segunda-feira, 11 de maio de 2009

A era dos impérios


HOBSBAWM, Eric. A era das revoluções. São Paulo: Paz e Terra, 2001.

___. A era dos impérios: 1875-1914. São Paulo: Paz e Terra, 6ª ed, 2002.

Charles Fernando Gomes

Paradoxalmente, o período entre 1875 e 1914 pode ser chamado de Era dos Impérios não por ter criado um novo tipo de imperialismo, mas também por um motivo muito mais antiquado. Foi provavelmente o período da história mundial moderna em que chegou ao máximo o número de governantes que se autodenominavam imperadores ou que eram considerados pelos diplomatas ocidentais como merecedores desse título (cf. HOBSBAWM, 2002, p.87-88).

Na Europa, os governantes da Alemanha, Áustria, Rússia, Turquia e (em sua qualidade de dirigentes da índia) Gã-Bretanha reivindicavam esse título de imperador. Dois deles (Alemanha e Grã-Betanha/Índia) eram inovadores dos anos 1870. Eles mais que compensaram o desaparecimento do Segundo Império de Napoleão Bonaparte III, da França (cf. HOBSBAWM, 2002, p.87-88).

Num sentido menos superficial, o período que nos ocupa é obviamente a era de um novo tipo de Império, o colonial. A supremacia econômica e militar dos países capitalistas a muito não era seriamente ameaçada, mas não houvera nenhuma tentativa sistemática de traduzi-la em conquista formal, anexação e administração entre o final do século XVIII e o último quartel do século XIX (período este que predomina a colonização imperialista da Europa sobre países asiáticos, africanos e latino americano). O mundo definitivamente se encontrara divido, seja administrativamente econômica, política ou social. Essa repartição do mundo entre um pequeno número de Estados, que dá título a obra de Hobsbauan foi à expressão mais espetacular da crescente divisão do planeta em fortes e fracos, em avançados e atrasados (cf. HOBSBAWM, 2002, p.119-120).

Lênin e os marxistas abordavam a problemática do coloniasmo, como a divisão do mundo entre as grandes potencias. A palavra imperialismo passou a fazer parte do vocabulário político e jornalístico nos anos de 1890, no decorrer das discussões sobre a conquista colonial. Os imperadores e os impérios eram antigos, mas o imperialismo era novíssimo. A palavra foi introduzida na política Grã-Betanha nos anos 1870, e ainda era considerado neologismo no fim da década (cf. HOBSBAWM, 2002, p101-102).

A maioria das discussões sobre esse novo fenômeno são tensas, apaixonantes e confusas. Pois, a maioria das discussões não tinha como tema o que aconteceu no mundo de 1875-1914, e sim o marxismo, tema capas de suscitar sentimentos fortes: acontece que a análise altamente crítica do imperialismo na versão de Lênin se tornaria central no marxismo revolucionário dos movimentos comunistas após 1917 e dos movimentos revolucionários do terceiro mundo.

Um marca bem forte do imperialismo, é a leitura de um período marcado por conquistas territoriais de países europeus e a America sobre países não europeus, isto é, asiáticos e africanos principalmente; o desenvolvimento tecnológico que provem das guerras e investidas militares de países desenvolvidos e o consumo exorbitante de massas nos países metropolitanos (sistema mercadológico). Assim, podemos anexar como principais pilares do imperialismo: a dominação econômica sobre as grandes fazendas e propriedades rurais e os comerciantes e financistas metropolitanos.

A industrialização registra o resto mundo em semi-colônias, ou seja, presos na gaiola da especialização. A função dessas colônias ou semi-colônias é não fazer concorrência com as grandes potencias mundiais. As grandes potencias eram Estados que adquiriam colônias, as pequenas nações não tinham, por assim dizer, nenhum direito, pois, padeciam da perda de terras em guerras e apropriações indevidas. As principais regiões onde havia competição pela retenção de terras ficavam na África e na Oceania.

A Índia como o cerne da estratégia britânica e que exigia o controle das rotas marinhas (Egito, Oriente Médio, Mar Vermelho, Golfo Persigo e Arábia do Sul). Também é verdade que a desintegração do poder local em algumas áreas cruciais para este fim, como o Egito (incluindo o Sudão) levarão os britânicos a programarem uma presença política o que fortalece uma análise econômica do imperialismo (cf. HOBSBAWM, 2002, p.121-122).

Em suma, a política e a economia estão intrinsecamente ligadas na sociedade capitalista, assim como a religião e a sociedade nas regiões islâmicas. Qual o impacto mais profundo do capitalismo? No novo imperiliasmo, o que predomina são as relações representativas que possibilitam o aumento do poder, isto é, seja no campo da ideologia, da política, da economia, da democracia, da publicidade e da imagem, a obtenção da supremacia sobre seus subordinados é o objetivo capitalista. (cf. HOBSBAWM, 2002, p.123).

Por fim, podemos ressaltar a figura do pacifista Mahatma Gandhi que obteve sua formação inicial aos moldes europeus, isto é, foi letrado e instruído pelas academias inglesas, caminho bastante comum aos jovens de família nobre na Índia. O capitalismo que despersonaliza e desconfigura homens e nações com seus costumes e hábitos. O imperialismo uniformaliza, de forma tal que um hindu, africano ou islâmico passa a adotar um modo de vida que não lhe é comum. Mas porque ocorre este fenômeno? Bem, o predomínio dos fortes sobre os fracos, como defendia Lênin e os marxistas é massacrante, a educação, o consumo, a política e a economia de uma nação são subestimadas e neste sistema seqüestrador de vidas, o capital é o grande seqüestrador. Porém, Gandhi se despiu de uma vida inglesa e européia para assumir sua condição hindu e vestir-se de seu povo, mas quantos homens, nações e Estados tomariam a mesma posição e assumiriam os riscos que esta decisão acarreta?


Graduando em Filosofia pela PUCPR


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