quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Nazismo e Fascismo: ideologias e regimes






Charles Fernando Gomes







1. INTRODUÇÃO






No capítulo nono da obra Ideologias e Políticas Contemporâneas, Roy C. Macridis debruça-se sobre os poderosos movimentos totalitários, porém mais especificamente no movimento nazista que ocorreu na Alemanha de Hitler e no movimento fascista que ocorreu na Itália de Mussolini. Depois da primeira Guerra Mundial, os antecedentes intelectuais do pensamento antiliberal e antidemocrático e as circunstancias históricas particulares da Europa afetaram todas as nações. De fato, o nazismo e o fascismo (apesar da primeira ter obtido maior aceitação por sua nação) retratam o poder gigantesco que as idéias podem exercer, o grau a que podem ser elevados os cidadãos, não só a submissão, mas também à ação frenética que gerou e sua aceitação quase cega pelos patriotas.




2. O Nazismo Alemão.




A Alemanha enlouqueceu. A afirmação fora feita por um historiador, todavia a Alemanha era uma das nações mais adiantadas e civilizadas do mundo, contrastando o episódio vivido com a envergadura intelectual que era produzida pelos intelectuais alemães
O totalitarismo da direita alemã tornou-se uma realidade quando o líder do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, Adolf Hitler, subiu ao poder, em janeiro de 1933. Hitler pôs-se imediatamente a organizar o novo sistema, o Terceiro Reich, realizando muitas das promessas que havia feito. Destacavam-se a abolição das instituições democráticas e a preparação de uma guerra expansionista para estabelecer a dominação mundial alemã. Os princípios do movimento hitleriano vêm dos resultados da Primeira Guerra Mundial e também da abundante literatura antidemocrática alemã e o passado de extremismo político de direita. O nazismo era tanto nacionalista como racista e tinha acentuado apelo populista, comunitário e igualitário. Muitos nacionalistas ligavam o sistema político que defendiam às primeiras tribos germânicas, onde a democracia direta era aplicada entre guerreiros ligados por laços de sangue, sacrifício e esforços comuns (cf. MACRIDIS, p.214).
Hitler, ao que constatam os dados históricos, aliava este ideal germânico (democracia direta aplicada) com seu discurso profundamente eloqüente. Suas palavras quando dirigidas a grande massa possuíam um poder hipnótico e tal magnetismo alcançava o coração dos alemães, sedentos de um redentor que purificasse e salvaguardasse a Alemanha. A camada mais desfavorecida, isto é, colonos, agricultores, a classe média baixa e até a elite vislumbravam em sua imagem, que também era exposta pelos meios de comunicação e propagandas, o Pai que a nação alemã necessitava para avançar e retomar seus áureos tempos de bonança, comunitarismo e prosperidade.
O nazismo como ideologia e movimento político começou com um gesto negativo, embora houvesse também a formulação de certo número de temas e de proposições positivas como base de construção da nova sociedade. Alguns desses pontos se relacionavam à situação imediata; outros a problemas econômicos, políticos e sociais, criados pelo liberalismo e pala ameaça comunista. Porém, toda negação feita pelos nazistas (o que eles planejavam eliminar) pedia naturalmente uma afirmação (o que planejavam fazer em substituição). Como relaciona o autor do texto: O anti semitismo sugere racismo e pureza de raça; o anti individualismo, uma ética comunitária que transcende o indivíduo; o anti liberalismo, uma nova organização política; o posicionamento anti Versalhes, a instauração de alguma nova espécie de ordem internacional. É a combinação dos raciocínios detrás das negações que resultou numa síntese nova e dinâmica da vida social e nacional (cf. MACRIDIS, p.220-222).
A cultura política alemã estava também repleta do raciocínio e da influencia do pensamento filosófico provindos do romantismo, das letras, da arte e da política vigente que herdara do idealismo. Idéias gerais e abstratas desenvolvidas para resolução de problemas de questões transcendentais, políticas, de justiça e conhecimento, através da imaginação mais do que pelo exame empírico e experimental. A filosofia e a teologia, o estudo de Deus e de questões fundamentais, não o estudo da sociedade e das relações inter sociais eram características do intelectual alemão. Era um estado de espírito atraído pelo que parecia absoluto e definitivo e não pelo que fosse pragmático e pudesse resolver problemas. O nacionalismo, como um fim em si mesmo, permaneceu uma poderosa força e quando a nação alemã e o Estado foram considerados como o veículo final para a realização da justiça e do bem na Terra não poderia haver limites ao escopo e às aspirações dos nacionalistas. Talvez devido ao fato da unificação da Alemanha em um estado nacional ter vindo tão tarde, o nacionalismo tomou a forma mais integrativa e absolutista, reunindo todos os alemães em um estado, reafirmando sua superioridade e a superioridade de tudo que representava sobre todos os outros (cf. MACRIDIS, p.227).
Assim, como ideologia que agradava, o nazismo regatava o sonho mais íntimo que todo cidadão alemão projetava para sua nação. Um ideal político, econômico, religioso, cultural e substancialmente racial. Alguns traços da cultura do povo alemão como um partido militante mobilizando o povo em suas hostes; com um líder político magnético tentando fazer ressurgir os demônios nacionais das superioridades racial e nacional germânicas, explorando todas as fraquezas de um governo parlamentar aferrolhado, o estado totalitário instaurou- se na Alemanha com um apoio muito maior do que qualquer outra parte. Foram bem aceitos pelos grupos e classes sociais, inclusive parte apreciável dos trabalhadores, e pelos importantes grupos de elite e inclusive as Igrejas e os militares. O nazismo era um produto feito em casa. Era made in Germany (cf. MACRIDIS, p.230).




3. O Fascismo Italiano


O partido fascista surgiu na Itália, mais ou menos na mesma época em que o nazismo na Alemanha. Porém, o estado fascista apareceu muito antes. Os fascistas tomaram o poder em 28 de outubro de 1922, uma época antes de Hitler. Em 1923, quando Mussolini estava lançando as bases da nova ordem italiana, Hitler ainda estava começando a sua carreira política e encarcerado em virtude do abortado putsch Munique. O partido fascista fora fundado em 1919. Era então um dos muitos grupos extremistas nacionalistas. Apoiava os movimentos revolucionários e as greves dos trabalhadores, reclamava a desapropriação da terra e a nacionalização de indústrias, como as de mineração e de transporte. Mussolini procurou acumular temas da direita nacionalista e reivindicações da extrema esquerda esperando ter apoio tanto da esquerda como da direita. Seu apelo inicial foi tão semelhante ao de Hitler que facilmente poderia ter chamado seu partido de Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores da Itália (cf. MACRIDIS, p.231-233).
O fascismo semelhante ao nazismo seria a resposta à liberal democracia, eliminando a competição, o individualismo, a procura de lucro e de ganhos materiais, divisões, fragmentações e particularismos. Seria estabelecido um novo regime para criar unidade e cooperação, disciplina e esforços conjuntos, para a realização do objetivo coletivo do estado. Creia; Obedeça; Trabalhe; Lute era um dos lemas do fascismo. “Tudo dentro do Estado; tudo para o Estado; nada fora do Estado”, era outro lema. O argumento em favor do caráter abrangente e da primazia do Estado é para os fascistas a significação da subordinação, ao Estado de todas as atividades e organizações sociais, de todos os interesses individuais, de todas as manifestações culturais (inclusive a religião), e de todos os direitos materiais, políticos e morais (cf. MACRIDIS, p.234).
O partido fascista tinha o monopólio da representação, o virtual monopólio dos cargos e o monopólio da mobilização e do recrutamento. No entanto, não formou um exercito privado como os nazistas fizeram com os SS e a SA. Durante o período fascista, o exercito, e sua oficialidade, manteve sua autonomia. A milícia fascista permaneceu relativamente sem importância. Os combatentes fascistas possuíam dez mandamentos, que podemos resumir em dois votos de total obediência e subordinação: Deus e Pátria (ambos se encontram no ideal fascista). Os fascistas alegavam sua primazia também na educação. A Igreja Católica com tamanha resistência questionara a substituição do ensinamento de valores espirituais por uma doutrinação na moralidade e lealdade política fascista para os jovens e fiéis. O papa recusava-se a aceitar que o estado monopolizasse a educação dos jovens antes da formação. Era particularmente ofensivo para a Igreja um juramento exigido pelos fascistas para obedecer ao estado “sem discussão”. Se tal juramento fosse exigido, o papa instruía os católicos a fazê-lo com “reservas mentais” (cf. MACRIDIS, p.240). O que podemos compreender é uma posição reservada e distante da Igreja em relação ao estado fascista, mesmo que alguns fiéis (contrariadamente a Igreja) fossem adeptos a doutrina política de Mussolini (cf. MACRIDIS, p.241).
Em relação ao Estado Corporativo suas funções eram principalmente conciliar os dissídios entre vários ramos da atividade, a fim de coordená-la melhor e regular o emprego e o treinamento técnico de seus membros. Esperava-se também que disciplinassem a produção e que, com a aprovação do estado, fixassem os preços de bens, serviços e salários e fizessem a supervisão das condições de trabalho em várias firmas e serviços. O estado fascista tinha sempre a primeira e a última palavra e os velhos sindicatos haviam sido eliminados garantindo o domínio fascista. Deste modo o mecanismo corporativo tornou-se instrumento de controle e vigilância sobre os trabalhadores, forçando-os a clandestinidade e nada fazia para aliviar os conflitos da classe (cf. MACRIDIS, p. 242-243).
Contudo, podemos concluir que havia uma grande distância entre ideologia fascista e a prática, assim como também entre o movimento fascista e o sistema de governo que construíram. A ideologia original era anti burguesa, antiliberal, contra as instituições, e batalhava para extensivas reformas estruturais da sociedade em benefício dos trabalhadores e dos pobres e contra os grupos de elite privilegiados e suas instituições, proprietários de terra, industriais, a igreja e a monarquia. Houve o desvio em favor os poderosos, das elites industriais e dos funcionários públicos, da monarquia e da burguesia, pois, todos deram seu apoio em dinheiro. O fascismo representava uma forma de capitalismo estatal em que todos os grupos mercantis, industriais e proprietários de terra cooperavam sob a supervisão do estado. Mas, eles foram incapazes de dominar toda a sociedade como os nazistas inquestionavelmente fizeram. A apregoada unidade da nação debaixo do estado fascista desmoronou durante a Segunda Guerra Mundial. As antigas forças políticas e os particularismos se reafirmaram espontaneamente logo que a guerra passou (MACRIDIS, p. 243-244).




4. Considerações Finais




Todas as interpretações dadas aos movimentos totalitários nos dão explicações parciais. Em alguns casos, pode ser que níveis de modernização permitam colocação. Em outros casos o indivíduo pode ter procurado abrigo na unidade e no esforço comunitário e em outros casos foram procuradas por grupos mercantis e financeiros para defender o sistema econômico de onde obtiveram seus lucros.
Contudo, nenhuma interpretação nos basta, elas apenas nos ajudam a identificar as condições sob as quais os sistemas políticos se tornam vulneráveis ao assalto totalitário. Movimentos que não estão completamente mortos, mas que ressurgem em micro poderes e acenam pequenas bandeiras em cenários de crise internacional, pois, apesar das desastrosas conseqüências de movimentos ideológicos e totalitarismos no passado, parece que ser revolucionário ou seguir ditadores não saiu completamente de moda.






5. Referencias


Macridis, Roy C. Ideologias políticas contemporâneas: movimentos e regimes. Tradução de Luís Tupy Caldas de Moura e Maria Inês Caldas de Moura. Brasília: Universidade de Brasília, 1982. 318 p. il. (Pensamento político, 58).


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