domingo, 17 de outubro de 2010

PAIXÃO DE JESUS



Primeira parte Prisão de Jesus 18,01 - 18,27



Segunda parte Jesus diante de Pilatos 18,28 – 19,16



Terceira parte Morte de Jesus 19,28 – 19,42





19,17 Crucificação







1. INTRODUÇÃO





A dor dos pregos perfurando suas mãos aliada à dor provocada pela coroa feita de espinhos ao redor de sua cabeça, não foram tão intensas quanto à angústia do abandono revelado pelo silêncio do Pai. Mc 15, 34 “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” Lc 23,46 “Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito”. Mt 27,26 “Deus meu, Deus meu, porque me abandonaste?” Jo 19,30 “Esta acabado”.

A cruz representa nossa rudeza, ou melhor, “dureza de coração” que necessita ser vencida. Nisto recordamos que é o próprio Deus que esta pregada nela e a vence sozinho, porém, nos torna vitoriosos juntos. É a ressurreição de Jesus, mas substancialmente é a nossa ressurreição também, esta do pecado (morte – distanciamento de Deus). A cruz se encontrava fincada a terra, assim semelhante a nossa condição humana que é elevada ao céu mesmo estando na condição de pó da terra. O amor que fora depositado ao homem, mesmo no abandono e até no silêncio da morte. Há uma linguagem silenciosa de Deus que transcende os ouvidos e ascende, isto é, transdescendente do mais alto céu ao coração humano.

É a cristofania gerada, consubstancial e corporificada na antropofania. A soteriologia crística por sobre nossa antiga condição adâmica. Jesus é alicerçado à nosso coração, epiderme e vida (nossa pneuma - espírito). O profeta escatológico como identifica o teólogo Rudolf Bultmann, este que aponta e revela a parusia, ou o resgate do primeiro Éden por nós perdido, mas sempre desejado. O reino dos céus que deve acontecer no homem, criação predileta que prefigura a imagem e semelhança do Criador que é Abba, é Pai.

Para além da dimensão humano-afetiva-psíquica-intelectual-comunitária do gênero humano. O surgimento rompante de uma sexta dimensão é validado por Jesus, a dimensão da solidão, que é revelada à experiência do crucificado no madeiro da cruz que dela brota a glorificação, o milagre da ressurreição. A radicalização de Cristo na vivência do ser humano assumido em todas as suas instâncias percorrendo desde a angústia desiludida do abandono até a falência dos órgãos e paralisação cerebral, ou seja, a morte.

A solidão, o deserto deve ser a casa por excelência do religioso. Não a instauração de um refúgio ou uma fuga de seus demônios e medos inconscientes. Mas, o despertar resplandecente de sua tenacidade ao término da peregrinação desértica ao encontro de Jesus que fulgura a face do Deus vivo, é sua epifania vivente, histórica e paternal. Aonde não há ninguém e nem seus rastros. Distantes do refúgio acolhedor da casa materna, do colo paterno e protetor do beijo ou do abraço significativo que provém do amigo- irmão ou companheiro. O deserto, essencialmente desvinculado dos acessórios tecnológicos do século XXI como do mp3, laptop ou algum livro ou instrumento litúrgico. Só há você e Deus neste dialogo entre o EU e o TU que se revela apenas o NÓS, espiritual corporificado na materialidade crística humano-divino dentro do coração que é anunciada, irradiada e ilumina ao caminhante místico que é o filho de Deus no e para o pensamento de Deus.