quarta-feira, 14 de maio de 2008

RESENHA DA OBRA O “NOVUM ORGANUM”, DE FRANCIS BACON


RESENHA DA OBRA O “NOVUM ORGANUM”, DE FRANCIS BACON

O filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) escreveu sua obra mais conhecida Novum Organum (publicação 1620) dois anos após tornar-se lorde chanceler e barão de Verulam (1618) e dois anos antes de publicar a História Natural (1622). É importante compreendermos o contexto histórico (político, social e econômico) da Inglaterra, este que se insere o filósofo, como atuante e influente político antes de aprofundarmos nesta obra que foi um marco intelectual de sua vida.
Período esta de grande ascensão inglesa nos campos político e econômico no reinado de Elizabeth I. Foi partícipe na corte real em diversos setores (econômico, social, científico, religioso, filosófico) e astuto defensor do reino nos inúmeros combates de forças contrárias ao governo da rainha. Momento histórico do absolutismo inglês em vias de consolidação, apoiado pelas atividades comerciais elevadas, que serviriam de sustentáculo econômico-social para a monarquia.
Ao escrever sua mais famosa obra, Bacon contrapõe-se ao Organum aristotélico e a ciência dedutiva, pois, sua lógica sai do universal para o particular . Questionará a dialética e suas precauções tardias que nada modificam o andamento das coisas, mais serviram para firmar os erros que descerrar da verdade. O autor afirma que “(...) se os homens tivessem empreendido os trabalhos mecânicos unicamente com as mãos, sem o arrimo e a força dos instrumentos, do mesmo modo que sem vacilação atacaram as empresas do intelecto, com quase apenas as forças nativas da mente, por certo muito pouco se teria alcançado, ainda que dispusessem para seu labor de seus extremos recursos” (BACON, 1979, p.6)
Ele defende o uso de máquinas e técnicas (precursor da tecnologia) para a dominação da natureza, o que sem esses meios para ele seria praticamente impossível. Para Bacon somos guias e curadores do ambiente natural, defende a coligação entre reflexão e filosofia e pede que haja dois métodos: um destinado ao cultivo das ciências e outro destinado à descoberta científica, ou seja, o primeiro método ou caminho de antecipação da mente e ao segundo de interpretação da natureza. Afirma sermos verdadeiros filhos da ciência, e nos convida a penetrarmos nos recônditos domínios por trás dos vestíbulos da ciência começada pelo pleno domínio de si mesmo e do juízo dela. (BACON, 1979, p.9)
Francis Bacon assume a paternidade da ciência moderna ao gerar o Novum Organum, tem a intenção de repaginar a posição do homem e da ciência frente à natureza balizando-as em justa posição. O homem para Bacon é servo, escravo e intérprete da natureza, ou seja, um leitor nato, um desbravador que a utiliza para compreender e fazer, transformar e modificar pela observação e análise os fatos e fenômenos que ocorrem nela (natureza) em seu curso natural. É importante compreender esse processo de Bacon como um utilitarismo da natureza de forma responsável, responsabilidade esta que não lhe deixa ser um predador e usurpador, mas sim um conhecedor que a experimenta e produz um efeito benéfico sobre ela.
O Novum Organum é escrito por Bacon em forma de aforismos, textos simples e assistemáticos, a obra estabelece uma nova regra debatedora às filosofias anteriores, ditadoras de uma filosofia universal, sistemática e doutrinária. Seu pensamento é inovador ao afirmar que a “(...) a natureza não se vence, se não quando se lhe obedece. E o que à contemplação apresenta-se como causa é regra na prática” (BACON, 1979, p.13). Sua célebre frase “saber é poder”, possibilita-nos compreender o que ele deseja da natureza por intermédio da ciência, que é unir e apartar os corpos (homem e natureza) sabendo que o restante a natureza realiza por si mesma.
Bacon possui um zelo quase religioso pela “nova história natural” e preocupa-se com os fatos particulares assegurando “(...) serão também encontradas em nossa história natural e em nossos experimentos muitas coisas superficiais e comuns, outras vis e mesmo grosseiras, finalmente outra sutis e meramente especulativas (...)”, o que de fato encontraremos no primeiro livro, porém prossegue “(...) estabelecemos que não há nada tão pernicioso a filosofia como o fato de as coisas familiares e que ocorrem com freqüência não atraírem e não prenderem a reflexão dos homens, mas serem admitidas sem exame e investigação das suas causas. Disso resulta que é mais freqüente recolherem-se informações sobre as coisas desconhecidas que dedicar-se atenção às já conhecidas”.(BACON,1979,p.78-79)
Observamos Bacon tendo como foco inicial de suas pesquisas a investigação das causas simples e corriqueiras da natureza frente aos homens, isto é, apesar de sua grandeza científica no papel histórico e decisivo que desempenhou lutando em sua vida inteira pelo progresso das ciências naturais foi inicialmente bem cauteloso. Contrastando assim com a visão erronia e ambígua do historiador Wilhelm Windelband (1848-1915), que acusa Bacon de possuir uma “ambição desmedida”, parece que o filósofo de antemão já contesta futuras acusações quando escreve que “não pode paire qualquer dúvida é quanto à nossa pretensa ambição de destruir e demolir a filosofia, as artes e as ciências, ora em uso. (...) sobre o livro O progresso das ciências. Não intentamos, por isso, prová-lo melhor com palavras”, esclarecendo sua real ambição frente ao progresso de sua ciência. (BACON, 1979, p.84)
O filósofo inglês possui em sua obra, a ciência como processo metódico e leva-nos a crer que ele catalogava e excluía suas análises e conclusões com o intuito de obter previsões ou novas análises úteis à ação aplicada na natureza para que seu resultado tenha o mínimo de erros possíveis. “Bacon previa que pudessem tachá-lo de “fazer algo já feito antes e que mesmo os antigos seguiram já semelhante caminho”, porém responde “nosso método de interpretação, uma vez preparada e ordenada a história de todas as coisas, tratamos de conduzir a mente de tal modo que possa se aplicar à natureza das coisas, de forma adequada a cada caso particular”. (BACON, 1979, p.84-85)
O sábio empirista é inovador ao seu tempo, é construtor de uma sólida ciência, um edifício alicerçado com os andaimes do conhecimento, e contém como base não a dialética escolástica, mas a experimentação da ciência moderna que ele é precursor. “Já é tempo de expor a arte de interpretar a natureza”, conclui o intérprete que segue a leitura interpretativa da natureza como libertação dos obstáculos para os homens que deveriam se ater a essa prédica baconiana assumindo a natureza como uma obra a ser cuidada, zelada e dedicada com ímpeto imperativo. “A arte da invenção robustecer-se-á com as próprias descobertas”, assim Bacon pretende que nada lhe seja acrescentada, mas ao contrário que consideremos a mente natural não meramente pelas faculdades próprias, mas na sua conexão. (BACON, 1979, p.89)
Bacon tem a ciência como o “pão”, este que é destinado aos usos da vida humana, acredita que o homem perdeu a inocência e o domínio das criaturas pelo “pecado” e que estas podem ser recuperadas pela religião com a fé, pelas artes e a ciência e não com disputas e cerimônias mágicas. O filósofo respira uma ciência racional, lúcida que o leva a fazer severas críticas aos doutores escolásticos e suas disputas dialéticas despropositadas. Desprezava o silogismo aristotélico e subestimava a matemática cartesiana, desejava simplificar o mundo e banir as superstições dos ídolos (que ele enumerou) realçando-lhe o que é favorável. Seu alicerce filosófico era o pragmatismo que dava-lhe suporte para dar à humanidade domínio sobre as forças da natureza por meio de descobertas e invenções científicas.
Por fim considero sua obra magna (Novum Organum), uma suma da ciência natural da modernidade que abre às portas da pós-modernidade, uma catedral ornada de compreensões acerca da mente e das faculdades naturais tendo como sua abóboda a ciência, a razão, a filosofia e a teologia comungando do mesmo propósito e aliadas ao evoluir do homem frente à responsabilidade do mistério que lhe foi dado, a paternidade e a interpretação da Gaia, da Terra, da casa comum, ou seja, da natureza que nos hospeda. O método indutivo de Bacon possui falha por não considerar o papel da hipótese? Creio que a hipótese pudesse desmoronar o edifício científico de Bacon, sendo ele um autêntico empirista que se fundamenta das bases sólidas da ciência natural.



REFERÊNCIA

BACON, Francis. Novum Organum. Trad. José Aluysio Reis de Andrade. 2. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979 b.

7 comentários:

adalberto disse...

Olá!! boa noite, sou estudante de filosofia, estou precisando de fazer uma resenha acerca de o "novum organum", de Francis Bacon, encontrei seu artigo começei a ler gostei muito da linguagem. Tenho certeza que vai me ajudar muito. Obrigado. Adalberto.

ALENCAR disse...

muito boa sua contribição, paz e bem.

Bruno Leandro disse...

Parabéns pela resenha sobre Bacon!

Unknown disse...

excelente resenha, bem objetiva :D

Anônimo disse...

Oi! boa noite, sou estudante de filosofia, e fiquei muito feliz por encontrar um trabalho, de linquagem fácil de entender e de explicar o pensamento de Francis Bacom. Obrigado pela colaboração e com certeza me ajudará a formular minhas idéias. Felicidades e que receba em drobo o autor da resenha. Valeu.

Luiza Helena Batista disse...

Legal! fico muito agradecida pela colaboração, tão importante. Pode ter certeza vai fazer toda difernça para elaboração do meu trabalho, a escrita e clara e concisa. E a linquagem feita de forma muito coerente e seguindo uma lógica de entendimento eficaz. Muito obrigado.

Mateus Uerlei disse...

Olá Charles. Seu texto é interessante, mas me trouxe algumas dúvidas grandes a partir de seu vocabulário. Uma delas surge quando você diz: "O filósofo respira uma ciência racional, lúcida..." e (...)"...subestimava a matemática cartesiana, desejava simplificar o mundo". Outro ponto que achei meio estranho é: "Por fim considero sua obra magna (Novum Organum), uma suma da ciência natural da modernidade que abre às portas da pós-modernidade, uma catedral ornada de compreensões acerca da mente e das faculdades naturais".
Soa estranho dizer que sua filosofia respira uma ciência racional, já que ele é considerado o criador do empirismo, método da experiência que desprezava as idéias anteriores à experiência.
Agora, quando fala que ele subestimava a matemática cartesiana, se refere a Descartes? Se sim, as datas não conferem muito, porque pelo que pesquisei, as obras anteriores a 1620 de Descartes não se referem a Matemática. Seus trabalhos significativos começam a surgir a partir de 1630, sobre este assunto.
E finalmente, relacionar o Novum Organum à pós-modernidade soa mais estranho ainda, caso você se referir à ciência pós-moderna. Os pós-modernos teriam um ataque se ouvissem uma relação destas.