sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Carta de um jovem frade.


Meu ofício? Bem, meu ofício é ser Jesus no coração da humanidade. É levar eucaristia em territórios cravados pelas chagas que o pecado coloca. Instaurar vida aonde predomina as mazelas da discórdia, da incompreensão e do desamor. Resgatar vidas que por descuido ou desatenção tem sido levadas para a mansão dos mortos. Ressuscitar vivos de seus calabouços, prisões espirituais e angústias. Estender as mãos de Jesus sobre o universo com minhas pequenas e calejadas mãos, que mesmo sendo humanas possuem luzes do Sol, rastros da divindade e unção de um chamado que não sou merecedor, mas Deus assim desejou, ele me quis!
Minha carteira de trabalho? Meu empregador é Jesus e o único vínculo empregatício que se estabelece entre nós é o amor. Das necessidades humanas que capta meu ofício, a primeira que exige minha presença e clama por meu nome é o amor que devo doar aos pobres, marginalizados, prostitutas, delinqüentes, etc. Estes destituídos de suas identidades e nomeados socialmente pelo mundo são meu alvo, centralidade de minha atenção, jornada diária de meu emprego. A centralidade de meu ofício são homens e mulheres, velhos e crianças, homossexuais e travestis, alcoólatras e viciados em entorpecentes, crentes e descrentes, vivos e mortos, habitantes de cativeiros, encarcerados e seqüestrados. Estes se que seencontram aprisionados por seus algozes e já não sabem quem são, desconhecem seu Pai Criador.
Sou o funcionário que se prontifica a ficar de plantão em corações sangrados, machucados e desolados. Plantão em olhos apagados, vermelhos como em brasa pelo pranto que suas realidades os condicionam e direcionam. Ordenados por sistemas, pessoas e instituições que desconhecem o perdão, a caridade, o cuidado, a empatia, o zelo, o carinho, a dignidade, a responsabilidade e o respeito que preza a lei de Deus e abole qualquer lei do reino deste mundo, isto é, dos homens.
Minha jornada de trabalho? Pois bem, sou plantonista perpétuo. Intervalos e folgas não foram programados em meu contrato. Minha jornada inicia-se com o nascer do Sol e se estende até a aurora de um novo dia que se anuncia. Olhares caídos me empregam no momento em que os vejo, ou no caso de um possível descuido que não os observe, eles me vêem e gritam de coração para coração e eu os ouço. Sou farmacêutico? Também, mas os remédios que receito e levo não são resultados de alguma formulação química, mas sim do diagnóstico que me é revelado pela luz do Médico dos médicos.
Meu trabalho exige uma jornada sobre humana, e por isso nunca trabalho sozinho, aonde quer que eu vá meu chefe vai comigo e nada temo. Seus olhos guardam minha fronte e conduzem-me para o reto caminho. Minha remuneração já foi feita em oferta pela vida de meu Redentor e nele já foram saldadas todas as minhas dívidas.
Possuo plano de saúde? Aposentarei? Meu plano de saúde se chama salvação e nela não sou vítima de doenças que alcançam a alma, o câncer do pecado já me foi curado. Só me aposentarei quando o Reino de Deus for estabelecido em todas as casas, em todos os corações e mentes que existem no mundo. Sou empregado da salvação e minha missão é levar coração aonde não há sensibilidade aonde se desertificou e esterilizou-se. Ser tempo de vida aonde sombras da morte enfileira cadáveres marginalizados e habitantes de sarjetas e beiras de esquina.
Bem, sou funcionário do céu e Deus é meu chefe. Meu contrato é rito da liturgia da vida, é cálice que se ergue sobre corações despedaçados e os restitui. São água e vinho em aqüíferos poluídos e fétidos. Ser sangue e espalhar sangue em veias e artérias impossibilitadas de levar sangue ao coração paralisando seu bombear que nutre a vida e o corpo, que é pão que alimenta e salva por Jesus em Deus.
Sou apóstolo da paz que sopra o huar a pneuma de Deus em espíritos perdidos e abatidos. A sacralidade e a plenitude da natureza são uma de minhas responsabilidades. Em minha profissão o ser humano nunca pode ser esquecido, mediocrizado e apequenado. Quem sou? Sou um sacerdote de gente, pessoas que lutam para não se esquecerem quem são, de quem são, pelo que são, para que foram feitas e quem os criou. Lembrar que somos pó das estrelas, pois, do céu viemos e para lá voltaremos, iluminaremos o mundo.
Para que sou? Sou para Deus e em Deus fortaleço-me alimento-me e me plenifico. A palavra que sai de sua boca é meu pão. Pão que se multiplica e alimentam crianças abandonadas, seres famintos de atenção e cuidado. Meu alvo é o sofrimento e as mazelas da história humana que desfalece as rosas de nosso cotidiano deixando-as despetaladas. Sou o Salvador do mundo? Sou filho dele e nesta herança sou consagrado a repetir o seu gesto de vencer a cruz para ressuscitar os mortos e os vivos. Retirar do calvário homens que possuem famílias para assumir, mulheres grávidas e desamparadas pela sociedade. Minha vida é vida de Deus e sou habitante do céu. Do céu venho e para lá levo a humanidade, lá aproximo vidas da Vida de Deus. Sou doação do amor que no Tempo se eterniza.
Qual é o meu alimento? Alimento-me do corpo e do sangue de Jesus. Do Redentor que do alto da cruz, pregado, chagado e coroado de espinhos, derramou todo seu sangue por mim e disse para seus algozes: “perdoai-vos eles não sabem o que fazem”. Minha herança é minha alma resgatada da penitência do pecado. Nesta herança renovo meu apostolado divino e faço novos discípulos para meu mestre, assim como ele me ensinou. Não recosto minha cabeça sobre o mundo e esvazio meus bolsos para a corrupção. Minha recompensa é o sorriso da idosa cansada que pude consolar, é a saciedade da criança que rejeitada e com fome estava e agora embalada se encontra ninada em meus braços usufruindo de um sono da paz, é a luz no caminho escuro que jovens e adolescentes que percorrem apressadamente fugindo do mundo e de si. Perscruto o medo e a covardia de homens que no pranto se escondem em seus quartos e isolados vivem na solidão que lhes cabe. Dou-lhes o cálice da salvação, proponho comunhão diária e dou-lhe a benção que sobre minhas mãos Deus ministrou.
O que quero ser? Deus, sem imitar ou me orgulhar de vaidade, inflar meu peito de arrogância. Ser Deus em vidas que o ateísmo se fez morada, em existências pálidas e anêmicas que foram vendidas e compradas em shoppings e revistas de nosso povo. Preceder a palavra do evangelho nos ouvidos de minha gente antes da visita inusitada e precipitado das emissoras de comunicação que turbilhão e inquietam a paz de famílias. Quero chegar a sua vida antes do mundo e anunciar ressurreição. Pois, depois da morte é com Deus que nos encontramos, ceamos e adoramos.
E porque não posso casar? Porque há um templo em meu coração, imenso como o oceano, casa de acolhida que com ternura recebe a todos que me visitam. Não posso dedicar meu amor a uma só mulher ou decidir-me a ser pai de algumas crianças, deixando muitos outros que carecem de paternidade.
No meu coração há lembranças, recordações e sentimentos privados, lacrados e que guarda mistérios, embalsa vidas e no âmago de minha vida se protege como forma de escudo amores, paixões, ilusões e sentimentos dos quais a ninguém convido a visitar. É templo santo, território que só eu caminho, e que mesmo sendo meu, necessito retirar as sandálias dos pés e fazer reverência, reclinar minha cabeça e fechar meus olhos. É um rito sagrado que estabeleço ao peregrinar nas colinas de minha sensibilidade e vaidades que possui desejos e vontades de homem, mas, reconcilia-se sempre com meu ser sacerdote e se cala para que somente e apenas meu Deus possa falar. Em meu coração apago as luzes e deixo apenas as velas; sobre o altar central é meu Senhor que está e seus olhos radiosos se voltam para mim e aquecem meu íntimo.
Meu amor é grande demais para se fechar em apenas uma pessoa, escolher só um ser humano. Em meus dedos não cabe anel de compromisso com um ser apenas e sobre meu corpo não se recosta de forma exclusiva apenas um corpo que necessita de amor. Eu sou Terra, humanidade, céu, universo, água, fogo, vida, tempo e templo de Deus e no meu caminho não pode haver duas pegadas humanas, pois, só há uma pegada humana que é a minha e a outra é de Jesus, este que me guarda e ama. Eu sou vida que jorra vida e derrama compaixão a vidas desapaixonadas

2 comentários:

Anônimo disse...

SHOW DE BOLA!!!ESSE É O FREI CHARLES!!!!DIO TI BENEDICA BELLO!

Anônimo disse...

JOVEM FRADE, NÃO PARE DE ESCREVER..