quarta-feira, 30 de abril de 2008

JUÍZO E ANALOGIA EM KANT



VÍDEO PRODUZIDO PELO GRUPO DO 3º PERÍODO DE FILOSOFIA DA PUCPR, DEVIR PRODUÇÕES. CURITIBA 2008.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

O porteiro da Noite


The Night Porter, dirigido por Liliane Cavani, 1974, EUA/Itália.


O Porteiro da Noite é uma obra cinematográfica que enfatiza a relação de amor sadomasoquista, vivenciado por uma ex-prisioneira do campo de concentração nazista e um ex-oficial que fora seu torturador e amante, durante a segunda guerra mundial. Após treze anos de sua libertação, Lúcia Atherton se encontra com Max Aldolfer num hotel em Viena e revivem a paixão auto-destrutiva e doentia do passado.

Max agora é porteiro de um hotel em Viena. Lúcia chega à hospedaria acompanhada de seu esposo, um famoso maestro que irá apresentar um concerto na ópera da cidade. O reconhecimento é imediato, como também as recordações que dispensam palavras de ambos que estão atônitos diante da rememorização da excêntrica paixão.

Os amantes protagonizam encontros ocultos no hotel de Viena, local também de reuniões periódicas de um grupo de ex-oficiais nazistas que estão preocupados com possíveis vítimas e testemunhas das atrocidades realizadas por eles e também pelos milhares de fichas de líderes da SS que se acham no Centro de Documentação da Guerra de Viena e na Comissão de Crimes de Guerra dos Aliados.

Klaus, um dos mais importantes membros do grupo, em uma reunião reafirma que uma das ações do mesmo é procurar testemunhas que possam prejudicá-los e buscá-las onde quer que estejam. Mario afirma que um antigo companheiro, teria visto e reconhecido uma mulher. Lucia, atrás da porta, ouve toda a conversa.

O relacionamento do casal passa a ser conhecido e vigiado por Klaus. A nova reunião do grupo de ex-oficiais acontece com a presença de Lucia, e Max senti-se ameaçado. Pede demissão do hotel, compra uma grande quantidade de alimentos, e se tranca em seu apartamento com Lucia. Ao passar do dias os alimentados se acabam e eles começam a passar fome ocasionando a perda de suas forças. Quando a situação se torna insustentável, eles saem com dificuldade e, ao atravessarem uma ponte, são mortos pelas costas.

O termo sadomasoquismo seria a relação entre tendências opostas, o sadismo e masoquismo. Marx sentia prazer em impor sofrimento físico e moral a Lúcia, isto lhe proporcionava o gozo sádico, sendo o oposto em Lúcia que sentia o gozo masoquista, ou seja, o prazer em receber maus tratos físicos e morais de seu torturador.

Liliane Cavani, em sua obra cinematográfica, dirige com excelência neste filme, a patologia sadomasoquista da relação entre os protagonistas. E tem como eixo central o passado deles que se sistematizava num ambiente de violência física e moral que era os campos de concentração. O sádico em última análise é o objeto, o gozo do sádico é uma transgressão da lei, de que é possível alcançar o gozo que a lei proíbe, na tentativa de regular, de determinar as relações do sujeito. A fantasia sádica apresenta uma relação com o objeto de desejo, no qual o prazer pode ser realizado de todos os modos possíveis sem que o objeto perca sua beleza.

Eles estão submissos à lei, que impõe seus papéis no sistema (o oficial torturador e a vítima), resultando de forma inconsciente o ato dos amantes com intuito subjetivo de desobedecer ao interdito moral ocasionado pela castração simbólica. Daí o papel do superego como o responsável pela censura das pulsões que a sociedade e a cultura impõem ao id, impedindo-o de satisfazer plenamente os seus instintos e desejos pela interdição inconsciente.

sábado, 19 de abril de 2008

O DEVER EM KANT (1)


Antonio M. dos Santos
Charles F. Gomes
Edimar Moreira
Izaquiel M. Evaristo
Tiago E. do Vale Santos

A filosofia kantiana trouxe à história filosófica contribuições inestimáveis. Em todo aparato deixado pelo filósofo alemão, diversas abordagens foram formuladas ao longo do tempo. Tal fato aconteceu também com a mestranda em filosofia Sônia, que tem como tema de pesquisa A natureza humana e o fim que são dever em Kant. Ela, em seu estudo, busca mostrar como Kant aborda a questão do dever.

Segundo a exposição de Sônia, tendo como base, além de seus conhecimentos, parte do texto da obra A metafísica dos costumes, a virtude para Immanuel Kant é a força moral da vontade do ser humano no cumprimento de seu dever. Dessa forma, o filósofo aponta a virtude como um contínuo progresso, pois, objetivamente considerada, ela é ideal e inatingível.

Outro ponto relevante em tal explanação é a de que a vontade do homem é determinada por sua ação. Alcançar a lei moral, por sua vez, é o objeto da ação. Porém, não é ação moral uma ação que vise retorno, caso contrário, se tornaria um interesse desvirtuoso. Para que o homem não seja só animal, mas também racional, é necessário compreendê-lo com sua própria razão moral.

Também, vale recordar da importância, nesse contexto, da universalização da ação por meio da razão. Para uma ação virtuosa ser válida, ela precisa ser universal. Existem coisas que não podem ser universalizadas, pois ferem a racionalidade do ato. O imperativo categórico é a condição para efetuar o julgamento.

Dessa forma, segundo Sônia, para Kant, o qual entende que o único fim do homem é ele mesmo, o homem tem o dever para consigo mesmo de alcançar o máximo de perfeição que puder. Mas, também, cabe a ele contribuir para a felicidade dos outros, desde que ela não se contraponha à lei moral.

Portanto, nota-se que é de grande relevância o estudo da mestranda Sônia acerca do dever em Kant. Tal conceito, em meio à temática da virtude, pode trazer à comunidade acadêmica grandes contribuições.

No que concerne a uma atualização, esse ponto trás inúmeras indagações, como, por exemplo, a de se, de fato, o ser humano tem buscado fazer boas ações sem ter em vista uma retribuição ou ainda, noutra perspectiva, refletir se não pode estar havendo uma banalização daquilo que é virtuoso, dada a confusão muitas vezes feita entre aquilo que é universal e aquilo que é costume.

[1] *Texto elaborado a partir da apresentação em sala de aula do projeto de pesquisa da mestranda Sônia, tendo como tema A natureza humana e o fim que são dever em Kant..

VIDEO PSICANÁLISE

CADERNO DE ATIVIDADES (PSICANÁLISE)












quinta-feira, 17 de abril de 2008

Você tem direito de interferir sobre a vida?


A natureza humana e o fim que são deveres em Kant.


Em Kant só a ação moral pode validar a virtude, esta que caminha para objetivando um bem. Como a prática da coragem que conduz a um bem comum tendo por objeto o ato virtuoso. A herança de Kant são os estóicos, em sua filosofia o “código da razão” é a moral da razão com você mesmo, ou seja, a virtude visa um bem último ao ser que a pratica com o outro que recebe o beneficio. Para o filósofo a virtude é austera, impassível à dor, corajosa, é a força máxima dos seres humanos no cumprimento de seu dever. O respeito pela lei é uma virtude ética, ele concebe a virtude como uma máxima universal, significante do homem ontologicamente e na prática.

A antropologia kantiana tem como centro o homem cosmopolita (sua a natureza e fim por si próprio). A metafísica antropológica kantiana concebe a idéia do homem como partícipe da natureza e de suma importância em seu equilíbrio. Na sua obra a Metafísica dos costumes ele afirma que se há um tribunal que julgue minha ação não é o costume e a cultura da época, e sim a minha própria razão, ou seja, a racionalidade, esta que me faz ser humano e exercer o dever que me conduz a buscar e fazer o melhor possível almejando a perfeição. Os deveres qual me levam a contribuir para a felicidade do outro, ser um cidadão do mundo e aspirar assemelhar-me a um homem melhor sintetizam atitudes para alcançar os fins que são deveres para promover a virtude e consequentemente obter a felicidade.

Em outro contexto o filósofo explana sobre a minoridade (não de idade) de subordinação, ou seja, o sujeito que se coloca em tutoria diante do outro e exemplifica com as relações de autoridade do professor, do médico e do juiz com seus subordinados. O ato de jogar a responsabilidade por qualquer equívoco que cometa a autoridade que lhe é superior ocasionando a vicissitude de sempre se anular diante de decisões para isentar-se de uma possível culpa que acarrete o ato. Para Kant a liberdade é um ato de coragem, a autonomia propicia crescimento do indivíduo para sair do comodismo de apenas cumprir ordens e assumir responsabilidades por gozar desta liberdade autônoma.

Kant tem em sua máxima deveres que possui para consigo e para com os outros (Doutrina da Virtude e do Direito), esta divisão da doutrina dos costumes como um todo, baseia-se no conceito de liberdade que é comum a ambas, em torno necessário de dividir os deveres em deveres de liberdade exterior e interior, sendo estes últimos éticos. Por conseguinte, a liberdade interior deve primeiramente ser tratada numa observação preliminar como a condição de todos os deveres de todas as virtudes em geral. (A metafísica dos costumes, p.249).

A natureza humana na concepção kantiana convida o sujeito a consultar o Imperativo Categórico que o conduzirá ao reto caminho. A doutrina de Kant é resolutiva dos problemas e transporta o sujeito à conduta ideal para consigo e com o mundo que lhe cerca. O Imperativo situa-se à luz da razão e não acima da cultura, a razão constituinte do sujeito que lhe priva das paixões e instintos que não habitam no edifício da racionalidade.

Você tem direito de interferir sobre a vida?A pergunta tem intrinsecamente como resposta a razão iluminada a favor da consciência, esta que é convidada a agir de acordo com a “Lei”, que em Kant é a aplicação da lei moral aplicada no juízo da ação.

Sacrifício próprio para defender uma causa


A vida de David Gale, dirigida por Alan Parker, 2003, EUA

Quem somos e do que somos capazes? Donde provêm nossos desejos? Porque desejamos absurdamente e nos projetamos neste ímpeto do espírito humano? David Gale é diretor de faculdade, renomado filósofo e um homem de família naturalmente invadido por seus ideais, sonhos e desejos de transformação no mundo.

Até as últimas conseqüências, até o extremo de uma meta que move, alimenta, consome e fortalece o ser humano.Um martírio expresso em ato de misericórdia, um revolucionário que intui grande respeito pela vida, dádiva esta que não geramos a priore e de modo algum podemos finaliza-la, independente da racionalidade que siga o sistema.

David Gale é um ativista anti-pena de morte, Constance é militante e amiga de Gale e a cidade do Texas é o estado americano onde mais pessoas são executadas, julgadas e conduzidas ao corredor da morte. David, Constance e o governo do Texas serão protagonistas nesta luta de ideais que buscam manipular a justiça do estado, direciona-la para um bem comum, seja na resolução do problema com sua morte sentenciada ou na luta pelo fim deste bárbaro modo de resolver problemas condenando e matando vidas.

Protagonizada também por Bitsey, esta que é uma repórter atraída por David para relatar em entrevista os verdadeiros fatos dessemelhantes das acusações atribuídas a ele. O que um ex-professor de filosofia, a três dias do corredor da morte, acusado de estupro e assassinato desejaria falar com uma repórter?Os diálogos entre o filósofo e Bitsey irão esclarecer e pontuar os acontecimentos para realmente compreende-los.

A repórter precisa ver o homem antes do estuprador e assassino acusado que esta em sua frente para assumir esta investigação. Uma película que contém a cena do delito possibilita Bitsey recapitular o crime, interpretar as pistas e supostamente solucionar o caso provando a inocência de David e o injusto método do sistema de pena de morte.

David Galé é morto, a injustiça mantém-se astuta e dominante pela frieza do governo. Bitsey após a desolação recebe inesperadamente uma nova fita, assisti e constata o “crime perfeito”, desvendada nas imagens o ato do crime premeditado e consumado pelo suposto acusado e a suposta vítima.Uma história cujo final revela, de forma supreendente, o quanto a vítima e o condenado acreditavam em sua causa.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Filosofia e Coragem da verdade em Michel Foucault.


Resenha sobre o artigo do professor César Candiotto

Filosofamos numa forma de vida que dá sentido à nossa palavra, afirmou o filósofo Wittgenstein, ou seja, é impensável o discurso filosófico sem levar em conta uma forma de vida determinada. As escolas atenienses, na Grécia antiga continham uma função terapêutica que se assemelhava a uma clínica com exercícios espirituais conduzidos por filósofos terapeutas (Sócrates, Platão, Epicuro e outros).

Michel Foucault apresenta a revisão de conceitos e mudanças de caminhos determinados como atitude indispensável para um contínuo olhar reflexivo. As transformações são precisas para ter acesso a verdade, a dinamicidade do sujeito que se prepara para o sofrimento, infelicidade, agitação da alma e para a morte com a ajuda da verdade.

O sujeito como questão de si aliado à prédica socrática “conhece-te a ti mesmo”, que habita no universo da psicologia, psicanálise do inconsciente e na fenomenologia do sujeito. A máxima de Sócrates é um convite para saber quem somos e do que somos capazes para consultar de forma adequada o deus ou o oráculo.

Sócrates é uma figura tranqüilizadora, a parrhésia (franqueza) ao falar é uma atitude de coragem, o logos (discurso) que ele usa ele vive. Em seu julgamento ele exercita o cuidado com a alma e alerta aos cidadãos sobre as vicissitudes da vida conduzindo lhes para a verdade que exerce mudança no modo de vida, mesmo que essa verdade seja a responsável pela sua morte e quem perderá com esse acontecimento será os cidadãos.

A postura do filósofo é a defesa do valor absoluto da intenção moral, ou seja, constituir a vontade do fazer bem. Sócrates sana a doença da covardia e afasta a temeridade, sua filosofia valoriza a coragem da verdade e o ethôs ateniense, ele disposto a enfrentar as últimas conseqüências.

A enfermidade da sociedade, a crise de valores e a relativização de éticas, da moral e das concepções tradicionais da verdade são diagnosticadas e necessitam dos cuidados do filósofo. O filósofo é aquele que procura submeter seu livre pensar a moral de estado civil, mesmo que caiba a cada um buscar seu próprio remédio, a filosofia é capacitada na cura dessas feridas e atua a partir de sua maneira de viver elaborando e sustentando teorias e práticas de uma saudável maneira de viver.

Psicanálise como experiência de Ética


Resenha sobre a Conferencia do professor Daniel Omar Perez

A psicanálise não é nenhuma teoria explicativa, este não é seu objetivo central. Sendo que nenhuma ciência médica ou psicológica é uma experiência ética entendida ou pautada em leis ou morais e sim relacionada com o desejo do próprio sujeito relacionado com seu objeto. A necessidade de um analista é sempre assumida pelo paciente em último caso, ou seja, quando provoca perturbação repetitiva acompanhada de sintomas psicossomáticos (como dores de cabeça, estômago, caspas e outros). Consiste em sintomas que se manifestam devido ao problema com seu próprio desejo interior (experiência ética), exigindo um confrontar-se do sujeito com o que ele tem de mais íntimo e estranho. Lacan chama isso de real e podemos entender como coisa.

O sentimento de perda relacionado a uma coisa que foi perdida desde o princípio. A coisa é aquilo que foi perdida desde sempre e que não tem nome, um sentimento de perda que leva o sujeito a procurar alguma coisa, coisa que não sabe o que é e pode desconhecê-la pela vida inteira, é uma perda originária. Lacan chama de a separação entre o filho e a mãe. É deste princípio que emerge a busca do sentido, o sentido pela vida, ou seja, alguma Coisa é colocada no lugar da coisa, como o interdito da perda de um namorado ou namorada até que apareça um novo namorado, se não ocorre a substituição pode ocasionar uma fixação.

A insatisfação constante, a sentimento permanente de vítima e o ativismo são diagnósticos que revelam a histeria (a histeria cria ideais e necessidades que o escravizam). O neurótico busca o modelo (arquétipo do professor, pai, filho e esposo ideal) perfeito e goza com esse sintoma, a que Lacan chamará de complexo de demando. O próprio sintoma pode desaparecer com a fala (teoria da fala) e o reconhecimento; no ato de falar de seu problema, seja com padre no confessionário, com o pastor ou o analista o paciente se sente reconhecido resultando no desaparecimento do sintoma, mas não se resolve só com o falar, se ele continua com essa interdição ela vai retornar e o sintoma (dor de cabeça, estômago e outros) retorna e o compromisso com a causa se fortalece. É preciso passar da experiência do falar (de jogar a culpa nas coisas e pessoas na clínica) para a experiência de entrar na análise (o que eu tenho a ver com isso) e relacionar-se com o problema.Lacan chama de explicação subjetiva.

O neurótico se compromete com o sintoma para não se haver com seu próprio desejo, como em nome do pai, a que Lacan chamou a lei, ou seja, não há desejo sem lei. Como a criança que a mãe estava amamentando e o pai tirou o peito dela ocasionando o surgimento de um buraco.Tirou o peito e ficou com a boca aberta, o sujeito é um pedaço de boca aberta, que procura algo para colocar dentro( a chupeta, o dedo, e outras coisas que vamos colocando na boca no decorrer da vida). O melancólico é aquele que não consegue fazer o luto, como o sujeito que perdeu alguém e não consegue viver sem ela, não consegue fazer o luto.

A depressão é diferente da tristeza, sendo a segunda comum diferente do indivíduo que vive recalcando o sofrimento e aparenta estar sempre feliz ou o solidário com os outros que esta sempre se sacrificando e sente prazer nesta oferenda que faz de seu corpo e concluímos que não há doenças psicossomáticas e sim sintomas de causas. O sacrifício de Cristo é conhecido por todo o ocidente, e há uma patologia de oferenda do corpo no ocidente, porém sacrifício em nome de que lei? Porque sacrificar?Em nome de quem? O sacrifício da toxicomania, a mãe que sacrifica sua vida pelos filhos e família, ou seja, o sacrifício que oferta o próprio corpo para o sacrifício é aí que entra as doenças psíquicas com o relacionamento físico. Ter colesterol é totalmente evitável, tem muitas doenças físicas que nos temos por causa do sacrifício que fazemos de nosso corpo e o ocidente tem essa patologia referente ao sacrifício de Cristo.

Como se relaciona o desejo a angústia e a ansiedade?Esse elemento norteia toda a experiência ética do sujeito porém não se explica em campos psicanalíticos e nem se pretende tal pretensão, o princípio tem por finalidade relacionar o sujeito com sua patologia e seus sintomas de causa possibilitando ao paciente identificar-se com ele e seu objeto de desejo.

O homem como um ser incurável.Não há pscinálises e nem psicanalistas que o curem completamente um ser que vive em detrimento com sua grandeza e infinitude, não compreende sua experiência de vida e sofre com a falta de respostas que faz ao mundo e a si mesmo.Um ser que é lançado a existir e não contém a bula com indicações e contra-indicações para cuidar de si mesmo de forma mais saudável.

A psicanálise como ajuda da experiência ética do sujeito, ou seja, uma bússola para o indivíduo que desconhece sua luz curativa e se perde no caminho da existência constantemente.O psicanalista como o terceiro ouvido, que busca compreender aquilo que é desconhecido e perturba o paciente.Ao garimpar neste terreno (psicanálise), a filosofia consegue objetivar seu fundamento de conhecer melhor o saber subjetivo com a experiência ética que é particular do sujeito.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

A impossibilidade da natureza humana e o cumprimento da lei moral.



A antropologia de Kant é moral? O que eu posso falar do homem, da moralidade e da ética? Eu só posso falar dos fenômenos no objeto a partir do sujeito. Eu posso conhecer o homem como sujeito fenomênico? O que o homem pode fazer de sua natureza? Qual a relação da antropologia e o cumprimento da lei moral?

Jorge Vanderlei comenta dois filósofos sobre a problemática:

O primeiro é Hanna (sensificação) que irá afirmar: eu não posso afastar o legislador moral, pois há uma referência simbólica, há uma intencionalidade do sujeito como em Deus manda, ou seja, eu respeito à estrutura da sensificação lógica do sujeito, intencionalmente ocultado do sujeito (lógica cognitivista).

O segundo é Loparic (significação) que irá afirmar: há um respeito pela lei e só isso dá seu significado, não é preciso de legislador moral Deus manda, ou seja, a lei basta por si só. Ele dá uma grande importância à razão teórica eu respeito à estrutura da significação lógica do sujeito, a intencionalidade da significação estruturada (lógica construtivista).

A pesquisa ressalta a intencionalidade prática de cumprir a lei moral kantiana. Mostra que em Loparic Deus é um legislador moral e não há outra visão; sendo que em Hanna o homem é um ser simbólico, há uma intencionalidade oculta do sujeito, uma analogia simbólica que estrutura a moral e sua lógica.

O pesquisador compreende que existe uma simbolização da lei moral dentro da religião na concepção kantiana, e busca afirmar que há uma intencionalidade simbólica e oculta na bíblia. Porém mesmo que diversas sentenças simbólicas existam, elas retornam ao princípio da fé. Como fundamento de sua pesquisa, ele diz que não é possível reduzir a sensificação a uma significação.

Por fim ele ilustra com a figura de Abraão. Na visão de Kant, é loucura seu ato de matar o filho e imoral o pedido de Deus. O filósofo interroga: como Deus poderia pedir para matar? Deus não poderia pedir para Abraão matar seu filho, pois isso seria ferir o Imperativo Categórico. Segundo Kant, desse modo, a religião seria o meio de justificar a ação não-moral.

A Paixão de Cristo

A paixão de Cristo, dirigida por Mel Gibson, pela FoxVídeo, EUA, 2004, começa com a cena do alto do monte das oliveiras: Jesus, deitado na grama, tem as lágrimas escorrendo de seu rosto revelando a temeridade do inevitável desfecho de sua missão. A paixão relata as últimas doze horas de Jesus Cristo antes da consumação da cruz e enfatiza o sofrimento, a dor e a humilhação aos quais o Messias é submetido, depois de uma condenação injustiça e sem acusações reais de sua sentença.

O espetáculo da cruz seria também um nome bem apropriado para esta obra cinematográfica que nos permite ver de forma real a absurda violência que ele sofreu; a humilhação e o escárnio dos quais Cristo foi vítima; e ao mesmo tempo a serenidade e aceitação expressas em seu rosto. Sua face resplandece de compaixão diante daqueles que o traíram, como também desses que agora o torturam, caluniam e flagelam.

Ele é chicoteado, coroado com espinhos e forçosamente carrega o peso de uma cruz sobre os ombros. Ao mesmo tempo, caminha relembrando os amigos e discípulos, recorda a alegria de infância, da Santa Ceia, de Maria (sua mãe) e Madalena. Fez-se um escravo, colocando-se como o último dos homens e, mesmo sabendo ser Deus, assume a crucificação.

Os pregos perfuravam suas mãos, enquanto, suspenso na cruz, suportava o peso de seu próprio corpo, porém sua alma permanece límpida de amor e ele ora por aqueles que o condenam. A mais pura e genuína transdescendência, impensável na concepção grega que jamais aceitaria um Deus escolhendo a condição humana de um escravo para estar na terra.

A última tentação de Cristo

Do livro de Wikos Kazantaski, A última tentação de Cristo, dirigido pelo diretor Martin Scorsese, pela Universal Pictures, EUA, no ano de 1998, contextualiza a dualidade de Jesus Cristo, o combate entre a face humana e a face divina que habitam em seu ser.

A obra busca explicitar e conduzir-nos a compreensão das possíveis tentações que visitavam seu coração e as adversidades terrenas que ele sentiu e viveu. Na concepção ocidental do cristianismo católico, a expressão verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que são inseridas na pessoa do Cristo, demonstram sua imensa proximidade para com a verdade de Deus.

A grandiosidade espiritual de Jesus é testada no deserto, que é sua pátria por excelência. Ali ele se encontra com suas aflições, medos, incertezas, ou seja, com os demônios que lhe provam por meio de tentações. Estas residem nas paixões, nos desejos, no orgulho e na vaidade que assolam e escurecem o espírito da sabedoria.

Do flagelo à crucificação, da crucificação à última tentação, o paralelo que acena para um novo caminho, conduzido por um anjo com rosto de menina, revela a Jesus uma possível mudança de rota. Num mundo surreal, ele experimenta de forma concreta a paixão por Madalena e posteriormente a angústia da perda, a descendência numerosa que tem com Maria e a temporalidade da vida que caminha para a morte. E, por fim, ele se encontra com seus discípulos que lhe externam desesperança e decepção, aliada à fúria de Judas por ter sido Jesus quem lhe ordenara traí-lo.

O anjo, na verdade, era o demônio que lhe arrancou da cruz como um sonho, para o caminho de um simples homem que ele desejava que o Messias se tornasse. Porém Jesus é Deus, ele vence sua última tentação e desperta para pronunciar a fidelidade e o comprimento de sua missão nas palavras: tudo está consumado. Isso nos leva a perceber que o enigma chamado Jesus Cristo está longe de ser decifrado, devido a nossas categorias de pensamento serem humanas e, por assim dizer, distantes da compreensão celestial e mistagogica de Deus.