sábado, 29 de março de 2008

Egoísmo: bem ou mal?




Vídeo produzido pelo grupo do 3º ano de Filosofia da PUCPR (2008) baseado no artigo de Jair Barbosa "Mau radical e terapia em Schopenhauer", do livro "Filósofos e terapeutas - em torno da questão da cura", organizado por Daniel Omar Perez.

sexta-feira, 28 de março de 2008

AGUARDEM... EM BREVE: JOVEM: BUSCA E CUIDADO DE SI

O grupo do 3º período do curso de filosofia da PUCPR, Devir Produções, estará, em breve, produzindo um vídeo acerca da busca e do cuidado de si numa perspectiva da juventude de hoje. Destinado ao público do ensino médio, ele iniciará com uma introdução contextualizando o tema, na qual será feito um breve debate com alguns adolescentes sobre o que eles pensam da importância do autoconhecimento e do cuidado de si. Em seguida, o vídeo tentará expor algumas idéias de filósofos sobre o mesmo assunto baseadas em artigos do livro publicado pela Editora Escuta (2007), Filósofos e terapeutas: em torno da questão da cura, organizado por Daniel Omar Perez. Serão selecionadas, ainda, algumas músicas para animar o vídeo, que contará, ainda, com um caderno didático de atividades, contendo, aproximadamente, a mesma estrutura do vídeo e servirá de complemento deste. Constituir-se-á de uma introdução e de quatro artigos referentes aos sub-temas apresentados no audiovisual, com exercícios de fixação ao final de cada um deles e algumas fotos ilustrando o(s) tema(s).

A publicação do material está previsto para o dia 31 de maio, na PUCPR, juntamente com outras produtoras que também estão elaborando semelhante trabalho de pesquisa em variados focos filosóficos. Não perca!

Devir Produções

Antonio Macedo

Charles Fernando

Edimar Moreira

Izaquiel Melo

Tiago Evaristo

Comentário sobre a introdução do livro “Filósofos e terapeutas: em torno da questão da cura”.


Antônio Macedo

Charles F. Gomes

Edmar Moreira

Izaquiel Melo

Tiago Evaristo

A introdução do livro Filósofos e terapeutas: em torno da questão da cura, publicado pela editora Escuta, São Paulo, 2007, escrita por Daniel Perez, organizador da obra, doutor em Filosofia pela UNICAMP e professor da PUCPR, aborda como tema o tratamento que alguns pensadores deram à questão da cura ao longo da história da Filosofia.

Para tal propósito o autor se vale de alguns filósofos, tais como: Pitágoras, e sua seita, Diógenes, Fílon de Alexandria, Rousseau, dentre outros. O objetivo do professor é expor que, em vinte e cinco séculos de pensamento crítico, a busca de uma medicina do corpo e da alma não cessou de acontecer.

Comprovando isto, Perez apresenta os seguintes argumentos, utilizando-se dos pensadores citados acima: no primeiro destaca-se um silêncio profundo que visava à temperança, o controle dos desejos, a purificação espiritual, etc. No segundo, e também nos cínicos em geral, optava-se em viver sem artifícios, uma vez que pensavam que a origem das doenças estava no distanciamento do homem da natureza e a cura consistia na volta dele para ela. O autor trás à tona, também, Fílon de Alexandria, que ponderava que a cura do corpo e da psique estava no encontro com Deus no deserto e na renúncia às coisas tidas como mundanas.

Na modernidade o organizador do livro trás à luz, alguns fragmentos de Rousseau que via na distância entre o ser humano e a natureza a origem das enfermidades. Este filósofo, segundo Perez, dava ênfase ao ideal socrático: “conhece-te a ti mesmo”, porque se conhecendo o homem estaria em um estado de natureza no qual seria desnecessário o uso de remédios e o auxílio dos médicos.

Por fim, é possível perceber que o autor procura defender a tese de que a filosofia contribuiu na busca da cura ou, no mínimo, na diminuição das dores que tanto afligem os homens e que essa foi uma preocupação que nunca se ausentou das obras dos pensadores clássicos.

domingo, 16 de março de 2008

Filósofos e Terapeutas

Uma resenha da introdução do livro "Filósofos e Terapeutas"

O professor e doutor Daniel Omar Perez apresenta nesta obra, a história da terapia no Ocidente nos apresenta 2500 anos de busca por uma medicina do corpo e da alma que não cessou. O propósito dos primeiros pensadores gregos na tentativa de se recriar como figuras singulares, como metáforas de modo de vida, de expressões, de conceitos ou energias que se realizavam através de exercícios, gestos, costumes, discursos, maneiras de se posicionar, formas de sentir prazer, gozo ou necessidade. É neste encontro com os exemplos que não são modelos, senão exceções, que não são sínteses, senão que surgiram do irremediável, que aqueles primeiros pensadores se transformaram em terapeutas de si mesmos.

Estes tiveram que experimentar seus próprios antídotos, talvez como veneno, em doses regulares, ou seja, correr o risco na própria pele. Foram desbravadores do infinito enigma do ser, iniciaram na radicalidade da medicina, arriscando um mergulho profundo no intuito de desvendar o ser e ousadamente tentar curá-lo. Tamanha pretensão diante do homem, um ser incurável que sofre de um mal que é a sua grandeza, que não está blindado mas aberto à totalidade do universo que ele pertence.

Eles usavam algumas reariantes que desenhavam o aceno do matemático, a luminosidade do artista, a leveza do santo, a inevitabilidade do guerreiro, o masculino, o feminino, o neutro, o transfigurado, o multifaceto, o profano, o perverso e o sagrado. Seu valor estava em suas próprias inspirações, esta que caminha unida às marcas da diferença.

A obra se destaca em apontar os diversos registros de uso das mais variadas medicinas contra a depressão, angústia, impotência, a busca do prazer, a felicidade, o autocontrole, enfim, para evitar todas as formas da dor ou ajudar a suportar o sofrimento de sua finitude. Esta busca medicinal dos antigos se assemelha em parte com o homem contemporâneo, que não deseja sentir dor, sofrer ou se angustiar, quer adiar e até evitar a morte, esta que é inevitável. Estamos no tempo do ideal, o homem perfeito aos padrões globais, uma imagem que lhe escraviza provocando uma corrida desenfreada ao perfeccionismo e ao idealismo humano.

O filósofo já foi revolucionário como Sartre, contemplativo como Agostinho, conservador como Heidegger, profético como Karl Marx, iconoclasta como Nietzsche, pedagogo terapeuta como Pitágoras, libertador e autêntico como Diógenes ou amigos de uma vida simples e sem perturbação da alma como os epicuristas.

A filosofia terapêutica esteve presente nas comunidades cristãs e judaicas, aqueles que viviam e curavam no deserto, na contemplação e no total desapego. Em toda história da filosofia, o método da cura que cuida do homem e de suas doenças físicas e espirituais, era pauta das principais discussões. O anseio de um bem que dê serenidade plena, instigava médicos, charlatões e feiticeiros ocasionando uma guerra das terapias, com intuito de uma demarcação científica.

Esta preocupação em torno da cura está muito longe de terminar, nunca deixará de aparecer na obra dos filósofos clássicos. O pensamento e a idéia é sempre inovador, provoca e instiga uma análise constante do pensador que a recebeu e doou para a humanidade, os filósofos são visitantes de almas e terapeutas por excelência.

Somos muitos em um, somos o uno em múltiplos, somos a finitude em infinitude, o homem tem apetite de eternidade e deseja viver sempre. A filosofia é terapêutica, ajuda a abrandar o ser desejoso que é o homem, não pretende curá-lo e sim conduzi-lo ao encontro da cura interior e despertar-lhe a luz salvadora, esta que habita em seu ser.

sexta-feira, 14 de março de 2008

A esperança: luz da vida



Uma resenha do filme Filhos da Esperança, dirigido por
Alfonso Cuarón, EUA, 2006.


Estamos em 2027 e a humanidade está aparentemente sem vida. 90% é a porcentagem de infertilidade que agora assola o mundo. As mulheres não conseguem mais produzir bebês, e a ciência busca incansavelmente a cura deste mal que parece incurável. O mais jovem habitante tem 18 anos de idade. As religiões se manifestam: dizem que Deus está castigando os homens devido aos anos de crimes cometidos contra a vida e buscas contraceptivas para evitar bebês.

Os meios de comunicação informam que evitar exames de infertilidade é crime. Neste contexto em que vive a sociedade, o filme retrata de forma espantosa a degradante posição que chega o homem: a falta de sentido e a desesperança embrutecem-os levando a se digladiarem.

A esperança, que até então havia morrido completamente, agora se encontra no ventre de uma jovem negra, imigrante refugiada que está escondida numa fazenda. Théo (um ex-ativista) será o protetor da jovem grávida. Em seus olhos, o espanto e o encantamento tomaram conta diante do milagre que se fazia presente em sua frente.

Durante a fuga, quando estavam dentro de um ônibus, rompe-se a bolsa da jovem. Enquanto isso, segue-se a cena de maus tratos sofridos pelos refugiados que são presos pela polícia. Trata-se de um contraste entre a vida que está prestes a nascer e as vidas que estão sendo massacradas e humilhadas. A criança nasce em um apartamento velho, totalmente escuro e sujo, e sua vida será ameaçada em diversos momentos neste conflito. Uma revolução armada, tiros para todos os lados. Em determinado momento da fuga, os soldados vêem o bebê e se espantam diante deste milagre. Cessar fogo – grita um deles, enquanto os outros vão abaixando as armas diante da pequena menina que, por alguns instantes, silencia uma revolução: a vida faz calar a guerra.

Eles chegam até um pequeno barco e seguem remando até o navio “Tomorrow” (amanhã). Théo está ferido e, por isso, pede que ela siga em frente independente do que acontecer. Ele deu sua vida para a proteção deste milagre, desta luz que se acende em forma de esperança. O filme, mesmo sendo futurista, nos leva a refletir sobre o presente, pois, afinal de contas, é sempre a vida que está em jogo.

Um sonho chamado Roma


Uma resenha do filme Gladiador, dirigido por Ridley Scott, EUA, 2000 configurada com a obra AURÉLIO.Marco "Meditações".

No apogeu de seu poder, o império romano era vasto, estendia-se dos desertos da África às fronteiras do norte da Inglaterra. Um quarto da população mundial vivia e morria sobre a lei e o domínio dos césares. No inverno do ano 180 d.C., a campanha de doze anos do imperador Marco Aurélio contra as tribos germânicas estava chegando ao fim, estabelecendo um tempo de paz e esperança.

Marco Aurélio está debilitado há dez anos e começa a sentir a morte se aproximar. Seu filho Cômodo aguarda o momento de, sucedendo o imperador, assumir o poder. Porém sua vontade não é a mesma do pai que vislumbra um novo destino para Roma: uma república democrática no lugar do Império, de modo a acabar com as guerras que provocam o derramamento de sangue de seus soldados. Chega de Política... Eu estou morrendo, Máximus, e quando um homem está morrendo ele quer saber se havia algum propósito em sua vida, afirma o imperador a seu general, pois está preocupado como será lembrado no futuro: como um filósofo, um guerreiro, um tirano ou um imperador que devolveu a verdadeira alma a Roma?

Nesta obra cinematográfica, Cômodos mata seu pai asfixiado sobre seu peito – porém esse fato não é comprovado historicamente. O poder fica em suas mãos, e de imediato ele a Máximus que o obedeça, contudo esse último o desaprova. Essa atitude lhe acarreta terríveis conseqüências: sua família é brutalmente assassinada, e ele é levado como um escravo para Zucchabar – Província de Roma, sendo comprado por um comerciante que o tornará um gladiador.

Neste período, a política do “pão e circo” tem sua ascensão com o jovem imperador. Ele a adota como forma de conquistar a aceitação plena do povo e se fortalecer para depois extinguir o senado, que lhe desagrada ao desaprovar seu governo. Cômodos quer chegar ao coração do povo romano pela arena do Coliseu, dando-lhe confrontos mortais entre gladiadores como diversão. A autoridade lhe é confrontada no próprio Coliseu: Máximus, que fora general de seu pai, agora é o gladiador que o desafia.

Cômodos aceita o desafio, mas inicia de forma desleal ferindo Máximus que estava amarrado. Porém o destino não lhe proporciona sorte e ele é derrotado. O povo que gritava com o espetáculo agora silencia, e Máximus, que também está morrendo, antes de cair pede: liberte os prisioneiros, dê o comando ao senador Drakus. Era uma vez um sonho chamado Roma. Esse foi o desejo que Marco Aurélio expressou a Máximus, e ele relembra-o em seu último momento sobre a arena do Coliseu.

No filme Gladiador, a paz, que só é selada pela dor que a precede, é um marco deste tempo em que homens se tornam deuses tanto nos combates como na história.

Antígona


Uma resenha da peça Antígona, escrita por Sófocles (497 a.C.)

Encontramos nesta belíssima obra de Sófocles a arrogância de um rei irredutível em suas ordens decretadas; o protesto político de uma jovem que, em seu discurso, declara sua insatisfação e a dos cidadãos contra as normas impostas pelo monarca; e o destino trágico que se encontrará com eles no desenrolar dos fatos e do tempo.

Creontes, rei de Tebas, decreta uma lei que proíbe enterrar os mortos que atentaram contra a lei da cidade. Tamanha é ofensa para o morto e sua família, pois a alma não faria a transição adequada ao mundo dos mortos. Antígona, mesmo desobedecendo à ordem do rei, enterra seu irmão (Polinices) que fora morto na guerra defendendo o inimigo, e, por isso, enfrentará suas terríveis conseqüências: a sentença de morte. Hemon, seu noivo e filho do rei, enfrentará o pai em favor de Antígona, será repreendido severamente e levará seu pai à ira, terminando sem êxito.
Tirésias, um sábio, revela ao rei a desgraça que ele sentenciou a si próprio e a seu reino com sua ordem desmedida de não enterrar devidamente os mortos. Após as revelações de Tirésias, o rei recebe a mensagem da morte de Hemon, que se matara devido ao desgosto pela morte de sua noiva. Logo um segundo golpe: Eurídice, sua esposa, amargurada com a morte de Hemon, também se mata. Creonte experimenta o sabor amargo que seus atos lhe proporcionaram; culpa aos deuses que o amaldiçoaram; mas nenhuma de suas pragas lhe dará a vida de volta, esta que ele perdera com a morte de sua família por sua própria culpa.

O poder utilizado de forma petulante e inconsciente pode escravizar. A Creontes fora cobrado até a vida que agora lhe é uma prisão, um inferno enquanto a morte não lhe chega. O peso da culpa agora é seu guia, pois ele a assume inteiramente para si, sem projetá-la nos deuses. Nesta obra avaliamos de forma positiva a valentia como a armadura da pequena (Antígona) que se torna grande e forte. E de forma negativa: o medo do rei em ser desobedecido e perder o poder lhe veda o olhar para a razão. E finalmente percebemos o peso e o valor das palavras que, proferidas de forma irresponsável, podem comprometer vidas e desgraçar-lhes o destino.

Édipo


Uma resenha da peça "Édipo rei", escrita por Sófocles (497 a.C.)


Sófocles, autor clássico da Grécia antiga, ilustra nesta obra o medo, o ódio e o espanto do homem diante do avassalador destino que o acompanha. Édipo, príncipe de Corinto, é filho ilegítimo do rei Políbios. Ao descobrir que não possui laços biológicos com seu pai, ele se perturba e procura o oráculo de Píton (conhecido como Delfos). O oráculo lhe revela o triste destino que lhe aguarda: será ele o responsável pelo assassinato de seu pai e depois desposará sua legítima mãe.
Estupefato com a revelação do oráculo sobre seu trágico destino, Édipo foge de Corinto para Tebas. Em uma encruzilhada ele se depara com uma carruagem. À frente se aproxima um arauto que rudemente o empurra com o objetivo de afastá-lo fora da estrada; a atitude do arauto irrita profundamente Édipo, e com tamanha iracunda mata o arauto e a todos que estavam na carruagem, dentre eles seu pai Laios, rei de Tebas.

Édipo acabara de abraçar o inevitável destino. No passado, o rei Laios fora advertido por Apolo que seu próprio filho iria matá-lo e tomar seu reino. Diante da advertência, ele mandou atar e depois perfurar os pés da criança com um prego e abandoná-la no monte Citéron, porém um pastor a encontrou e, socorrendo-a, levou ao rei Políbios que a adotou. Quando decifrou o enigma da Esfinge (monstro que devorava os cidadãos de Tebas), torna-se rei desta cidade e, conseqüentemente, toma por esposa a bela viúva de Laios, sua verdadeira mãe, Jocasta.

Agora ele é rei de Tebas, adorado e respeitado por todos. Porém uma peste chega à referida cidade, e o rei quer saber o porquê da fúria dos deuses, consultando Tirésias para tomar conhecimento do responsável e bani-lo da cidade. Édipo descobre ser ele o próprio responsável, toma ciência de toda verdade que assombra seu passado ao descobrir que casou com sua própria mãe e fora ele o assassino de seu pai. Tamanha desgraça lhe traspassa o coração e a alma, e ele aplica a si mesmo sua punição furando os olhos com um broche do vestido de Jocasta. Neste gesto ele revela o desejo de não ver a infelicidade que lhe rodeava.

Édipo foge da cidade, quer distância do palácio, do reino e de tudo que lhe relembre o motivo de tamanha dor, desespera-se diante das lembranças e da culpa que carrega em sua consciência. Ele necessita se exilar, deseja fugir da realidade. Agora ele está morrendo por dentro e perambula pela vida.

O ato de furar os olhos é o retorno do olhar para dentro de si mesmo, o anseio de Édipo em redescobrir seu caminho e não se deixar enganar pelo exterior que é apurado apenas pelos sentidos. Pela dor ele descobre-se e mergulha em si mesmo.

quinta-feira, 13 de março de 2008

O nascimento da filosofia (Dissertação)





Na Grécia antiga, a discussão sobre o problema da origem da filosofia se concentrará particularmente nas relações da ciência e da filosofia helênica com a anterior sabedoria oriental. As grandes civilizações orientais exerceram influxos sobre a cultura helênica em vários campos, da técnica e da arte aos mitos e às idéias religiosas.

Com os babilônicos, os gregos aprenderam o uso do quadrante solar, o gnômon e as doze partes do dia (Heródoto, II, 109). Começaram a pesquisar nos campos científicos, intelectuais, matemáticos e astronômicos. Inicia-se o processo de nomear os elementos do universo: como a parte de cima “céu” e a parte de baixo “terra”. O maravilhar-se sempre foi, antes como agora, a causa pela qual os homens começaram a filosofar, pois seu espanto e encantamento pelas coisas mais simples os faziam interrogar-se.

Os antiqüíssimos, podemos dizer, os primeiros teólogos transmitiram a nós que os astros são deuses e que o divino abrange toda a natureza. Tales, a respeito da natureza, apresenta a água como princípio de todas as coisas.

Em Heráclito o fogo é a arché, o constante movimento, enquanto para Parmênides o princípio é o ser imóvel. Ambos estão entre os pré-socráticos e, mais precisamente, entre os naturalistas, que investigavam os seres vivos, o céu, as estrelas, etc. Foram os primeiros filósofos, teólogos, cosmólogos e astrólogos dos quais apenas conhecemos alguns fragmentos. A terra, e tudo que nela encerra, era motivo de inúmeras investigações e pesquisas. Tais buscas, mesmo não compreendidas em sua totalidade, se tornavam grandiosos pensamentos, poemas e castelos de idéias especulativas que poderiam, mesmo de forma mítica, responder às angústias mais profundas pela falta de respostas.

Com Sócrates, a filosofia parte da contemplação para o logos, o discurso racional que habita na polis, ou seja, na república do homem ateniense que anseia pela justiça e virtude e caminha em direção à verdade. Platão é o dialético da filosofia: a sabedoria salvará o homem que está aprisionado na caverna. Com Aristóteles e a metafísica, surge a idéia de um motor imóvel que mantém o equilíbrio de todo universo. Ainda podemos citar Diógenes, que compreende a filosofia como sendo anárquica e tendo por dever proporcionar ao homem plena liberdade. Ou ainda Epicuro, que traduz a filosofia como um estado de plena serenidade e paz interior, em que nada pode pertubar o homem sábio.

Dentre os medievais, que tem como gênese filosófica a teologia cristã, destacam-se Agostinho e Tomás de Aquino como defensores da filosofia que racionalmente explica Deus e leva o homem às virtudes eternas. Os modernos destacam-se pela sua filosofia antropológica e iluminista. Já os contemporâneos, por meio da filosofia da linguagem, dissolvem tanto as filosofias metafísicas que tratam do ser ou de Deus, quanto as filosofias antropológicas e os enormes projetos da razão.

Agora nos perguntamos: Como nasceu a filosofia? Certamente pode ter nascido nos poemas de Homero, nos mitos de Sófocles, na contemplação dos naturalistas, no logos de Sócrates, na metafísica aristotélica, enfim: a filosofia nasce a cada momento que um ser pensa no universo, pensa no ser em si e para si, como dizia Sartre.

REFERÊNCIA

MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: história da filosofia Greco- romana I. São Paulo. Editora Mestre Jou, 1964.

A saga de Ulisses


Uma resenha do filme A Odisséia, dirigido por Andrei Konchalovsky, EUA, 1997.


Penélope, mulher de Odisseu, rei de Ítaca, dá à luz um menino que se chamará Telémacos. Nesta mesma época, Grécia e Tróia estão em guerra, e os reis Menerlau e Agamenon convocam Odisseu (Ulisses) para lutar contra os troianos.

Com a vitória dos gregos, a vaidade e o orgulho tomam conta de Odisseu: ele irá afirmar que foi o grande e único responsável pela vitória dos gregos, desmerecendo os deuses, o que provocará a fúria de Poseidon, “deus dos oceanos”. Navegando de volta para sua terra e para os braços de sua esposa, encontrará diversos obstáculos para chegar, desde tempestades até ciclopes, deuses e deusas que dificultarão seu regresso a Ítaca. Enquanto todo este percurso acontece, em sua cidade, Penélope sofre com as investidas dos homens que desejam tomar a sua mão para ficar com trono. Telémacos, após longas discussões, pede um barco para procurar seu pai.

O encontro com seu filho é um momento de grandiosa importância. Inicialmente Telémacos não reconhece o pai, mas depois encontrará semelhança em sua face e, desde então, procurará ajudar a reconquistar seu reino. Tomarei o meu mundo de volta, afirma Odisseu. Com a ajuda da deusa Atena e de seu filho, ele eliminará todos os rivais de seu reino, retornará ao trono e receberá sua mulher novamente em seus braços.

Odisseu retrata a imagem soberana de um homem que, em sua soberba e coragem, desafia até os deuses. Após um exílio de dezesseis anos percorrendo mares e ilhas, encontra-se consigo mesmo e, por isso, reencontra sua família e seu reino.

domingo, 9 de março de 2008

A batalha da glória


Uma resenha do filme Tróia, dirigido por Wolfgang Peterson, EUA, 2004.


O filme mostra a lendária guerra ocorrida entre gregos e troianos. Na trama, amor e ambição foram dois fortes motivadores para o início das divergências. Após se apaixonar por Helena, rainha espartana e esposa de Menerlau, e sentir reciprocidade neste sentimento, Paris, príncipe troiano, leva-a consigo. Essa atitude enfurece o esposo da rainha, levando-o a se aliar ao seu irmão Agamenon, rei de Micenas, na investida contra Tróia.

O personagem principal da trama, Aquiles, resplandece aos olhos dos soldados gregos, porém enfurece Agamenon que o considera um guerreiro sem lealdade e pretensioso. De fato, Aquiles se preocupava apenas com sua glória nas batalhas e a eternidade de seu nome. Os deuses nos invejam porque somos mortais, dizia Aquiles a Briseida, sacerdotisa de Apolo e sobrinha do rei de Tróia, Príamus.

Seu combate mais importante foi com o príncipe troiano, Heitor. O que originou este combate foi o desejo de vingança, pois Heitor havia assassinado Pátroclo ao se passar por Aquiles, seu primo. Não deixarei que uma pedra me tire à glória. Levante-se príncipe de Tróia, diz Aquiles a Heitor que havia tropeçado, pois preferiu matá-lo no combate com a honra de um guerreiro.

Troianos e gregos protagonizaram uma das maiores batalhas da história, homens são lembrados como semi-deuses e perpassam séculos, porque, apesar de lendários, são exemplos de verdadeiro heroísmo.