrates o homem mais sábio de Atenas. Ao saber disso, este procurou saber as razões que levaram a divindade a pronunciar palavras que eram polêmicas e enigmáticas. Resolveu, então, examinar as pessoas mais consideradas de sua época: os políticos, os artesãos, e os poetas. Verificou, através da dissimulação irônica , que não eram sábios, contudo afirmavam saber muitas coisas, as quais, na verdade, não conheciam ou, se conheciam, era pouco.
Conforme sabemos, “a verdade dói”, por essa razão ele foi considerado culpado de fazer o falso parecer verdadeiro, o trabalho do sofista , e de corromper os jovens. Ele sabia serem essas acusações improcedentes. Delas se defendia. Argumentava que ensinara a velhos e moços que não eram as riquezas e o corpo, mas a alma bem tratada, isto é, o interior humano, que dava virtude e, conseqüentemente, felicidade, conforme podemos ver no livro Defesa de Sócrates, de Platão, seu discípulo e um dos maiores pensadores da história. Mesmo assim ele fora condenado a dormir, como um valoroso guerreiro, seu sono derradeiro.


5 CONCLUSÃO


Acima se tratou do conhecimento de si, da franqueza do verdadeiro filósofo e do método de Sócrates, tudo isso constitui uma terapia filosófica. Nessa lendária “novela da vida real” o pensador quer dar aos concidadãos seus, uma chance de se curarem das máculas que um determinado modo de vida neles provocou, fazendo-os se esquecerem de preservar as amizades e de cultivar as virtudes. O mal que ele combate não é a pobreza ou doença, mas o moral ; Deseja que seus “irmãos” vivam moralmente, isto é, falem sempre a verdade, pois concordar com a crença de saber mais do que realmente se conhece é um pathos . A filosofia socrática é uma censura a esse péssimo hábito.


REFERÊNCIAS


ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. Trad. A. Bosi; I. C. Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

CANDIOTTO, César. Filosofia e coragem da verdade em Michel Foucault. In: Filósofos e terapeutas em torno da questão da cura. São Paulo: Escuta 2007.

PLATÃO. Defesa de Sócrates. Trad. J. Bruna; L.R. Andrade; Gilda Starzynski. 2ª. Ed. São Paulo: abril cultural, 1980.


REALE, Giovanni; DARIO, Antiseri. História da filosofia. São Paulo: Paulinas, 1990.

ROGUE, Christopher. Compreender Platão. Trad. J. Clasen. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.

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