sábado, 20 de setembro de 2008

LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento. Trad. Anoar Aiex; E. Jacir Monteiro. 2ª. Ed. São Paulo: abril cultural, 1978.


Antônio Macêdo

Charles Fernando (orgs)


Do pensamento de John Locke, empirista inglês do século XVII, destaca-se, entre outras, quatro marcantes características sobre a concepção de conhecimento e que também revelam sua importância para a teoria do conhecimento.


1. Para Locke o conhecimento não é inato, porque se há na mente impressões naturais não é possível que ela os desconheça.Para exemplificar sua tese ele afirma que as se crianças e os idiotas possuem mentes dotadas dessas impressões deve, inevitavelmente, ter ciência e emitir juízos sobre elas. Se assim não fazem prova-se que não estão na mente impressões naturais (cf. 1978, p. 146).


2. De acordo com o filósofo empirista todas as idéias são advindas somente de duas vias: a sensação e a reflexão.A primeira fonte é caracterizada pela retirada das idéias dos objetos sensíveis e particulares através dos sentidos (idéias simples). A mente é como um papel em branco que será preenchido pela experiência. Todo o conhecimento vem dela. Assim, da sensação é que são recebidas as idéias de brancura, negrura, etc.A outra nascente são as percepções das operações da mente, que se ocupa de idéias que já lhe pertencem. Quando a alma começa a refletir e a considerar suprem o entendimento com outra cadeia de idéias como o pensamento, o crer, o duvidar, etc. Estas não são obtidas das coisas externas, mas já estão no homem, fazem parte de sua capacidade natural. A reflexão se refere a: “idéias que se dão ao luxo de serem tais apenas quando a mente reflete acerca de suas próprias operações” (cf. LOCKE, 1978, p. 160), ou seja, ela recebe as idéias simples e as articulam com as complexas, gerando, assim, o conhecimento.


3. John Locke enfatiza, também, o ato de prestar bem atenção aos objetos. Pois, o homem tem menos ou mais idéias simples na medida em que as coisas, com as quais entra em contato, oferecem maior ou menor variedade. Quanto mais o homem reflete sobre as operações internas de sua mente, mais estarão supridos delas, ou seja, de idéias complexas.O homem deve prestar o máximo de atenção a todos os pormenores dos objetos que pode observar. Por mais que uma coisa esteja posta diante dele todos os dias se, atentamente, não se aplicar a estudá-las terá acerca das partes que a constitui, terá apenas idéias confusas (cf. 1978, p.161).


4. De acordo com o autor inglês, o pensamento não é para a alma uma essência, e por isso inseparável dela. Tal afirmação não pode ser tida como verdadeira, por não ser assegurada pela experiência. Quando se diz: “duvido de ter pensado durante toda a noite passada” não se pode tentar provar a veracidade dessa hipótese colocando como premissa aquilo que se quer comprovar, pois isso caracteriza uma petição de princípio.


Para que não haja equívocos naquilo que se pretende demonstrar como verídico precisa-se construir as premissas empiricamente. E não concluirmos um fato por causa de uma hipótese, se for assim temos o resultado seguinte: “devo ter pensado durante a noite passada porque alguém supõe que sempre penso embora nem sempre eu o perceba”. Essas palavras em itálico podem ter, forçosamente, um valor psicanalítico, pois desde já tratam de revelar um discurso acerca do inconsciente.Pensar é sempre consciente, assim quando o corpo dorme é impossível que a alma pense, tenha alegria, tristeza, etc. Se a consciência for excluída de nossas ações ou sensações, especialmente as de prazer e sofrimento, será difícil, para Locke, caracterizar uma identidade pessoal.Por fim, Locke talvez tenha sido o primeiro a mostrar que um acordo universal não prova o inatismo. Fez isso quando refutou o princípio de não contradição, pois nem todas as pessoas sabem o enunciado deste, ou seja, não o conhecem.

Nenhum comentário: