quinta-feira, 1 de maio de 2008

PERFIL FILOSÓFICO DE FRANCIS BACON


PERFIL FILOSÓFICO DE FRANCIS BACON

1. PROBLEMA:

Francis Bacon (1561-1626) é conhecido como o fundador do método indutivo e pioneiro no intento de sistematização lógica do procedimento científico. Bacon foi educado em uma atmosfera de negócios do estado inglês. Era nacionalista e entrou para o parlamento aos 23 anos, como conselheiro. Em 1617, obteve o cargo do pai, lorde do grande selo. Em 1618 torna-se lorde chanceler, mas depois de dois anos no cargo, foi processado por ter aceitado suborno. Admitindo a verdade da acusação obteve como pena o afastamento da vida pública e do Estado. Depois de cinco anos de alheamento, morreu em conseqüência de um resfriado (contraído enquanto realizava um experimento sobre refrigeração, recheando de neve uma galinha).

Ele viveu numa época de intenso movimento cultural e sua atividade política concedeu-lhe condições para dominar essa efervescência. Nascido durante o reinado de Elizabeth I foi partícipe dos setores econômico, social, científico, religioso, filosófico e do combate entre as antigas e as novas forças que eram contrárias ao governo da rainha. Com a reforma religiosa de Henrique VIII (1491-1547), as terras que estavam sobre o poder da Igreja foram confiscadas pela Inglaterra, e destas surgiu uma pequena nobreza fundiária que juntamente com os elementos ligados às atividades comerciais florescentes, estas serviriam de sustentação econômico-social para o absolutismo, em vias de consolidação.

Na filosofia de Bacon podemos destacar algumas problemáticas: como o verdadeiro conhecimento da realidade, o pensamento pós-metafísico, a separação de teologia com ciência, o empirismo e o famoso método indutivo. Porém é importante observar que diante dessas diversas problemáticas que fazem parte do universo do filósofo, iremos nos concentrar no método indutivo exaltando o seguinte problema: o método indutivo de Francis Bacon possui falhas por não considerar a hipótese?

2. ARGUMENTAÇÃO:

Para Bacon, a realidade tem a ver com aquilo que realizamos no mundo. Com isso ele é muito mais moderno por seu pensamento pós-metafísico do que Descartes. O pragmatismo marca seu pensamento. O historiador Paolo Rossi afirma que se Bacon tivesse sido levado a sério não teríamos sido levados pela tradição platônica, aristotélica, tomista e kantiana do subjetivismo.

Seu discurso é repleto de força intelectual e científica ao afirmar o que a ciência deve ou não deve ser e fazer. Para o filósofo, todo o nosso conhecimento tem uma inserção histórica. O poder de o homem extrair da natureza elementos para sua existência é poder da ciência.

Bacon irá se contrapor aos ídolos ou preconceitos e não dará à filosofia os discursos pretensiosos dos filósofos, ou seja, discursos unívocos; únicos do saber contendo verdades para todo o sempre. Para Bacon, existem muitos ídolos da mente, que simplificam o mundo e causam superstições realçando-lhe o que é favorável. Necessita-se ter muito cuidado ao lidar com esses ídolos, pondo sob suspeita suas convicções. Enumerou-os por tipologia: ídolos da tribo, da caverna, do mercado, do teatro e das escolas.

Os ídolos da tribo são inerentes à natureza humana, isto é, o hábito de procurar ordem do que se pode observar. Já os ídolos da caverna são os prejuízos pessoais, característicos do investigador particular. Os ídolos do mercado relacionam-se à tirania das palavras. Por sua vez, os ídolos do teatro são os que dizem respeito aos sistemas de pensamentos recebidos. E, por fim, os ídolos das escolas consistem em pensar-se que alguma regra cega (tal como no silogismo, um mandamento vazio) pode ocupar o lugar do juízo pessoal da investigação.

Ele dará um destino mais prático à filosofia, isto é, à ciência. O filósofo apela para a antecipação da natureza, o que lhe fará ser o precursor de um “novo método” (o indutivo), este que faz experiências e observações rigorosas como antecipações da natureza (previsões de chuva, sol, terra para bom plantio). Bacon é o preconizador da separação entre teologia e ciência, e defensor do fortalecimento da idéia de que as descobertas de esquemas operativos não são resolução de um poder divino.

Sua obra mais importante foi The Advance of Learning (da Proficiência e o Avanço do conhecimento divino e humano). Famoso pela frase “saber é poder”, a base de sua filosofia era o pragmatismo. Desejava dar à humanidade, domínio maior sobre as forças da natureza por meio de descobertas e invenções científicas.

Bacon também acreditava numa separação entre teologia e filosofia. Para ele a razão pode provar a existência de Deus, porém na teologia isso só poderia ser alcançado através da revelação. Assim, era defensor da doutrina da dupla-verdade.

O método indutivo de Bacon, por simples enumeração, separava os fenômenos em três categorias. Na primeira e na segunda depositava as informações exatas ou evidentes, e na terceira, a mediadora das anteriores, colocava o restante. Com o método descrito esperava chegar às leis gerais; universalizando do mais baixo ao mais alto grau (exemplos prerrogativas). Desprezava o silogismo e subestimava a matemática, apreciava Demócrito e era hostil a Aristóteles. Para ele, tudo procede das causas eficientes e deveríamos ser como as abelhas, que colhem e ordenam.

O humanismo e a argumentação de palavras estão nas universidades e Bacon seguirá contra esta tradição que ele chamará de filosofia da contemplação e da verbalização de soluções, lutando com a ciência e sua nova lógica, sendo precursor da ciência do conhecimento. Ele propõe uma história das idéias ou da cultura universal; das causas e circunstâncias do aparecimento e do olvido dessas ciências. Francis além de ser o precursor do pragmatismo será também da sociologia do conhecimento, ou seja, influência precursora de Nietzsche.

Para o filósofo Aristóteles havia uma ciência para resolver todos os problemas de sua época, um saber obscuro, que busca reconstruir o mundo por categorias (substância, espaço, ato e potência, tempo), mas isso nada soluciona, segundo Bacon. Afirmará ser contemplativa e pastoral a filosofia do renascimento, ou seja, o mundo sendo apenas contemplado e não transformado, experimentado e conhecido. Criticará Platão por ter uma filosofia fantasiosa e supersticiosa.

Bacon escreve em forma de aforismos, seus textos são esclarecedores, diferente dos filósofos sistemáticos que apresentam uma nova regra que debate as outras e dita uma nova filosofia universal (o sistemático é doutrinário). O homem sendo escravo e intérprete da natureza só pode fazer e compreender tanto quanto ele tenha observado de fato no pensamento, sobre o curso da natureza; além disso, ele nem sabe e nem pode fazer nada.

Ele defende o saber e o compreender da natureza com um utilitarismo da natureza, porém responsável sem ser predador dela. E completa ressaltando que o conhecimento e o poder são um só, ou seja, conhecer é poder e poder é conhecer (você conhece e pode produzir efeito, experimentalismo).

3. HIPÓTESE:

O método indutivo de Bacon possui falha por não considerar o papel da hipótese? Quando Bacon refuta o método dedutivo afirmando que as noções (das quais constam proposições) são apenas “etiquetas das coisas” e declara que se trata de extrair de modo não grosseiro tais noções das coisas particulares, deixa escapar qualquer compreensão da função exercida pelas hipóteses no saber científico. Não é por acaso que, nas hipóteses, ele só vê uma ilegítima e arbitrária antecipação da natureza. Nesta oposição de Bacon a todo procedimento de tipo dedutivo (e também na recusa de hipóteses) viu-se justamente um dos limites do método baconiano. Bacon, sem dúvida não se deu conta da existência de ciências “nas quais o trabalho de escolha e de concatenamento de proposições já conhecidas ou admitidas como verdadeiras constitui um meio muito mais seguro e eficaz de pesquisa que a experiência direta, embora diligente e auxiliada pelo uso de instrumentos, e nas quais mesmo o procedimento de tipo dedutivo é o único meio usado não só para a verificação, mas também para a descoberta de novas leis e novas relações” (ROSSI, 2002, p.206)

Todavia, não se deve crer que o problema baconiano de uma ciência universal da natureza perca sentido historicamente ou se reduza a uma espécie de exercício retórico-literário. Bacon deu-se conta perfeitamente, mesmo a propósito das descobertas de Galileu, da força explosiva que tinha, nos confrontos da tradição, a capacidade de dirigir os próprios olhos e olhar da realidade. A sua insistência sobre os experimentos, indícios de uma separação, que terá um peso notável nos futuros desenvolvimentos do empirismo, daqueles pressupostos “metafísicos” que estavam na raiz da visão do mundo Copérnico, Gilbert, Kepler e Galileu. (ROSSI, 1992, p.207)

Paolo Rossi afirma que “(...) as ambigüidades, as incertezas, as avaliações improváveis ou erradas não foram certamente uma prerrogativa de Bacon”, ou seja, o problema pode ser respondido pela competência e importância de sua contribuição para o progresso de tantas ciências (da botânica, zoologia, da geologia e da mineralogia moderna) que esteve estreitamente ligado a uma insistência, de tipo baconiana, sobre a observação e os experimentos, na qual sua desconfiança na audácia das hipóteses foi marcante em sua ciência. (ROSSI, 1992, p.212)

Por fim, a identificação baconiana da ciência com os experimentos devia, sem dúvida, revelar-se parcial, e, no entanto, essa referência aos experimentos e essa desconfiança na audácia das hipóteses exerceram função histórica de importância decisiva nas contribuições científicas de Bacon para a humanidade.

REFERÊNCIAS

RUSSEL, BERTRAND. Obras filosóficas. 3º. V. 3ª. Ed. São Paulo: Nacional, 1968.

BACON, Francis. Nova Atlântida. Trad. José Aluysio Reis de Andrade. 2. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979 a.

_____. Novum Organum. Trad. José Aluysio Reis de Andrade. 2. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979 b.

_____. Novum Organum. Trad. José Aluysio Reis de Andrade. 2. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 2005.

ROSSI, Paolo. Bacon e Galileu: os ventos, as marés, as hipóteses da astronomia. In:_____. A ciência e a filosofia dos modernos: aspectos da Revolução Científca. São Paulo: UNESP, 1992.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfred Bosi. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

2 comentários:

Anônimo disse...

bgd me ajou muito

Anônimo disse...

bgd me ajudou muito,pois tudo o que eu estava em duvida ficou bem esclarecido agora